segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Calmaria

Quem buscou um velho segredo
Guardado no fundo da minh’alma
Não encontrou nada além de sonhos
Da menina esquecida num canto da sala.
Quem viu a menina com lágrimas nos olhos
Nunca soube por que chorava
Ou por que mesmo sorrindo
O olhar ainda era triste.
Quem viu a tristeza no semblante sereno
Não entendeu as mãos postas em súplica
Como se orasse em penitência
Pelo pecado não cometido.
Nem segredos nem pecados,
Só uma imagem quase apagada,

Do amor que nunca acabou.

Lilia Maria

Escrita a muito tempo, hoje faz sentido...
Acho que faço psicografia ao contrário, escrevo antes o que passa a fazer sentido depois...

sábado, 22 de janeiro de 2011

Sonhando acordada

Quando sonhos se tornam real,
Não se sabe se acordamos para a vida
Ou se a vida é que se tornou sonho.
E ficamos assim...
Embevecidos,
Emudecidos,
Em estado de graça,
Olhando ao redor sem saber o que fazer.
Nada paga o momento...
Basta viver e ser feliz.


Lilia Maria

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Batuque

A palavra
Vira poema
Sem rima,
Nem abaixo
Nem acima,
Mas a cadência
Da escrita
Parece música.
Só falta
Batuque.
Tuqui, tuqui...
E sair a cantar.

Lilia Maria

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Classificados

Doa-se amor
A quem queira recebê-lo de bom grado,
A quem possa usá-lo com generosidade,
A quem possa guardá-lo com carinho,
E não questione a sua origem.

Troca-se beijos,
Abraços apertados,
Afagos e cafunés
Por outro tipo de carinho qualquer.
Aceita-se devolução.

Procura-se um coração.
Não precisa ser de primeira mão,
Nem precisa estar vazio,
Mas que tenha um cantinho certinho
Para abrigar um outro coração.

Lilia Maria

Se você tem alguma coisa para anunciar, esteja à vontade...

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Um conto de fadas

O que os olhos não vêem

Ruth Rocha

Havia uma vez um rei
num reino muito distante,
que vivia em seu palácio
com toda a corte reinante.
Reinar pra ele era fácil,
ele gostava bastante.
Mas um dia, coisa estranha!
Como foi que aconteceu?
Com tristeza do seu povo
nosso rei adoeceu.
De uma doença esquisita,
toda gente, muito aflita,
de repente percebeu...
Pessoas grandes e fortes
o rei enxergava bem.
Mas se fossem pequeninas,
e se falassem baixinho,
o rei não via ninguém.
Por isso, seus funcionários
tinham de ser escolhidos
entre os grandes e falantes,
sempre muito bem nutridos.
Que tivessem muita força,
e que fossem bem nascidos.
E assim, quem fosse pequeno,
da voz fraca, mal vestido,
não conseguia ser visto.
E nunca, nunca era ouvido.
O rei não fazia nada
contra tal situação;
pois nem mesmo acreditava
nessa modificação.
E se não via os pequenos
e sua voz não escutava,
por mais que eles reclamassem
o rei nem mesmo notava.
E o pior é que a doença
num instante se espalhou.
Quem vivia junto ao rei
logo a doença pegou.
E os ministros e os soldados,
funcionários e agregados,
toda essa gente cegou.
De uma cegueira terrível,
que até parecia incrível
de um vivente acreditar,
que os mesmos olhos que viam
pessoas grandes e fortes,
as pessoas pequeninas
não podiam enxergar.
E se, no meio do povo,
nascia algum grandalhão,
era logo convidado
para ser o assistente
de algum grande figurão.
Ou senão, pra ter patente
de tenente ou capitão.
E logo que ele chegava,
no palácio se instalava;
e a doença, bem depressa,
no tal grandalhão pegava.
Todas aquelas pessoas,
com quem ele convivia,
que ele tão bem enxergava,
cuja voz tão bem ouvia,
como num encantamento,
ele agora não tomava
o menor conhecimento...
Seria até engraçado
se não fosse muito triste;
como tanta coisa estranha
que por esse mundo existe.
E o povo foi desprezado,
pouco a pouco, lentamente.
Enquanto que próprio rei
vivia muito contente;
pois o que os olhos não vêem,
nosso coração não sente.
E o povo foi percebendo
que estava sendo esquecido;
que trabalhava bastante,
mas que nunca era atendido;
que por mais que se esforçasse

