segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Balanço

Dezembro não pode acabar sem, pelo menos, mais uma postagem. Estou ensaiando há dias para escrever. São tantas coisas... Dezembro é o mês do balanço. Primeiro por conta do meu aniversário, depois pelo final do ano. Enfim, cheguei ao meu qüinquagésimo sétimo aniversário e 2009 está no seu momento final. Foi um ano de muitas mudanças e de grandes emoções.
Dezembro de 2008 terminou com a minha aprovação para a pós-graduação. Apesar desta alegria, foi um final de ano difícil. No dia que saiu a minha aprovação eu estava em São Carlos, na casa do André e da Ju, curtindo a festa de formatura do meu afilhado Lorenzo. Quando telefonei para casa fiquei sabendo que meu pai estava internado por causa de uma crise de diverticulite. Voltei imediatamente para São Paulo. Quase passamos o Natal no hospital. Ele teve alta no dia 24. Em virtude das conseqüências desta crise passei janeiro inteiro no PA do Hospital IGESP. Meu pai tomava um medicamento em duas doses diárias e a aplicação só poderia ser feita em ambiente hospitalar.
Em fevereiro começou a pós-graduação. Eu estava bastante empolgada, mas não foi nada fácil retomar os estudos depois de mais de 30 anos. Apesar de tudo eu me divertia dizendo para os professores que eu tinha mais anos de formada do que eles de idade. Quem pagou para ver se surpreendeu. Muitos admiravam e respeitavam a minha coragem em começar tudo outra vez.
Em março, buscando uma bibliografia para um trabalho descobri o Zezo Cintra na ECA. Foi o reencontro do ano. Quer dizer, para mim foi um reencontro, pois ele não tinha a mínima idéia de quem eu era. Resgatei algumas lembranças perdidas no “buffer de memória”, escrevi belos poemas, busquei manter um relacionamento amigável, mas foi em vão. Em algum momento errei a medida. Claro que na vida atribulada que ele leva não deve ter muito espaço para gente comum como eu, mas com certeza não é só isso. Embora a foto dele esteja aqui no meu mural, no meio dos meus amigos mais queridos, hoje nossos encontros ficam por conta do acaso.
Abril chegou e lá fui eu de novo para o IGESP. Desta vez com a minha mãe. Ela, que já havia quebrado o fêmur esquerdo já alguns anos, desta vez quebrou o direito. Foram dias de internação. Quase perdi o trimestre na Universidade. Internada, ela caducou de vez. Não reconhecia as pessoas e não tinha noção do que estava acontecendo com ela. Foi preciso amarrá-la na cama.
Quando voltamos para casa precisava ter vigília ao lado da cama 24 horas, pois na primeira noite em casa ela aproveitou um momento de distração e foi engatinhando ao banheiro. Quase que tivemos que voltar ao hospital. Por conta da atenção que dispensávamos à mamãe, meu pai ficou carente e eu precisava me desdobrar em 4: filha da Lygia, filha do Breno, estudante da UFABC e dona de casa. Tempos difíceis.
Claro que muita coisa boa aconteceu também. Acrescentei a Drica, a Ana, o Tiago e tantos outros na minha vida. Finalmente o Ramon e eu conseguimos estabelecer um clima de cordialidade entre nós. Conheci o Riva, pena que não conseguimos mais nos ver, mas vamos ver se no próximo ano a gente corrige isso...
Em setembro fui com a Cidinha, a Cris e a Carla para Buenos Aires. Além da viagem ter sido ótima, conhecer a Carla foi muito bom. Hoje ela faz parte do meu grupo de amiga mais chegadas.
No final de outubro “conheci” os irmãos Caruso. Carla, Cris e eu fomos ver um espetáculo deles no auditório Ibirapuera e acabamos a noite na Pandoro com o Chico, a esposa dele e a banda. Uma noite memorável. Pena que o Paulo não foi. Em compensação, quando eu escrevi uma mensagem cumprimentando-os pelo aniversário, foi a Júlia, esposa do Paulo quem fez o agradecimento.
Entre os meus resgates do ano, rever o Claudio D’Ipolitto foi muito, muito bom. Ele foi, sem dúvida nenhuma o meu grande amigo na época do IME. Daquela turma sobrou a Laurinha (minha comadre) e ele (que eu não via desde 1982). Quem sabe em 2010 eu consiga regatar o Mikka... Este eu não vejo desde 1980, mas o carinho e a amizade continuam aqui dentro do meu coração. Também não posso esquecer a Matilde Dias que eu chamo carinhosamente de co-co-orientadora. Nas horas mais difíceis ela tem me ajudado muito! E não é só no que diz respeito aos trabalhos da Universidade. Meu “grilo” Cris também não pode ser esquecido...
Outra pessoa muito querida a ser lembrada é o Rogério Santos, meu ex-aluno poeta-cantor. Finalmente no início do ano fui com a Cris ver uma de suas apresentações no Café Piu Piu. Adoramos!!!! Ele ganhou duas fãs. Vi inúmeros shows dele durante o ano e verei outros tantos enquanto viver...
Dezembro está chegando ao fim e eu estou aqui fazendo um balanço de tudo. Claro que este balanço é muito maior do que aqui escrevo... E que me desculpem os amigos que não foram citados... Acreditem, ninguém foi esquecido...
Uma coisa é certa: quero continuar com tudo aquilo que me fez feliz durante o ano de 2009. Quero acabar o pós-graduação até setembro, quero rever o Riva, tomar outros cafés com o Zezo, ver outros espetáculos dos Caruso com direito a esticadas pós-show. Quero viajar com as “meninas”, quero conhecer a casa do Claudio e da Carla (esposa do Claudio) no Rio, quero voltar a trabalhar...
Que 2009 termine num suspiro e que 2010 nasça para brilhar...

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Tempo de renovação

Hoje, logo cedo, sentei na varanda para tomar um café e respirar o ar fresco da manhã. De repente comecei a prestar atenção nas plantas. Há pouco tempo, olhando para os meus vasos, reparei que a Dama da Noite estava com poucas folhas e muitos galhos mortos. Já a Hortência, apesar de ter muitas folhas novas na base, os galhos mais velhos mantinham tufos de folhas que pareciam doentes. Ambas pareciam entristecidas. Não tive dúvida: peguei a tesoura e podei tudo. Hoje as duas plantas estão renovadas. Novos galhos e novas folhas emprestam a elas um ar saudável e feliz.
Pois então, muitas vezes não percebemos que precisamos podar as folhas e os galhos das nossas vidas para renová-la.
São velhos hábitos adquiridos ao longo do tempo, medos que nos assombram e nos fazem perder o sono na madrugada, coisas velhas que mantemos guardadas e ocupando espaços indevidamente e até pessoas cuja convivência está estagnada que precisamos “podar” para fazer com que novas energias nos levem para frente.
A mensagem que escrevi para os meus amigos no final de 2005 fala disso. Naquele ano eu finalmente estava sepultando os 20 anos de casamento para viver uma nova e fantástica fase da minha vida. Às vezes precisamos “morrer” para renascer com muito mais energia e vigor.

Mensagem

Ano novo,
Novos tempos,
A vida se renova.

Novos sonhos,
Novos projetos,
Novas paixões,
Grandes emoções...

E, se nada for novo...
De novo,
Faça o velho se renovar.
Ponha cores em velhas cores,
Dê lustro,
Espante a poeira,
Dê brilho!

Refaça caminhos,
Olhe por novos ângulos,
Recicle,
Releia,
Modifique regras antigas.
Faça adaptações!
Grandes, médias, pequenas,
Não importa!
O que conta é saborear a vida,
É curtir cada tantinho,
Ardorosamente,
Cuidadosamente,
Apaixonadamente,
Sempre e para sempre...

