terça-feira, 26 de outubro de 2010

Dádiva

Se você não existisse
Alguém tinha que inventar...
E me dar direito de uso
Para eu poder experimentar
As emoções que pensei adormecidas,
No fundo do meu coração perdidas,
No meu livro da vida esquecidas...
Emoções que estão à flor da pele,
Em cada gesto que faço,
Em cada palavra que falo,
Em meu corpo,
Em meu olhar.

Lilia Maria

Uma vez já me disseram que muitas coisas que escrevo só passam a fazer sentido depois de um tempo, dentro de uma nova situação.
Hoje reli algumas coisas perdidas no meu livro Amor Antigo e este trecho de um poema chamou minha atenção.
Estou feliz...

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Tão jovem e tão caduca...

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amiga do rei...
E das rainhas...
E dos valetes...
Das copas e espadas.
Bendito é o reino dos coringas
Que me mandam parar de sonhar.
Bendito é o fruto que vou colhendo,
Mas nem sei se vou saborear...
Acorda Cinderela!
Branca de Neve já soltou as suas tranças,
E a Rapunzel achou o sapatinho de cristal
Que a Aurora escondeu do Feliz...
Tudo porque o Príncipe Encantado
Foi chamado a entrar na história
Sem ter nenhuma explicação.

Lilia Maria

Completamente desnecessário dizer quanto minha cabeça anda confusa... O que faz a gente jogar pedrinhas no lago quando a água parou de fazer marolas?
Sabe quando a gente é criança que o pai diz - Não põe o dedinho na tomada. dá choque... E a gente vai, coloca, e leva um baita susto com o que acontece mesmo sabendo o que vai acontecer?
O perigo muitas vezes seduz...

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Volver a los 11, 12, 13...

Volver a los diecisiete después de vivir un siglo
Es como descifrar signos sin ser sabio competente,
Volver a ser de repente tan frágil como un segundo
Volver a sentir profundo como un niño frente a dios

Hoje esta música não me saiu da cabeça. Mas não sei se voltei só aos 17. Creio que andei voltado aos 11, 12, 13...
Boas lembranças, tempos felizes, tempos em que tudo parecia meio cinza, mas que hoje, entrando no outono da vida, parece que aqueles tempos foram mágicos, coloridos, vibrantes... Mesmo alguns acontecimentos que marcaram momentos de pesar e tristeza, hoje são vistos com outros olhos. Não ganharam leveza, mas não têm mais o mesmo peso.
Que bom que é olhar estes tempos através dos olhos de quem estava lá. Que bom é olhar estes tempos e perceber que fizemos parte uns das histórias dos outros e fizemos toda diferença. Que bom é hoje poder ser chamada de amiga. Que bom é hoje chamar alguém de amigo.
Que bom que nós existimos!

Lilia Maria

Um beijo grande para o meu mais novo velho amigo.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Gênese de um poema – “In-disciplina”

Rogério Santos foi meu aluno numa das primeiras turmas para as quais lecionei matemática. Quando começaram a se multiplicar as redes sociais acabamos nos reencontrando. Cantor, poeta e letrista, vivo encantada com tudo que ele compõe e sempre que posso assisto suas apresentações. Creio que sou a mais idosa das suas tietes. Hoje acabamos fazendo uma bela parceria. Talvez a idéia toda deva ser mais amadurecida antes de virar uma canção multidisciplinar.
O processo de criação foi muito interessante. Ele postou um poema no Facebook. Eu gostei muito e escrevi que devia ser coisa de um geógrafo apaixonado. Escrevi em seguida uma réplica substituindo coisas da geografia por coisas da matemática. Ele juntou tudo, discutimos uma mudança aqui, outra ali, e saiu o poema a quatro mãos que um dia ele pretende que vire uma canção:

In-disciplina

ROGERIO SANTOS & LILIA MARIA FACCIO
o amor é altiplano
quando a vida é cordilheira
quando a paixão serpenteia
desejo e desfiladeiro

o tesão é um desafio
primeira ponta de fio
da novela e do novelo
fecunda lição de alpinista

e não há carta ou cartilha
que oriente um caminho
vai nos olhos de quem ama
GPS e fagulha de chama