não era reconhecido.
Cada pessoa do povo
foi chegando á convicção,
que eles mesmos é que tinham
que encontrar a solução
pra terminar a tragédia.
Pois quem monta na garupa
não pega nunca na rédea!
Eles então se juntaram,
Discutiram, pelejaram,
E chegaram à conclusão
Que, se a voz de um era fraca,
Juntando as vozes de todos
Mais parecia um trovão.
E se todos, tão pequenos,
Fizessem pernas de pau,
Então ficariam grandes,
E no palácio real
Seriam logo avistados,
Ouviriam os seus brados,
Seria como um sinal.
E todos juntos, unidos,
fazendo muito alarido
seguiram pra capital.
Agora, todos bem altos
nas suas pernas de pau.
Enquanto isso, nosso rei
continuava contente.
Pois o que os olhos não vêem
nosso coração não sente...
Mas de repente, que coisa
!
Que ruído tão possante!
Uma voz tão alta assim
só pode ser um gigante!
- Vamos olhar na muralha.
- Ai, São Sinfrônio, me valha
neste momento terrível!
Que coisa tão grande é esta
que parece uma floresta?
Mas que multidão incrível!
E os barões e os cavaleiros,
ministros e camareiros,
damas, valetes e o rei
tremiam como geléia,
daquela grande assembléia,
como eu nunca imaginei!
E os grandões, antes tão fortes,
que pareciam suportes
da própria casa real;
agora tinham xiliques
e cheios de tremeliques
fugiam da capital.
O povo estava espantado
pois nunca tinha pensado
em causar tal confusão,
só queriam ser ouvidos,
ser vistos e recebidos
sem maior complicação.
E agora os nobres fugiam,
apavorados corriam
de medo daquela gente.
E o rei corria na frente,
dizendo que desistia
de seus poderes reais.
Se governar era aquilo
ele não queria mais!
Eu vou parar por aqui
a história a que estou contando.
O que se seguiu depois
cada um vá inventando.
Se apareceu novo rei
ou se o povo está mandando,

na verdade não faz mal.
Que todos naquele reino
guardam muito bem guardadas
as suas pernas de pau.
Pois temem que seu governo
possa cegar de repente.
E eles sabem muito bem
que quando os olhos não vêem
nosso coração não sente.

***
Usei muito este texto nas minhas primeiras aulas de Informática sobre o uso de processador de textos.
Além de ser próprio para mostrar algumas facilidades, a historieta gerava muitas polemicas que vinham ao encontro do meu idaeal como educadora: fazer pensar.

Lilia Maria

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Jogando vôlei de olhos vendados

Alguém já pensou em jogar vôlei, ou outro esporte qualquer desta natureza, de olhos vendados? 12 em quadra jogando às cegas é impossível, além da bola acabar perdida, fica difícil os jogadores se movimentarem sem um derrubar o outro. Vamos pensar numa coisa mais fácil...
Imagine duas pessoas tentando bater bola. Um de olhos vendados e o outro não. Melhorou muito... Mas nem tanto...
O que está de olho vendado pode jogar a bola para o outro. Ele não sabe exatamente a direção e a que distância a bola tem que chegar. Mesmo o que irá receber podendo ver, a bola pode ter tanta força e velocidade que ele não consegue pegar, ou ao contrário. Ele pode estar totalmente à esquerda e a bola ser jogada à direita. São inúmeras as possibilidades.
Mesmo que se coloque o comando de voz, ainda assim é muito difícil. Sempre estará faltando enxergar para que o cérebro calcule com certa exatidão a força e a direção a jogar.
Se esta primeira jogada consegue ser feita, e é feita a devolução com precisão, agora quem recebe não vê a bola chegar e fica difícil decidir se a recepção será com toque ou com manchete, pois não se tem idéia se a bola está mais alta ou baixa e nem mesmo a sua velocidade. Devolver a bola neste caso que quase loteria...
Muitas vezes dentro de relacionamentos, podemos estar agindo como se jogássemos vôlei de olhos vendados. A venda pode ser colocada em nossos olhos pelo outro eu nós mesmos que vendamos nossos olhos para não vermos aquilo que não queremos. Perceber que isto está acontecendo já é um bom começo. Tirar a venda e treinar a jogada é altamente gratificante, desde que os dois percebam que nem sempre elas saem perfeitas e que tudo depende de um aprendizado. Chegar ao ponto do jogo correr por muito tempo sem a bola cair é a glória!!!!
É aí que sempre espero chegar, seja com os amigos, os colegas, as filhas, o amor... E tudo é uma questão de confiança...