Lilia Maria
21/12/2005

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Entrando no espírito do Natal

Ontem entrei no espírito de Natal. Montei a árvore, troquei o enfeite da porta por um que veio de Barcelona na bagagem da minha filha Andrea, acertei a ligação das luzes da varanda, achei uma porção de coisinhas que espalhadas pela casa lembram que estamos em clima de festas.
Lembrei que quando montei a minha primeira árvore, a Luciana tinha pouco mais de dois meses. Minha avó Lilia me deu de presente uma caixa enorme, cheia de enfeites muito antigos, feitos de vidro soprado e pintados à mão. Lindos! Minha mãe me deu as luzes. Cada lâmpadazinha tinha um formato diferente. Ficou muito bonita, muito colorida, muito viva.
Na véspera do Natal recebemos algumas visitas, entre elas, Maurízio e Maria Lúcia Cozzi com o filho Marco. O garoto ainda era muito pequeno, loirinho, bonito, parecia um querubim. Creio que ele tinha, na época, dois anos e meio. Ele ficou encantado e, como toda criança, foi logo “olhando com as mãos”. Eu fiquei apavorada. A Lúcia me disse com toda a calma: sossega, ele brinca com os meus enfeites também. Com a minha resposta, creio que ela ficou mais apavorada que eu: os seus enfeites são de plástico, mas estes são de vidro... A espessura do vidro soprado é mínima e corta como uma navalha.
No ano seguinte, quando fui enfeitar a casa para o Natal, lembrando do que havia acontecido no ano anterior, fiz todos os enfeites da árvore com base de papel. Sinos, anjos, estrelas, botas, lanternas, tudo feito de papel dos mais diversos tipos enfeitados com rendas, fitas, sianinhas, entremeios, lantejoulas e por aí vai. Criativo, prático, barato e acima de tudo não oferecia nenhum risco para a minha menininha. Para sorte do Marco e da Lú, aprendi a lição.
Natal, do jeito que é comemorado no Brasil, é uma festa mais para as crianças. Poucos se lembram que o que se comemora é o nascimento de Jesus. Mas, enfim, quem sou eu para lutar contra as idéias dos mais jovens e agnósticos...
Acho que no dia que eu tiver meus netinhos vou fazer tudo de novo. Claro que, hoje em dia, os enfeites são inquebráveis e bonitos, mas nada como usar a criatividade para fazer com carinho coisas originais. E, vou aproveitar também para contar a eles o que significa a noite de Natal.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Feliz Aniverário!

No mundo cibernético que habito
Distância não mais é desculpa
Para não enviar um forte abraço
Ao aniversariante do dia.
Se é um aniversário em dose dupla,
Desdobrado em quase clones reais,
Um simples clique do mouse
Replica um abraço único
Em cópias originais.

É isso!
Feliz aniversário Chico!
Feliz aniversário Paulo!
Continuem brilhando muito (em tempo e intensidade).

Lilia Maria
06/12/2009

Hoje é aniversário dos irmãos Caruso (Paulo e Chico) e o poemeto foi escrito exclusivamente para eles.


sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

O primeiro a gente nunca esquece...

Primeiro beijo, primeiro namorado, primeiro dia de aula, primeiro fora...São tantos primeiros...
Há anos passava um comercial na TV sobre o primeiro sutiã. Era lindo! Quando vi até chorei. Realmente o primeiro sutiã a gente nunca esquece... Principalmente quando ele foi comprado para você esquecer que é mulher. Quando ele tinha dois tamanhos maiores que o seu peito para não “perder” logo. Quando a turma toda está usando um “meia taça” cheio de rendas e fricotes e vocês tem que usar um, igual ao da sua avó... Desculpe-me minha mãe, mas aquilo não foi um presente, foi um castigo.
Eu me lembro que insisti muito para que ela me comprasse um, pois o seio despontando marcava a camiseta nas aulas de Educação Física. Primeiro ela mandou que eu usasse uma regatinha para disfarçar, depois acho que ela percebeu que a regatinha não dava conta. Aí ela chegou com um para ver como ficava. Jesus!!!! Era a coisa mais horrível que alguém poderia me oferecer. Cada lado parecia um funil feito em tecido de algodão. Para dar um pouco de sustentação, cada “funil” era todo prespontado em círculos concêntricos. A finalidade da pecinha não era valorizar a recém adquirida protuberância, símbolo da minha feminilidade, e sim disfarçá-la. Eu percebia que o medo maior dos meus pais (acho que era mais da minha mãe do que do meu pai) era ter que admitir que eu estava me tornando uma mocinha que de repente ia virar uma mulher. Usar algo “sexi” era simplesmente impensável. Para a minha segurança (ou a dela) eu tinha que permanecer assexuada.
Ainda bem que o meu martírio durou pouco. Um dia minha tia me deu de presente dois lindinhos. Claro que não eram Valisere. Acho que nem marca tinham. Eram listradinhos de azul e branco, com bojo, meia taça, não deixavam o peito pontudo como se fosse perfurar a camiseta... nossa! Eram tudo de bom.
Pois é... O primeiro eu não esqueci, mas o que valeu mesmo foram todos os outros.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Contagem regressiva

“Faltam 20 dias para o seu aniversário” – este era o assunto de um dos e-mails que estavam na minha caixa postal hoje. Claro que o primeiro pensamento foi para o passado recente. Minha filha caçula, desde pequena, todos os anos promove uma contagem regressiva na época do seu aniversário. Ao contrário de muita gente que esconde e que se esconde, ela divulga, torna público e ai daquele que ousar não falar feliz aniversário para ela...
A primeira contagem regressiva que eu curti na vida não tinha absolutamente nada a ver comigo, aliás, nada a ver com ninguém próximo também, mas achei o máximo quando apareceu no alto do bloco E1 (prédio central do Campus de São Carlos da USP) uma tabela que mudava todo dia contando os dias faltantes para a formatura. Claro que tudo era muito comemorado com muita festa. Hoje fico pensando como deveria pulsar o coração dos colegas na última semana...
Eu gostei tanto da idéia que em 1981 institui a minha primeira contagem regressiva. Não tinha tabela nem divulgação. Estava na minha agenda mesmo. Era a contagem regressiva para o meu casamento. Claro que tinha a ansiedade de toda noiva, mas na verdade ela foi muito útil para estabelecer prazos e atividades. Creio que esta ninguém viu, nem mesmo o noivo. Acho que ela deva ter ido para o lixo na época da minha separação.
Enfim, vamos lá... Contagem regressiva... Provavelmente neste ano não haverá a tradicional “festa da virada” (reunião das “Luluzinhas” na noite de 12 de dezembro) nem o jantar com minhas filhas no dia, mas esperarei novamente o abraço de todas as pessoas que são importantes para mim.

domingo, 15 de novembro de 2009

Pátria amada Brasil

Sou da época que milhões de brasileiros trocaram suas alianças de ouro por outra de um metal qualquer com a inscrição “dei ouro para o bem do Brasil”. Exibir aquele “certificado de cidadania” era motivo orgulho e dignidade.
Quanto será que foi arrecadado? Onde foi para o ouro que todos doaram tão espontaneamente que nem se deram conta da chantagem a que estavam sendo submetidos? Não sei realmente responder. Eu ainda era muito criança para perceber e meu pai, que fez questão de ter a sua aliança de lata, nunca tocou no assunto.
Mas por que falar deste assunto tão antigo? É que hoje, guardando alguns papeis, parei para olhar o quanto me descontam de Imposto de Renda na Fonte (IPRF) além de tudo aquilo que está embutido em cada coisa que consumo, seja um gênero de necessidade ou uma futilidade e me senti dando o ouro, o suor, o corpo e a alma para o país que nem sequer um “certificado” me devolve.
Não sou contra que os menos favorecidos sejam ajudados, mas não acredito que o “bolsa isso” ou “bolsa aquilo” esteja trazendo mais dignidade ao povo. Programas como o “Economia Solidária” podem ser muito mais interessantes à medida que fazem todos contribuírem com a sua parcela de responsabilidade.
Fiquei encantada ao escutar o Prof. Paul Singer falar sobre a Economia Solidária em uma palestra da UFABC. Acho que ele deveria falar a respeito na TV aberta e fechada, em cadeia e em horário nobre. Creio que todas as classes sociais precisariam entender um pouquinho do que se trata. Quem sabe assim o povo começasse a pensar melhor no governo que quer ter e na sociedade em que quer viver.

sábado, 14 de novembro de 2009

Temos prazo de validade?

Aí eu ligo a TV, escuto uma frase histórica e venho escrever no computador... (oi nois aqui de novo)... Era mais ou menos assim:
“... quando o nosso prazo de validade está para vencer...”
Não me lembro o resto, mas tem a ver com “fazer propaganda pessoal” para tentar achar o companheiro para viver os últimos instantes de “vida útil”... rs...
Por que isto me chamou atenção? Temos mesmo um prazo de validade? Ele está relacionado com a idade? Ou com o nosso estado de espírito? Conheço jovens de sessenta anos e velhos de vinte...
Como anda o meu prazo de validade? Vencido há 10 anos? Dá para reciclar e estabelecer um novo prazo?
Talvez seja difícil, mas não é impossível. Não dá para mudar muita coisa, afinal já passei da idade de moldar a personalidade. Não dá para de repente sair por aí como uma louca desvairada quando sempre se foi muito comedida, mas dá para perder os medos de mostrar aquele lado que foi sendo esquecido ao logo da vida. Dá para reviver o lado mais feminino que foi sendo abafado. Dá para tentar mostrar mais uma vez o lado doce e meigo que foi sendo endurecido pelas desilusões. Dá para jogar fora as pedras que hoje trago nas mãos e que me fazem muitas vezes, numa tentativa de ser engraçada, ser apenas uma caricatura da menina que um dia fui.
Não sei... Preciso pensar melhor...
Nesse momento o objetivo é terminar o trabalho que tenho que fazer para a Universidade, terminar a pesquisa do mestrado e escrever a dissertação. Isso sim tem prazo de validade...
E vamos fazer regime tomando mais café e comendo menos pão... rs... (esta é uma observação que só os “iniciados” entenderão...)

