segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Historias do meu pai (II)



Muitas vezes eu não sei dizer o quanto das histórias que o meu pai conta são verdadeiras. Em todo caso...

Século XVIII, Itália, condado de Castiglione. Um jovem nobre estava destinado a ir para o seminário, cumprindo assim a promessa da família. Mas não era o que ele queria.
Bonito, inteligente, “bon vivant”, Vicente (ou Vicenzo como seria seu nome de batismo) resolveu concordar com a família, mas tinha um plano para escapar para sempre da vida religiosa.
Tão logo foi passível, reuniu sua bagagem e o dinheiro que pode e seguiu para abraçar o celibato. Entretanto, no meio do caminho simulou um acidente fatal. Sua família foi avisada, choraram a sua morte e se conformaram com a pouca sorte do filho.
Enquanto isso o nosso jovem foi viver a vida.
Alguns anos se passaram, e ele já sem dinheiro, com saudades da boa vida junto aos pais, resolveu voltar. De novo traçou um plano. Antes de mais nada precisava saber se seria bem recebido.
Sua aparência agora era bastante diferente daquela do quase menino que havia saído se casa. Voltou à sua cidade e não foi reconhecido, então decidiu ir até a casa paterna.
Bateu à porta como se fosse um andarilho a procura de comida e abrigo por uma noite. Sua mãe, mais velha e entristecida pela perda do filho, o recebeu com todo carinho. Durante a refeição, entre uma conversa e outra, contou, com muito pesar, a história do filho. Ela estava emocionada e encantada em poder alimentar um rapaz que tinha mais ou menos a mesma idade que seu filho teria, e toda hora repetia que ele a lembrava de alguém.
Depois da refeição ela ofereceu o quarto do filho para que ele descansasse. Levantou-se para mostrar o caminho ao caminhante e, qual não foi a sua surpresa quando ele lhe disse:
- Eu ainda me lembro do caminho, minha mãe.
Se fosse meu filho acho que levaria uma surra, mas não sei o que aconteceu. Creio que nem meu pai sabe.
Na família a história parece que se repetiu. Um primo do meu pai, neto do Vicente, simulou também a sua morte para sair do julgo do pai, mas isto é uma história que fica para outra vez.

Lilia Maria

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