O amor é um axioma
quando a vida é um teorema,
quando a paixão se demonstra
por indução quase infinita.

o tesão é um desafio
de preencher o conjunto vazio
de muitas respostas e facetas
de quem contém ou é contido

Não há processo ou algoritmo
que mostre o melhor caminho
para se chegar ao coração
de quem escreve o problema.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Apredendo a ensinar

Era tanto para aprender
Que nunca me dei conta
Que aprendia a ensinar.
Não como um doutrinador,
Com fala de papagaio
Que não vê o outro lado,
Mas como um professor
Que percebe olhos ansiosos,
Que escuta a fala ingênua,
Que entende a dificuldade,
Que sorri com indulgência,
Mas sabe ser ao mesmo tempo
Severo e gentil,
Claro e sutil,
Mestre e aprendiz.

Lilia Maria

Hoje, no dia do professor, gostaria prestar uma sigela homenagem ao Professor Scipione de Piero Netto. Nada foi tão rico em minha vida como o tempo que trabalhei com ele na Editora. Nem os anos de graduação me ensinaram tanto quanto o que aprendi com ele no dia a dia da construção da série de livros para o ensino fundamental que tive a honra de fazer parte da equipe e da autoria.
Que pena que ele se foi sem que tivéssemos tempo para uma última conversa.
Quero também saudar a todos os outros professores que tive em toda a minha vida e aos meus caros colegas de profissão.
Que Deus abençoe a todos.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Chicão, minha eterna paixão

Sempre gostei muito de música. Quando era pequena, e isso já contei em algum post, deliciava-me ao ver minha mãe tocando harmônica.
Quando eu tinha mais ou menos 7 anos queria aprender a tocar piano. Na casa ao lado da nossa morava uma família de árabes. Ana, a filha mais velha, dava aulas e diversas vezes me perguntou se eu não queria aprender. Meu pai dava um monte de desculpas e sempre ficava para mais tarde.
Quando minha irmã manifestou o desejo de aprender, meu pai achou que era a hora para mim também, mas o meu encanto havia acabado. Até fui, pois alguém tinha que levar a pequena, mas não era mais o que eu queria. Nesta época eu queria aprender a tocar violão.
Apesar de ter uma “violinha” em casa, naquele momento ele achava que eu deveria continuar com o piano, e fim. Em casa era assim. A única que sempre conseguia o que queria era minha irmã. Minha mãe dizia que era mais fácil fazer o que ela queria do que agüentar a amolação. Ela era MUITO insistente. E convincente... Sempre vencia no grito. Mas isso não vem ao caso.
Quando fui estudar na EESC, um dia apareceu um curso de violão como optativo. Amei. Pedi a tal violinha emprestada e fui lá fazer o tal curso ministrado pelo maestro Geraldo Menucci.
A minha violinha foi motivo de muita chacota, a começar pelo fato que, guardada há mais de 15 anos nos armários da minha casa, ela permanecia com as cordas originais de aço e não de nylon como eram usadas então. O som não era ruim, mas de violão a minha violinha tinha muito pouco.
Acabei ganhando um violão igual ao do Pestana, meu namorado da época. Foi um presente de Natal adiantado. Nem é preciso contar que foi comprado por um precinho bastante camarada porque a cor laranja do tampo assustava os compradores. Este detalhe foi motivo de outro tanto de comentários maldosos, claro, mas o meu argumento era perfeito: o meu era único... Enfim... Apaixonei-me pelo meu laranjinha que acabou batizado de Chicão.
O nome tem a ver com a música “Meu refrão” do Chico Buarque:
Quem canta comigo,
Canta o meu refrão
Meu melhor amigo
É meu violão
Ele era (e é) o meu melhor amigo. Era bater tristeza ou alegria que lá estava abraçada com ele. Tocar eu não tocava nada, mas esquecia da vida tentando.
Minha maior dificuldade estava com a pestana... (com o Pestana eu não tinha nenhuma, tanto que continuamos amigos até hoje). Era tentar e o som sair todo desafinado. Virei desafio para a minha última professora. Ela tentava a todo custo me fazer acertar e como não conseguia ficava buscando alternativas para os acordes.
O Chicão trouxe muita música e muita alegria para a minha vida. Por anos fui responsável pelo canto nos cursos de noivos do Colégio São Luiz. Com a minha amiga Eliana Habib, montamos uma missa toda cantada com acompanhamento de violões na E.M. Celso Leite. Ela marcava um trabalho conjunto entra a escola e a paróquia de N. S. Achiropita conta a violência.
Apesar de tudo isso, sempre fui muito tímida e não tocava em público. Sempre havia uma desculpa e lá ia o Chicão para outras mãos... Eu tocava e cantava muito em casa, principalmente quando minhas filhas eram pequenas. Cantamos Vinícius para crianças de A a Z. A porta, A casa, O pato, A pulga, Valsa para uma menininha, e todas as outras faziam a delícia das nossas tardes musicais, mas era chegar alguém e o Chicão virava espectador...
Acho que por uma única vez toquei em público... Foi terrível... Montei um coral com os formandos e um aluno de outra série fazia o acompanhamento. Na hora da festa ele não veio. Aí lá fomos nós, Chicão e eu, para o palco. Sentei na escada, respirei fundo e dei os primeiros acordes da música “O caderno”. Ficou lindo apesar dos meninos se recusarem a cantar a parte da música que diz “Quando surgirem seus primeiros raios de mulher”. Foi uma grande surpresa para os pais ver a professora de matemática fazendo uma coisa que normalmente seria tarefa da professora de artes.
O Chicão passou das minhas mãos para as da minha filha Andrea. Viajou com ela, teve a sua caixa rachada, o braço empenado, deixou de ter acordoamento Augustine, mas continua com seu som lindo. E agora está de volta.
Como “quem canta os males espanta”, ando cantando de novo, mas nada novo, só as músicas velhas que me fazem mergulhar numa alegria que só eu sei.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Música Mística