Ah! Antes que me esqueça: estava passado o filme "Must love dogs". Muito bom para uma noite sem nada o que fazer. Um dos atores principais é o Christopher Plummer. Na época em que o filme foi feito ele já estava beirando os 80 anos, mas mesmo assim esbanjando charme. Acho que ele deve ter prazo de validade infinito.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Chama - Falando do "apagão"

A chama dança
Pra lá e pra cá.
Aurea, perfeita,
Exala luz,
Exala calor,
Uma leve fumaça...
E brilha!
E consome!
E se esvai...
Como a vida.

Lilia Maria
07/01/2003

Nada como falar de velas acesas depois de um apagão...
Pouco depois das 22hs do dia 10/11, terça-feira, de repente a casa ficou na penumbra. Misteriosamente não estava tudo apagado. Algumas lâmpadas permaneciam acesas, mas com um intensidade bem menor do que a que seria normal. A casa foi invadida por apitos dos aparelhos que lutavam para continuar funcionando. Saí desligando tudo... Lembrei do meu pai, quando passamos por situação semelhante, dizendo: desliga tudo, caiu a fase.
Com fase ou não fase, peguei a bolsa e saí (ainda bem que tem gerador no prédio... 14 andares na escada não dá).
Até que foi interessante encontrar o Zz na padaria. Ele saiu dizendo que ia sentir falta de ver TV e eu voltei para casa pensando em quanto tempo ainda teria para escrever no meu notebook. Isso até rendeu uma teoria matemática bastante interessante utilizando razões e proporções, mas agora ela até me parece discutível, afinal não dá para medir se a proporção do meu apresso pelos computadores (acho que aqui deveria ser Internet) tem o mesmo peso do dele pelas TVs (não o aparelho, claro).
Bom, está tudo muito bem, está tudo muito bom... mas onde anda a verdade?
Logo cedo, liguei a TV e veja uma representante do governo paulista afirmando categoricamente que desta vez São Paulo não tinha nada a ver com isso. Que o “povo” de Itaipu que se explicasse. Foi o dia todo ouvindo um monte de blá, blá, blá. Afinal, o que de fato causou o apagão? Um temporal? Raios em profusão, como ouvi em um jornal na tarde de ontem? De quem é a culpa? Do pobre São Pedro, mestre guardião das portas do Céu? É, até isso eu ouvi...
Eu só sei que me sinto na terra de ninguém. O negócio é apelar para El Chapulin Colorado... afinal... "Oh, e agora, quem poderá me defender?"

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Loucuras do amor

Que grande descoberta
Fiz na calada da noite:
Meu amor não é cego,
É mudo!

E eu que pensei

Que desta vida sabia tudo,
Descobri que não sei falar,
Sou tão muda quanto o meu modo de amar.

Me ponho a rir feito louca,

É muita bobagem para alguém pensar.
E para você, que acaba de ver estes versos,
Fica proibido gracejar.

Lilia Maria


Ontem, conversando com a minha amiga Matilde Kronka, pensei nas inúmeras vezes que alguém esperou que eu completasse uma conversa de forma espirituosa ou fazendo uma observação que desse o gancho para uma continuidade ou ainda que eu pegasse o tal gancho e seguisse em frente com a conversa que tinha tudo para não chegar ao ponto final.
A minha mudez não é por falta de falar e sim o falar com tanta cautela que acaba sendo desencorajador. Quando percebo normalmente o meu tempo acabou e aí sim eu fico muda por não ter como retomar. O estrago está feito.
De onde vem este medo de falar?
Se eu for procurar os motivos de tal comportamento, vou achar alguém me dizendo: para de ser oferecida... mulheres não tomam a dianteira numa conquista... moça de bem não convidam, esperam ser convidadas... e por aí vai. Alguém me ditou a regra e eu não soube quebrá-la direito.
Um dia, conversando com o meu primo Paulo Mattos, ele disse alguma coisa mais ou menos assim: minha primeira mulher me conquistou pela insistência, ela disse que ia se casar comigo e não sossegou enquanto não conseguiu. Tudo bem, mas como ser insistente sem ser inconveniente?
Ser só insistente não basta. A outra pessoa precisa aceitar a insistência e recebê-la com alegria. Ou seja, o outro precisa querer ceder caso contrário estaremos apenas nos tornando chatos, e ao invés de conquistar estaremos fazendo com que a outra pessoa se torne cada vez mais arredia. Quantas vezes não passamos por esta situação mas colocados do outro lado? Quantas vezes não fugimos de gente que fica assediando? E quantas vezes não cedemos ao assédio depois de algum tempo mas sabendo que este tempo foi por puro charme?
Preciso repensar a mudez deste meu modo de amar...

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Bem-vindo

Abri portas e janelas,
Deixei o sol entrar,
O ar circular,
A poeira baixar,
As poças secar.

Tinha mofo,
Teia de aranha,
Tinha muito que limpar.
Tinha cacos e cacarecos,
Muito lixo pra jogar.

Agora de casa limpa,
Posso finalmente dizer:
Seja bem vindo
Entre e fique.
Seja meu lar seu santuário.

Seja meu lar seu porto seguro,
Sua casa, seu abrigo,
Seu lugar de descanso,
Seu refúgio.
Bem vindo à minha vida!

Lilia Maria

Acho que preciso literalmente fazer o que diz o poema.
Cada caixa que eu abro tem um mundo de coisas velhas dentro.
Aí eu fico olhando e pensando: ah! este caderno! É da época da graduação e tem o epitáfio que fiz durante uma aula da Sakuia... (e volta pra caixa). Este vidrinho de perfume eu ganhei da ???? (nem lembro mais o nome...) é tão lindinho... (e volta pra caixa). Ai, aquela bonequinha, olha a minha caixinha de música, nossa ainda existe esta agenda... e assim vai... e volta tudo de novo para o mesmo lugar...
Um dia tenho que fechar os olhos e jogar a caixa toda sem questionar o conteúdo...

domingo, 25 de outubro de 2009

Com muito amor e carinho

Eu vou fazer, amor, um ninho
Com amor, muito carinho
Pra você se abrigar

Eu vou lhe dar amor tão puro
Que maior amor eu juro
Você não vai encontrar

E entre nuvens de beijos
Seus desejos serão meus

Amor vou lhe dar e é tão sincero
Que você amor espero
Não vai querer me deixar

E quando no fim da estrada (do caminho)
Minha amada (menininho)
O inverno tristonho chegar
Mais amor eu vou ter pra lhe dar

Faça dos meus braços o seu ninho
Tenho amor, muito carinho
E estou a lhe ofertar

(Roberto Carlos)

Uma luz azul de repente iluminou uma foto do meu painel.
Um sorriso gostoso, maroto, de quem curtia o momento...
Por onde anda você? Lembrei da música que muitas vezes cantei fazendo serenatas apaixonadas acompanhada do meu pobre e esquecido violão.

O ninho está pronto, só falta quem queira se abrigar dentro do meu coração. obs: eu mudava a letra da música com as palavras que aparecem entre parênteses.

Lilia Maria

sábado, 17 de outubro de 2009

Sapo Fervido

Não existe nada mais difícil na vida do que acabar com uma relação. E não importa qual seja ela. Mudar de emprego, terminar um namoro, desfazer um casamento, desistir de um curso, romper uma sociedade... Enfim, há milhões de coisas que são tão difíceis que muitas vezes vamos levando só para não ter que enfrentar a situação.
Covardia? Medo de sofrer e fazer sofrer? Insegurança? Comodismo?
Hoje falando a respeito disto com o Ivan, meu cabeleireiro, lembrei-me da história do “Sapo Fervido”.
Vários estudos biológicos provaram que um sapo colocado num recipiente, com a mesma água de sua lagoa fica estático durante o tempo em que se aquece a água, até que ela ferva. O sapo não reage ao gradual aumento da temperatura, e morre calmamente quando a água ferve.
Quantas vezes eu já morri...
Não importa... O importante é saber sair do luto e enfrentar a vida com muita coragem para recomeçar em uma nova lagoa...
É isso aí Ivan... Que a sua "lagoa nova" tenha muitas flores em volta, muitos peixes nadando, muitos pássaros cantando e muitas outras coisas que tornem a sua vida cada vez melhor.
Boa sorte na sua empreitada!