Lilia Maria

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Para se pensar...

“Não corra atrás das borboletas. Cuide do seu jardim e elas virão até você!”

Outro dia, zanzando pela Internet, vi esta frase escrita em algum mural. Encantadora... Mas cuidado... Se as borboletas chegarem e o jardim deixar de ser cuidado, rapidinho elas tornam a desaparecer... Mais ainda, deixe as borboletas livres para decidir se querem em suas flores pousar. Capturá-las só fará com que elas morram mais depressa. A beleza de ter borboletas no jardim está justamente em seu vôo livre e leve pelo ar.
Liberdade é o bem mais precioso que alguém pode ter e legar aos outros também.
Lilia Maria

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Liberdade?

Sou livre para ir e vir,
Mas caminho projetando os passos
Que não podem passar dos limites
Que descortinam sonhos
Que sempre me acompanharam.

Sou livre para falar e cantar,
Mas penso cada palavra
Nesta canção que hoje é meu hino,
Pois o fundo da minha alma
Para o mundo ainda é segredo
Que vou revelando devagarinho.

Sou livre dentro daquilo que me permitem ser,
Ninguém me obriga a aceitar nada,
Ninguém me diz o que posso fazer.
Sou cativa de amarras soltas,
Será que liberdade é assim?


Lilia Maria

sábado, 1 de janeiro de 2011

Promessa de ano novo

Depois de uma noite não dormida, pego o jornal na soleira da porta e leio o editorial: Desafios da presidente. Vou lendo rapidamente tudo que está escrito sem muito entusiasmo e sem prestar muita atenção. Não entendo de economia, de política industrial, internacional... Nesta altura da minha vida nem sei se quero entender... Estou assonada demais para pensar nessas coisas...
De repente paro no antepenúltimo parágrafo:
“É na educação, contudo, em que pesem as melhorias pregressas, que mais se precisa avançar. O conhecimento é a principal ferramenta de redução de desigualdades. Dados recentes indicam que apenas 43% dos engajados no mercado de trabalho concluíram o ensino médio. E somente 11% têm diploma de nível superior. Cerca de 15% dos jovens de 15 a 17 anos estão fora da escola, que oferecem ensino ruim, como provam as notas de jovens brasileiros em teste internacionais.
A presidente Dilma Rousseff deveria assumir metas como garantia de que antes de 2014 todas as crianças sejam alfabetizadas até a idade de 8 anos. É preciso levar à escola todos os que têm entre 4 e 17 anos e responder à demanda por creches. Cabe ainda ao governo federal liderar movimento de reciclagem do professorado e de melhoria de sua péssima situação salarial.”
Eis a minha dissertação de mestrado... É aqui que ela se torna importante... E aí Dona Lilia Maria!!!???? Que tal parar de sonhar na frente da telinha do seu computador e pegar firme para terminá-la? Qual é o problema???
Não sei responder... Travei... E não é porque fico sonhando com o meu lindo amor quase (im)possível... Estava travada muito antes dele aparecer. Estava travada quando quase abandonei tudo antes da qualificação. Luiz Fernando me reconduziu de volta ao trilho... Estou travada na falta de informações, na perda de mais da metade do trabalho, na minha visão da não novidade dentro daquilo que me propus a fazer...
Estou no ponto de inflexão... Ou a curva desce em direção ao eixo das abscissas ou sobe ao infinito... Ficar estável como uma função constante já estou... Que me perdoem os leigos que possam ler esta postagem... Isto é a boa e velha matemática aflorando em meus poros...
É aqui que me vêm a imagem do Prof. Waldyr Oliva me dizendo há dois anos passados que eu deveria ter feito o mestrado no IME-USP, minha casa de origem...
Mas não adianta chorar o leite derramado. O que está feito, está feito. Tenho apenas que sair dessa inércia. Então a promessa não é de ano novo, é da semana que vem... Tenho que arrumar a casa, a cabeça, a estrada e o coração e acabar finalmente este trabalho seja lá como for...

Lilia Maria