A clave de sol na partitura
Comanda o caminhar da canção
Nos compassos sem espaços,
Sem pausa,
Sem andamento.

São do-re-mi’s que ficam silentes,
Esperando a vez de se expor
Pelas fusas e semifusas,
Confusas...
No meio da pauta musical.

De repente
O som angelical
De harpas, flautas e violinos,
Inundam o espaço
Em cheias semicolcheias
Que agora têm a voz de comando.

E a música que encanta,
Que faz nascer emoções,
Que envolve a alma
E abranda corações,
Tem a mística tarefa
De virar recordações.

Lilia Maria

O mundo devia ser musical...

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Poetas

Poetas deliram,
Criam a realidade,
Iludem-se,
Flagelam-se.
Mistificam,
Inspiram-se,
Transpiram prazer
De escrever,
De contar,
De romancear.
Transvertem-se em cores,
Entregam-se a amores
Vãos,
Perdidos,
Sofridos.
Sentem,
Pressentem,
Choram
O momento perdido,
A palavra não dita,
O sonho não vivido.
E se escondem
Atrás do verso,
Do sorriso,
Da vida.
E renascem das cinzas,
Buscam emoções,
Acalmam-se,
Põe os pés no chão,
Suspiram,
E começam tudo outra vez.

Lilia Maria

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Quem eu sou?

Sou a gota,
O grão de areia,
O espinho da roseira.

Sou a vogal,
O agá mudo,
O ponto final.

Sou o conto,
A poesia,
A página do jornal.

Sou apenas um pedaço
Que passou despercebido
Pelo crivo do Divino.


Lilia Maria

Quem lê esta poesia logo vai pensar: coitada, está deprimida... Mas analisa comigo: uma gota pode fazer a água do copo entornar, o grão de areia pode incomodar muito dentro de um sapato, o espinho da roseira pode até machucar.
A vogal... O resto, fica por conta do leitor...