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Mestre

Mestre é todo aquele que ensina o caminho,
É o pai que ajuda nos primeiros passos,
É a mãe que ensina a cantar,
É o amigo que ensina a dividir,
É o namorado que ensina a beijar.

Mestre é aquele que nos ensina a sonhar,
E que nos mostra que sonho pode ser realidade,
Que realidade pode ter espinhos,
Que espinhos fazem parte da vida,
E que a vida é bela apesar dos tropeços.

Mestre é o que estende a mão na hora exata,
É quem tem a palavra de consolo ou de estímulo,
É quem diz o que precisamos ouvir,
É quem vem ao nosso encontro nas dificuldades,
É quem compartilha o sucesso e a vitória.

Mestre é quem aprende com alegria,
É quem não tem pudor em dizer “não sei”,
É quem não tem vergonha de dizer “me ensina”,
É quem coloca o limite,
É quem nos faz pensar.

Lilia Maria
12/10/2006

Um poema antigo próprio para o dia de hoje.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Mareando

Quero mar!
Quero sol!
Sol, mar...
Somar
Calor
Alegria
Caloria
Do chope gelado,
Da água de côco,
Da isca de peixe
Da barraquinha da praia.
E caminhar
Catando conchinhas
Feito a menina
Que jamais deixarei de ser...

Lilia Maria

Ando com muita vontade de ver o mar...

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Desabafo

Estou me sentindo órfã de idéias.
Estou cansada,
Pensar dói,
Falar dói,
Calar dói...
Sacudo os miolos,
Tenho vontade de espremê-los com as mãos...
Desistir?
Meu ídolo maior não me permitiria.
Ele me faz falta.
Quem sabe o sono seja um bom conselheiro.
Quem sabe...
Amanhã é um outro dia de novo!
Faz meses que espero um amanhã...
Um amanhã que talvez nunca virá...
Estou me sentindo velha,
Acabada,
Aniquilada,
Ai, ai, ai...
Eu não sou esta que vejo no espelho!
Amanhã...
Amanhã...

Lilia Maria

sábado, 3 de outubro de 2009

Luciana

Ainda me vejo enorme,
Olhando carinhosamente a barriga,
Com dedo em riste, falo sério,
- Escuta aqui, ô menina!
Amanhã seu pai precisa trabalhar!
Trata de ficar aí quietinha,

Sua carinha não quero ver não!
Espera uns dias bem boazinha,
Que dias melhores virão!

Antes de nascer,
Já era de ter opinião,
Se acalmou por umas horas,
E rompeu a bolsa então...
Seu pai mais que depressa
Foi logo se arrumar,
Como podia conhecer a princesinha,
Sem tomar banho e se barbear?

De malas prontas
Lá fomos nós para a maternidade,
Meio assustados, meio deslumbrados,
Com aquela grande novidade.
Horas depois fomos avisados,
Que pela porta não ia descer,
Abriu-se então a janela
Para o meu bebezinho nascer!

O milagre da vida chegando
É algo que não dá pra contar,
É a maior emoção que tivemos,
E adoramos compartilhar.
Que Deus te abençoe, pequena,
Que alegria não lhe venha faltar,
Que seja feliz nesta vida,
É tudo que podemos desejar

Lilia Maria
01/10/2004

minha filhota faz 21 anos depois de amahã...

Hoje minha filha completa seu vigésino sexto aniversário.
Jamais esquecerei o dia do seu nascimento. Meu pai chorou como um bebe e me presenteou com uma dúzia de rosas brancas. Minha mãe concluiu que o seu nome Luci (luz) Ana (graça) era tudo que ela representaria (a graça e a luz de nossas vidas). O André, meu melhor irmão (porque não é de sangue mas sim de coração) esteve conosco na sala de parto, pois meu médico, Dr. Francisco Lima, só permitiria que o Ramon assistisse o parto se tivesse alguém para socorrer o pai caso fosse nescessário.
Quando ela fez 21 anos escrevi esta poesia que conta uma pouco da história do dia do seu nascimento.
Parabéns minha querida! Que Deus a abençoe sempre...

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Calvário (?)

Foi assim que o mundo viu
O zumbi de retina transparente
Chorando o sangue de suas entranhas
Brotando direto do coração.
Quem é louco?
Quem é tosco?
Perguntas inúteis
Nos tempos de chuva
Que inunda a terra
E a faz flutuar
Toda sujeira que havia no ar.
Segue o caminho
Em tortuosas cenas
Que arrebentam a alma
E arrebatam a calma.
Segue o caminho
Que leva direto a qualquer lugar,
Pois qualquer lugar
Parece mais seguro
Que o ponto de parada
Onde fui te encontrar.

Lilia Maria

A inspiração? Uma amiga que anda passando por terríveis provações.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Abraços...

Você já pensou que um abraço é muito mais íntimo que um beijo?
De repente é assim...
Você mal conhece a pessoa e já oferece o rosto para o beijo...
Os lábios tocam sua pele, solta um estalido e pronto, já foi...
Já o abraço... Ah! o abraço!
A gente não sai abraçando por aí...
Abraço é coração com coração,
Às vezes até batendo em uníssono!
Dois braços o envolvem e oferecem aconchego.
Normalmente este aconchego é mútuo...
Dificilmente alguém abraça sem ser abraçado,
É quase um ato contínuo.
É energia trocada...
É sentimento compartilhado,
Seja ele de alegria ou de pesar.
Os corpos se tocam em muitos pontos,
Você sente o perfume,
Você sente a vibração,
Há sempre emoção...
Não importa o motivo do abraço,
Ele é sempre carregado de carinho,
De vontade de estar junto,
De envolvimento,
De consideração,
De doação,
De respeito.
Seja o abraçado amado ou amigo,
Este é o momento do encontro das almas,
Até porque o amigo sempre é muito amado!

Lilia Maria
22/09/2009


Hoje é aniversário de um velho conhecido. Esta pessoa, mesmo sem saber, morou no meu imaginário anos e anos. Quando ela já estava se tornando um mito, acabei descobrindo que ela é de carne e osso, comete erros, tem seus medos e suas inseguranças como qualquer outro ser humano. Descobri também que esta pessoa tem qualidades incríveis, que superam de longe aquilo que talvez possa ser considerado um defeito. Fiquei realmente encantada. Queria muito tê-la colocado na galaria dos meus amigos queridos, mas infelizmente ficou apenas no quadro das pessoas que admiro. Que pena!
Este poema foi escrito exatamente para esta pessoa. Das poucas coisas que posso lembrar de uma convivência efêmera, uma é um abraço de pesar, e a outra é um abraço que teve a alegria do reencontro.
Enfim, da mesma forma que um dia esta pessoa deixou o sonho e passou para a plano real, nada impede que amanhã ela venha a fazer parte do meu dia a dia.
Feliz aniversário José Roberto! Muito obrigada e que Deus o abençoe por tudo aquilo que sem saber e sem querer você me ensinou.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

História de um poema

Tudo começou assim...
Estava tomando banho
Quando comecei a cantar Ivan Lins...
"Sou caipira Pirapora..."
Sei lá por que me lembrei de um jogral
Que escutei nos tempos de adolescente
E que nunca me saiu da cabeça.
"São Paulo de Piratininga...
São Paulo de muita pinga..."
Juntei com a música e ficou assim:
"Sou caipira,
Mas não sou de Pirapora,
Sou dos campos Piratininga,
Da São Paulo desvairada,
Cheia de muita vida
Mas que às vezes

Tem cheiro de privada..."
Aí sentei no meu micrinho
Fui escrevendo,
Trocando a idéia central,
E nasceu o ”Ciberabraço”
Que nada tinha a ver com a história.
Mas ainda não esqueci a idéia inicial
"Esta São Paulo da latrina
Que a muitos alucina
Pela sua imensidão
E que eu amo de paixão".


Lilia Maria

Este é para a Cristina Rivera, minha amiga e meu "grilo falante" de plantão. Mas não é homenagem não... é apenas a explicação de como foi a criação do "Ciberabraço" que hoje deu muito o que falar.

Ciberpoema (Ciberabraço)

Direto dos campos de Piratininga,
Da São Paulo desvairada,
Segue o abraço cibernético
Seguido do beijo torpedo
(Que o Rogério me permita o plágio),
Para os reais amigos
Que habitam o virtual
Dos Orkuts e dos Plaxos,
Dos Facebooks e dos Sonicos,
Dos e-mails e dos Messengers.

Ontem se colocava a "boca no trombone"
Para reclamar das agruras da vida
Ou para alardear a felicidade extrema,
Hoje Twitamos com muita classe
Em 140 toques do teclado
Deste companheiro inseparável
Que acabou fazendo parte da nossa vida
Quase como uma vestimenta
Que cobre os nossos pudores.

Vamos em frente que a vida não pára,
Não é como o processador
Deste meu pequeno computador
Que obedece direitinho
Quando mando hibernar.
Encontro vocês numa esquina qualquer
Do ciberespaço ou do espaço real
Para um café bem quentinho e
Um dedo de prosa sobre o mundo atual.

Lilia Maria
21/09/2009

domingo, 20 de setembro de 2009

Hino ao amor

Quando, enfim, a vida terminar
E dos sonhos nada mais restar
Num milagre supremo
Deus fará, no Céu, te encontrar

Estes são os versos finais na música “Hyme à l'amour”, cuja letra foi escrita por Edit Piaf. Não são versos da música original e sim da versão que, quando eu era menina, cansei de ouvir na voz de Wilma Bentivegna. Confesso que gosto mais da versão do que da música em francês.
Acho que esta música despertou em mim todo o romantismo que me acompanha até hoje. Eu achava linda a declaração de amor que ela encerra... Ela deposita aos pés do amado tudo e abre mão até dos amigos para viver este amor.
Em nome deste romantismo eu queria um amor eterno, que durasse para sempre, que me fizesse prometer tudo que a Piaf promete ao amado nesta música. Eu queria mais do que um “eterno enquanto dure” , eu queria que fosse para sempre, mas nunca foi...
Acho que no fundo, no fundo, ainda procuro por este amor. Se um dia ele já aconteceu só saberei depois da minha morte, quando enfim Deus fará com que eu o encontre. Neste momento eu só posso dizer que cada um dos meus amores foi verdadeiro e pleno a seu tempo. E foram todos inesquecíveis. Um foi apenas uma promessa, o outro a realidade, a vida. Teve o sonho, mas tive que acordar e houve também aquele tão breve quanto um suspiro de alegria. Não sei qual deles eu gostaria de encontrar entre as nuvens. De repente acho que nenhum.
Que o grande amor chegue e arrebate todos os caminhos, todas as promessas e todo o tempo que me restar.
Para quem quiser ver a letra completa da música, aí está:


Se o azul do céu escurecer
E a alegria na Terra fenecer
Não importa, querido
Viverei do nosso amor...

Se tu és o sol dos dias meus
Se os meus beijos sempre forem teus
Não importa, querido,
O amargor das dores desta vida.

Um punhado de estrelas
No infinito irei buscar
E a teus pés esparramar
Não importa os amigos,
Risos, crenças e castigos
Quero apenas te adorar

Se o destino, então, nos separar
E distante a morte te encontrar.
Não importa, querido,
Porque eu morrerei, também...

Quando, enfim, a vida terminar
E dos sonhos nada mais restar
Num milagre supremo
Deus fará, no Céu, te encontrar

Antes de encerrar quero deixar uma pergunta:
O amor morre? Ou simplesmente ele adormece?

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Tempo de tristeza

Mais difícil que conquistar todas as pessoas do mundo, Mais difícil que conquistar uma pessoa a cada dia, É conquistar uma única pessoa por toda a vida. Este era o sonho... Este era o desafio... Tenho muitos amigos, Tenho minhas filhas, Tenho muitos projetos, Mas alguém especial, Que me faça rir e sonhar, Que me faça sentir mulher e amada, Isto não tenho não. E aí o caração parece vazio... A vida parece não ter emoção... Fui, Passei, E agora é só o compasso de espera Para o grande final. Se tudo tem seu tempo, Hoje é tempo de tristeza, É tempo de decepção. Lilia Maria

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Martingais

A palavra martingal tem muitos significados, mas o que nos interessa refere-se a um tipo de estratégia de apostas muito popular na França no século 18. A idéia é muito simples e foi concebida para um jogo do tipo “cara ou coroa”, em que o jogador ganha se cair cara e perde se for coroa. Nesta estratégia, deve-se dobrar a sua aposta depois de cada perda de modo que, na primeira vitória as perdas anteriores sejam recuperadas e ainda se tenha um lucro igual ao primeiro valor apostado.

Para que fique claro, daremos um exemplo bastante elementar. Imagine que um jogador aposta R$1,00 na primeira jogada. O oponente aposta também R$1,00. Se ele ganha, recebe os R$2,00, tendo um lucro de R$1,00. Se perder, perde o R$1,00 apostado. Supondo que ele tenha perdido, na segunda rodada ele e o oponente apostam R$2,00 cada um. Se ele ganhar, recebe R$4,00. Seu lucro é de R$1,00, pois ele perdeu R$1,00 na primeira rodada e apostou R$2,00 do seu capital. Se houver a terceira rodada, a aposta deve ser de R$4,00. Se vencer recebe R$8,00, mas o lucro continua sendo de R$1,00, pois ele já perdeu R$3,00 e tirou R$4,00 do seu capital para participar desta rodada. Veja o quadro:



RODADAAPOSTARECEBEPERDELUCRO
1R$1,00R$2,00R$1,00R$1,00
2R$2,00R$4,00R$3,00R$1,00
3R$4,00R$8,00R$7,00R$1,00

Se o jogador tivesse um capital infinito para jogar, certamente ele garantiria o lucro, mas na realidade, ninguém possui tal capital. Mais ainda, dado o crescimento exponencial da aposta, qualquer um pode falir rapidamente em um dia de má sorte. Considerando este mesmo valor para a aposta, em 20 rodadas sem sucesso ele estaria apostando R$524.288,00 e perdido (ou investido) até o momento (considerando a aposta atual) R$1.048.575,00! Seria um investimento muito grande para um lucro insignificante.

O conceito de martingais dentro da teoria das probabilidades foi introduzido por Paul Pierre Lévy
, mas grande parte do desenvolvimento deve-se a Joseph Leo Doob, cuja motivação era de mostrar a impossibilidade de estratégias bem sucedidas para apostas.

Segundo Dobb, a teoria dos martingais ilustra a história da probabilidade matemática. As definições básicas foram inspiradas em noções simples de jogo, mas a teoria se tornou uma ferramenta sofisticada na matemática moderna.
Lilia Maria Faccio
Mais uma postagem diferente. Desta vez é a introdução do trabalho sobre martingais.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Geotecnologias na Sociedade da Informação e do Conhecimento

Sociedade da Informação é uma denominação usual para se referir ao mundo contemporâneo, mas levando-se em conta que informação é importante em qualquer sociedade e que esta importância está diretamente ligada à sua transformação em conhecimento, seria então mais adequado usar o termo Sociedade do Conhecimento (Sorj - 2003). Mas, tanto quanto a informação, o conhecimento sempre esteve presente em todas as épocas. Da mesma forma, informação geográfica ou geoinformação não é algo que apareceu com o advento das novas tecnologias. A partir do momento que o homem desenhou o primeiro esboço de mapa para registrar o local onde vivia, surgia a informação de cunho geográfico.
O termo geoinformação pode ser entendido como toda informação que tenha ou que possa ter algum vínculo com um atributo geográfico. Em outras palavras pode-se dizer que geoinformação é a informação com endereço. Neste contexto, entende-se endereço como coordenada geográfica – longitude e latitude.
Uma informação que tem aliada a si sua posição geográfica é chamada de informação georeferenciada, isto é, ela se refere ou se relaciona através das coordenadas geográficas com algum ponto da superfície da Terra.
As coordenadas são convencionalmente dispostas em um mapa, que por sua vez é também uma geoinformação (de caráter gráfico). A partir das referências geográficas podem-se agregar informações semelhantes e representá-las em mapas de forma a justificar fenômenos como, por exemplo, migração de populações, ocupação de solo, mudança da média de temperatura, e outros. Além disso, dados georeferenciados podem ser utilizados para calcular distâncias, definir caminhos, monitorar um local, enfim, há uma infinidade de aplicações possíveis que vem sendo cada vez mais utilizadas tanto nas empresas públicas e privadas como pelo cidadão comum, facilitando tarefas, gerando economia de tempo e dinheiro, etc. Porém, estas aplicações só se tornaram possíveis com o desenvolvimento das novas tecnologias. Toda tecnologia relacionada à geoinformação é muito específica e recebe o nome de geotecnologia.
As geotecnologias permitem a aquisição, processamento, interpretação (ou análise) de dados ou informações espacialmente referenciadas. Entre o que se classifica como geotecnologias estão os satélites de imagens, as câmeras aéreas, os GPS (Sistema de Posicionamento Global), as Estações Totais, os SIGs (Sistemas de Informações Geográficas), os softwares de processamento de imagens e os softwares de visualização (em 2D ou 3D) e outros.
Dominar a geoinformação e utilizar os recursos das geotecnologias garante um diferencial a projetos das mais diversas muitas áreas, sendo imprescindíveis para o controle do meio ambiente, o planejamento de cidades e a definição de políticas públicas.

Lilia Maria Faccio

Hoje é uma postagem diferente.
Este texto é a introdução do meu trabalho sobre geotecnologias.

domingo, 30 de agosto de 2009

Coisas pra se pensar

Sou gente séria ...
Ma non troppo...

Se me convidam pra sair
Eu topo!
Mas tem que ser moço bonito
E sem defeito nenhum,
Pois defeitos já tenho muitos!

O passeio tem que ser elegante e divertido
Para poder continuar...
Se quiser é assim,
Senão não tem o que conversar.

Se gostar, gostou,
Se não gostar
Que gostasse antes de começar.

Sou gente séria...
Ma non troppo....

Lilia Maria
Escrita em 31/10/2005

Um dia a tristeza veio me visitar... Passei meses e meses tentando fazê-la partir. E nada! Ela ficava ali... instalada.. como se fosse a dona da casa...
De repente, conversando com a Marcia Pitta, companheira de muitas jornadas, acabei achando a solução... Sair, passear, ver gente nova, bonita, inteligente... Despertar para a vida outra vez.
E assim foi. Achei o moço (não tão moço) bonito. Defeitos ele tinha muitos, mas era encantador. Os passeios eram mais do que elegantes e muito, muito divertidos.
Pena que acabou...
Mas a tristeza se foi e deu lugar a uma imensa vontade de viver. Ando meio reclusa, é verdade... Mas sem tristeza. A companheira de morada agora se chama pós-graduação, mas esta tem data para partir...
Em tempo: esta solução é trivial, porém se não for realmente desejada, não adianta. Fica tudo igual e a tristeza, cada vez mais poderosa, cada vez mais dona da situação.

sábado, 29 de agosto de 2009

Smile

Smile,
Tough your heart is aching
Smile,
Even though it's breaking,
When there are clouds in the sky, you'll get by
If you smile
Through your fears and sorrow, smile
And maybe tomorrow
You'll see the sun come shining through for you.
Light up your face with gladness,
Hide ev'ry trace of sadness,
Altho' a tear may be ever so near,
That's the time you must keep on trying,
Smile,
What's the use of crying,
You'll find that life is still worh,
while,
If you just smile.

Charles Chaplin

Uma música romântica para embalar meu sábado...
Recadinho: Ana Paula, esta é para você.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Canção da América

Amigo é coisa para se guardar
Debaixo de sete chaves
Dentro do coração
Assim falava a canção que na
América ouvi
Mas quem cantava chorou
Ao ver o seu amigo partir
Mas quem ficou, no pensamento voou

Com seu canto que o outro lembrou
E quem voou, no pensamento ficou
Com a lembrança que o outro cantou

Amigo é coisa para se guardar
No lado esquerdo do peito
Mesmo que o tempo e a distância digam "não"
Mesmo esquecendo a canção
O que importa é ouvir
A voz que vem do coração
Pois seja o que vier, venha o que vier

Qualquer dia, amigo, eu volto
A te encontrar
Qualquer dia, amigo, a gente vai se encontrar.

Milton Nascimento

A gente vai se encontrar sim...
Nada acontece por acaso...
Minha caixinha está lacrada de novo...

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Fiquei louca?

Deveria ser um conto de fada,
Mas no caminho só encontrei bruxa.
Puxa! Já beijei um príncipe
E ele não virou sapo...

Chega de papo!
Conversa fiada
Não leva a nada.

Era um sonho louco.
Procurava o coração
Que pela boca me saiu
Ao bater alucinado.
Coitado!
Ele, que só queria se apaixonar,
Das amarras se livrar,
Foi se deixando levar
Pelo sentimento mais inocente,
Mais puro,
Mais decente,
Que alguém já pode ter.

Por os pés no chão?
Voltar a ser prudente?
Não tem graça!
Me prefiro meio doidinha,
Meio levada da breca,
Parecendo a eterna moleca,
Que andava perdidinha
No meio do turbilhão.

Lilia Maria

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Divagando

Quando acaba a primavera
Ainda há flores a desabrochar.
É como chegar na velhice
E de novo aprender a namorar.
´
Parece que não há novidade
No aprender reaprendendo
Mas, se engana quem assim pensa.
É sempre como a primeira vez.

Reaprender aprendendo
Ou aprendendo a reaprender?
Nunca é como foi..
E nunca foi como será...

Lilia Maria

sábado, 8 de agosto de 2009

Vô Pedro

Hoje, quando sai para terminar de comprar algumas coisas para o almoço do dia dos pais, fiquei lembrando como era comemorado quando eu era menina.

Como era festa do pai, meu pai ficava com o seu pai. Vovô, como toda pessoa idosa, achava que era o último ano que podia estar reunindo a família, fazia questão nessas datas comemorativas, de dar uma “passadinha” em Amparo, cidade onde nasceu.

Meu avô, Pedro Marcello Faccio era o sétimo filho de Domingos e Josephina Faccio. Foi o terceiro a nascer no Brasil. Antes dele nasceram Américo e Brasília. Como a saudade da sua terra natal devia ser muita, o filho mais novo, por motivos óbvios, recebeu o nome de Remo Ítalo. Vovô nasceu no dia 2 de Julho de 1899. De vez em quando as pessoas brincavam dizendo que ele era do “século passado”. Hoje eu sou do século passado e nem sou avó. Aliás, minhas filhas nunca poderão dizer que sou antiquada por que sou do século passado, afinal de contas elas também são.

Engraçado, tem horas que eu acho admirável que uma pessoa que praticamente só aprendeu a ler e escrever, fosse dono de uma cultura tão grande e diversa. Lembro-me bem que quando fui à Europa pela primeira vez, ao passar por lugares históricos, ele sempre tinha alguma coisa a acrescentar após a fala dos guias turísticos.

Em outras horas eu fico muito decepcionada em pensar que meu pai não estudou porque seu pai achava que um filho só podia saber até o que o pai sabia. Ele não queria um filho doutor. Esse povo antigo tinham umas idéias que são simplesmente inacreditáveis.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

A lição que quero aprender

Para se roubar um coração, é preciso que seja com muita habilidade, tem que ser vagarosamente, disfarçadamente, não se chega com ímpeto, não se alcança o coração de alguém com pressa. Tem que se aproximar com meias palavras, suavemente, apoderar-se dele aos poucos, com cuidado. Não se pode deixar que percebam que ele será roubado, na verdade, teremos que furtá-lo, docemente.

Conquistar um coração de verdade dá trabalho, requer paciência, é como se fosse tecer uma colcha de retalhos, aplicar uma renda em um vestido, tratar de um jardim, cuidar de uma criança. É necessário que seja com destreza, com vontade, com encanto, carinho e sinceridade.

Para se conquistar um coração definitivamente tem que ter garra e esperteza, mas não falo dessa esperteza que todos conhecem, falo da esperteza de sentimentos, daquela que existe guardada na alma em todos os momentos.

Quando se deseja realmente conquistar um coração, é preciso que antes já tenhamos conseguido conquistar o nosso, é preciso que ele já tenha sido explorado nos mínimos detalhes, que já se tenha conseguido conhecer cada cantinho, entender cada espaço preenchido e aceitar cada espaço vago. ...e então, quando finalmente esse coração for conquistado, quando tivermos nos apoderado dele, vai existir uma parte de alguém que seguirá conosco. Uma metade de alguém que será guiada por nós e o nosso coração passará a bater por conta desse outro coração. Eles sofrerão altos e baixos sim, mas com certeza haverá instantes, milhares de instantes de alegria. Baterá descompassado muitas vezes e sabe por que? Faltará a metade dele que ainda não está junto de nós. Até que um dia, cansado de estar dividido ao meio, esse coração chamará a sua outra parte e alguém por vontade própria, sem que precisemos roubá-la ou furtá-la nos entregará a metade que faltava. ... e é assim que se rouba um coração, fácil não?

Pois é, nós só precisaremos roubar uma metade, a outra virá na nossa mão e ficará detectado um roubo então! E é só por isso que encontramos tantas pessoas pela vida a fora que dizem que nunca mais conseguiram amar alguém... é simples... é porque elas não possuem mais coração, eles foram roubados, arrancados do seu peito, e somente com um grande amor ela terá um novo coração, afinal de contas, corações são para serem divididos, e com certeza esse grande amor repartirá o dele com você.




Luís Fernando Veríssimo



terça-feira, 28 de julho de 2009

Isto não é uma comemoração...

Domingo fez um ano que eu fraturei a perna.
Claro que não é uma data para comemorar, entretanto será inesquecível, não pela dor do momento - doeu sim, e muito (respondendo àquele amigo maluquinho que me fez a pergunta) – mas por todas as conseqüências e as histórias, às vezes hilárias, que foram acontecendo durante o período de recuperação.
Quando perdi o equilíbrio e caí durante a festa de casamento da Luana Medeiros (hoje Cintra), mesmo antes de ser levada ao P.A. do Hospital São Luiz, já sabia que a perna estava quebrada. Só não esperava que a fratura tivesse sido tão grave: a tíbia esgarçou, sendo necessária uma cirurgia para retirar os fragmentos do osso rompido e colocação de material sintético fixado por uma placa e pinos. A fíbula, apesar de quebrada também, não precisou de nenhum procedimento.
Ainda bem que nos tempos atuais quase não se usa gesso. Saí da sala de cirurgia com um robofoot, 36 pontos distribuídos por um corte que ia do fim do peito do pé até um pouco mais da metade da perna, sonda e dreno.
Depois da cirurgia estava muito otimista e esperava sair andando do hospital. Ledo engano. Fiquei “apenas” três meses sem poder colocar o pé no chão e outros três andando de muletas. Segundo o médico que me acompanhou, Dr. Alexandre Santa Cruz, pela extensão da fratura e a minha idade, a recuperação foi excepcional.
A minha primeira “aventura” pós-cirugica, aconteceu justamente no dia seguinte à operação. Minha amiga Cristina Rivera veio ficar comigo logo depois do almoço. No meio da tarde, uma enfermeira, por ordem do médico, retirou a sonda e me liberou para um muito desejado banho de chuveiro.
Eu estava esperando visitas, então quis colocar uma camisola decente. Claro que a minha amiga me ajudou. Só que, ao colocar aquela pecinha mais íntima, esqueci que apesar de não estar com a sonda ainda havia o dreno. A Cris também não lembrou. Resultado: arrancamos o dreno. Voou sangue pelo quarto todo... Ficamos apavoradas... Enquanto ela saiu em disparada para buscar uma enfermeira, eu tentava segurar a ponta da cânula para estancar o sangramento.
Quando parecia tudo sobre controle, entra no quarto a enfermeira-chefe e em altos brados passou uma descompostura em nós duas. Se estávamos assustadas, ficamos mais ainda. A mulher parecia descontrolada e dizia que era amiga do médico e que ia abusar deste fato para ligar do seu celular para o telefone pessoal dele para comunicar o ocorrido e que ele iria ficar possesso, pois a cirurgia estava perdida.
Ela saiu do quarto e foi falar no corredor. Creio que o hospital inteiro se deu conta do que havia acontecido, pois ela falava tão alto que nós a escutávamos, mesmo com a porta fechada, como se ela estivesse ao nosso lado.
Acho que alguém chamou atenção desta doida, pois na hora da troca de plantão ela veio toda mansinha, pedindo desculpas e dizendo que toda aquela explosão era por mera preocupação e que era muito difícil conseguir o antibiótico que eu deveria tomar por estar sem o dreno, mas que ela havia usado toda a sua influência para que eu não sofresse nenhuma consquência maior. Claro que ela estava morrendo de medo que eu me queixasse aos seus superiores.
Logo depois veio um enfermeiro me trazer os remédios rotineiros. Quando a Cris contou para ele toda a história, ele deu risada e disse que 9 em cada 10 pacientes arrancavam o dreno sem querer e que isso não era o fim do mundo.
O que eu posso dizer é que Deus escreve certo por linhas tortas. Quando o Dr. Alexandre veio me ver naquela noite, ele fez uma drenagem manual. Foi mais de uma hora massageando a perna e tirando toda a secreção que havia. Foi ótimo, pois parou de latejar e eu dormi livre de qualquer incômodo.
Hoje, depois de passado um ano, ainda sinto algumas dores principalmente quando subo escadas ou tento correr, mas tenho certeza que um dia tudo vai passar e, de recordação apenas terei a sombra do corte que foi feito.

sábado, 25 de julho de 2009

Quem é?

É a Dedé!!!

Brincadeira de criança
Cheia de graça e de luz.
Filhotinha do meu coração,
Que saudade de você,
De apertar suas bochechas,
De fazer cócegas na barriga,
De sentá-la no meu colo,
Responder suas perguntas
(Nem sempre fácil de fazer...).

Ah! Minha pequena feiticeira,
Que seduzia com seu riso fácil,
Que encantava com a sua inocência...
Quanto você cresceu!...
Que linda você se tornou!...
Mas o meu coração de mãe
Ainda guarda a menininha
Criando asas para voar,
E que nunca vai mudar.

Lilia Maria

Hoje minha filha mais nova completa seu vigésimo quarto aniversário.
Quando pequena, ela era gordinha, risonha, linda! Chamava atenção onde quer que estivesse.
Defensora das suas causas, um dia ficou inconformada com um homem que havia podado uma árvore pois acreditava que os galhos estavam chorando de dor. Outra vez, observando o quarto minguante, ficou aflita porque alguém havia roubado um pedaço da lua.
Há alguns anos, quando completei meio século, chorei de emoção ao ler um livreto em forma de coração onde ela descrevia os 50 motivos pelos quais havia valido a pena a minha vida.
Assim ela é. Uma artista sensível, inteligente, cheia de idéias, sincera e com um coração maior do que ela mesma.
Filhota, eu te amo! De todos os motivos pelos quais valeram a pena a minha vida, certamente você é um dos mais importantes.

domingo, 19 de julho de 2009

Lunik 9

Poetas, seresteiros, namorados, correi
É chegada a hora de escrever e cantar
Talvez as derradeiras noites de luar

Momento histórico
Simples resultado
Do desenvolvimento da ciência viva
Afirmação do homem
Normal, gradativa
Sobre o universo natural
Sei lá que mais

Ah, sim!
Os místicos também
Profetizando em tudo o fim do mundo
E em tudo o início dos tempos do além
Em cada consciência
Em todos os confins
Da nova guerra ouvem-se os clarins
Guerra diferente das tradicionais
Guerra de astronautas nos espaços siderais

E tudo isso em meio às discussões
Muitos palpites, mil opiniões
Um fato só já existe
Que ninguém pode negar
7, 6, 5, 4, 3, 2, 1, já!
Lá se foi o homem
Conquistar os mundos
Lá se foi
Lá se foi buscando
A esperança que aqui já se foi
Nos jornais, manchetes, sensação
Reportagens, fotos, conclusão:
A lua foi alcançada afinal
Muito bem
Confesso que estou contente também

A mim me resta disso tudo uma tristeza só
Talvez não tenha mais luar
Pra clarear minha canção
O que será do verso sem luar?
O que será do mar
Da flor, do violão?
Tenho pensado tanto, mas nem sei

Poetas, seresteiros, namorados, correi
É chegada a hora de escrever e cantar
Talvez as derradeiras noites de luar


(Gilberto Gil)

Esta estava lá... Guardadinha no fundo do baú...
Hoje era um dia muito propício para resgatá-la.

Cantiga Antiga

Eu fiz uma cantiga bem antiga pra você
Pensando que você fosse gostar
Voltar no nosso tempo de crianças
Quando a gente ainda brincava
Eu puxava as suas tranças
Só pra ver você zangar
Você zangava e me chamava
De boboca perna torta
Perna torta é a vó...
Eu fiz uma cantiga muito antiga pra você
Tentando só fazer você lembrar
Que eu era o menino calças curtas
De cabelo arrepiado
Que queria ser soldado
Do primeiro batalhão
E ganhar mais de 1 milhão
E a gente se casar
Eu fiz esta cantiga tão antiga.
Tão antiga que você
Nem vai lembrar...
(Silvio Cesar / Sylvan Paezzo)

Hoje acordei saudosista...
Olhei o violão encostado na parede do meu quarto e lembrei desta música. Se alguém mais lembrar vai denunciar a idade... (rs) Sei que ela foi gravada em 1968.
Mas as lembranças que ela me trás são muito mais antigas (embora eu tenha começado a usar tranças quando entrei na Universidade – até então eu era obrigada a cortar os cabelos porque meu pai dizia que meu cabelo era igual ao de uma espiga de milho – simpático, n’é?)
Lembrei de férias passadas em São Carlos, na casa da minha avó, início da adolescência, as brincadeiras de rua logo depois do jantar, quando os mais velhos estavam entretidos com os telejornais e as novelas.
Tudo começava com queimada e mãe da rua. A turma ia chegando, olhares compridos eram trocados, o pessoal ia se ajeitando, e quando começava a bater o cansaço de tanto correr alguém sempre tinha a brilhante idéia: - vamos brincar de namoro no escuro? Nos dias atuais esta brincadeira poderia ter outro significado, mas na época... Hoje os nossos filhos diriam que éramos uns bobocas...
A brincadeira era mais ou menos assim: Tinha um “animador”, o “premiado” e os outros eram os possíveis escolhidos. O “animador” vendava os olhos do “premiado” e seguia apontando para os “possíveis escolhidos” perguntado: - quer este? A resposta era sim ou não. Quando o premiado escolhia alguém, o “animador” perguntava: Beijo, abraço ou aperto de mão? Era aí que a coisa ficava engraçada. Um menino tendo que beijar um menino era hilário. Aconteciam mil palhaçadas. Mas se o beijo tivesse que ser entre um casal... Nossa! Batia a timidez... Claro que ninguém beijava ninguém... Mas a vontade era grande. Que pena! Agora só resta a saudade.

Enquanto estava escrevendo este "post" não pude deixar de pensar na minha prima Silvana, parceira de muitas histórias, com quem eu dividi todos os pequenos grandes segredos até a juventude.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Córrego Alegre? SAD 69?

Que bicho é esse? Morde?
Pois é... Quando alguém perguntou para mim se eu usava o Córrego Alegre, fiquei com vontade de perguntar se era para pescar. Aí voltei para casa imaginando um riachinho de águas transparentes, com pedrinhas espalhadas em seu leito, as margens cobertas de vegetação rasteira, algumas flores e chorões espalhados emprestando uma ar bucólico ao lugar. Perdida em meus devaneios, tirei os sapatos e segui caminhando pelas águas refrescantes. Lindo! Poético! Romântico!
Depois de um tempo, um dia um colega me liga perguntando se eu podia ceder o layer da localização das escolas. Dei todas as indicações dos procedimentos necessários para formalizar o pedido. Aí ele faz a fatídica pergunta: você usa Córrego Alegre? Comecei a rir...
- Me explica o que é isso... Pra mim, Córrego Alegre é um riachinho cujas águas límpidas passa entre pedras fazendo barulho de uma cachoeira saltitante...
- O que é eu não sei, mas toda vez que troco mapas com alguém esta é uma das perguntas. Aí fico imaginando exatamente como você. O pior é quando alguém me pergunta se é em SAD 69.
Tóim... tóim... tóim... caiu a linha...
Só para elucidar, ambos são sistemas de referência para geoinformação. Quem quiser saber mais tem que esperar que eu escreva o capítulo referente a isto dentro da minha dissertação de mestrado (e pensar que eu odiava geografia!!!).

terça-feira, 7 de julho de 2009

A quem interessar possa

Você não me ama mais?
Nem menos?
Continua amando como sempre?
Amando ninguém?
Então você me ama...
Eu sou ninguém.
E, como ninguém é eterno,
E eterno só Deus,
Então sou uma Deusa.
Que privilégio ser ninguém na vida...
E você aí,
Brigando pra ser alguém...
Se liga!
A vida é muito maior
Que o caminho do seu olho ao umbigo...

Lilia Maria


domingo, 5 de julho de 2009

Presente

Ultimamente
Ando adolescente.
Fico tateando,
Buscando,
Olhando,
Sonhando,
Mostrando,
Escondendo,
Brincando,
Insinuando,
Confessando,
Dissimulando.

Sentimentos confusos,
Emoções pairando no ar.
Quero me apaixonar,
Perdidamente,
Irremediavelmente,
Definitivamente,
No momento presente.

Lilia Maria


Como é gostoso o jogo do flerte. E não é coisa de adolescente não!
Quem disse que há idade para essas coisas?
Um dia até quiseram que eu acreditasse que flertar, andar de mãos dadas, beijar, se apaixonar era coisa para a turma das minhas filhas. Eu quase caí nessa. Hoje eu sei que o amor não tem idade. Ele pode acontecer a qualquer momento. Eu espero ainda poder viver mais uma vez esta dádiva.
Enquanto não encontro o companheiro do meu caminhar fico assim, sonhando...

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Dia Torto

O dia nasceu torto.
O sol não raiou,
A chuva caiu,
O ar esfriou,
O despertador não tocou,
Parou.
Acordei atrasada,
Estressada.
O carro não pegou,
A gasolina acabou,
E o dia que nasceu torto,
Mais torto ficou.

Aos trancos e barrancos,
As horas foram passando,
E o dia entortando.
O chefe faltou,
O almoço esfriou,
O computador não ligou,
A ponta do lápis quebrou,
Nem o café chegou.
O dia seguiu torto.

Voltei para casa,
Ônibus lotado
(Lembra, o carro quebrou...),
Meu dinheiro perdi,
Descer, quase não consegui.
Fiquei desolada.
Estou mais que cansada,
Não falta acontecer mais nada.

O dia começou torto...
Mas torto ele não vai terminar.
Nada vai me derrubar.
Um banho quente eu vou tomar,
Meu melhor pijama vou colocar.
No meu quarto vou me abrigar.
Minha cama está me esperando,
Meu travesseiro chamando,
Vou logo dormir e sonhar,
Que um lindo dia vai começar.

Lilia Maria
19/11/2002

Quando escrevi este poema, o Prof. Pedro Sérgio Candolo, um amigo daqueles que a gente guarda com muito carinho, trabalhava comigo. Ele riu muito de toda a situação. No dia seguinte ele ficou impressionado, pois quase tudo que eu havia escrito aconteceu... Obra do acaso... E realmente eu não me dei por vencida, superei as adversidades e segui em frente. Não há nada como um dia após o outro.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Epitáfio - Titãs

Devia ter amado mais
Ter chorado mais
Ter visto o sol nascer
Devia ter arriscado mais
E até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer...

Queria ter aceitado
As pessoas como elas são
Cada um sabe alegria
E a dor que traz no coração...

O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar...

Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr
Devia ter me importado menos
Com problemas pequenos
Ter morrido de amor...

Queria ter aceitado
A vida como ela é
A cada um cabe alegrias
E a tristeza que vier...

O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar...

Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr...

Composição: Sérgio Britto

Hoje (ontem) acordei tentando lembrar desta música.
Não quero que o acaso me proteja de alguma coisa e é por isso que não ando mais tão distraída.
Quero mais é que o acaso conspire ao meu favor.
Nas esquinas da vida, encontros casuais podem fazer toda diferença...

domingo, 21 de junho de 2009

Envelhecer (ou amadurecer?)

Não importa a idade
O que interessa é acordar,
Olhar o espelho,
Ver as marcas do tempo
E sentir-se bela,
Mais madura,
Mais dona da vida,
Mais experiente,
Mais sábia,
E por tudo isso,
Muito mais fascinante...

Não importa que o tempo passou,
O rumo que a vida tomou,
As pedras deixadas no caminho,
As flores colhidas no campo...
O que interessa é ter cumprido a tarefa,
É ter escrito a página inteira
Antes de outra começar...

Não importa a saudade,
Não importa a verdade,
Não importa os cabelos brancos
Marcando a fronte.
O que interessa
É a vida correndo nas veias,
O dom precioso do sorriso
Que pode o rumo do dia mudar.

Lilia Maria

Nem sei quanto tempo faz que escrevi isso. A única coisa que me lembro é que estava próximo do meu aniversário. Foi uma tomada de consciência. Eu andava meio cabisbaixa, triste, pensativa... Um dia resolvi olhar para mim mesma, coisa que há muito não fazia. Fiquei um tempão olhando o espelho e relembrando momentos do passado. Aí me dei conta que as marcas do tempo não me tornam mais feia ou mais bonita, apenas denotam que vivi. E, se vivi, aprendi.
De que me adiantaria estar com a mesma cara e corpo dos 18 anos se não tivesse histórias para contar? São páginas e páginas escritas no meu livro da vida que fazem toda a diferença...
Arrumei-me para trabalhar naquele dia com muito mais vontade e cheguei distribuindo sorrisos. Quando você sorri para alguém, em via de regra, o sorriso é retribuído. É esta energia positiva, captada ao longo do dia, que faz a vida parecer (e ficar) melhor. As pessoas sisudas e taciturnas, de repente, tendem a se tornar mais envelhecidas, mais negativas. É um ciclo vicioso. Alegria atrai alegria, tristeza atrai tristeza. Desse dia em diante decidi: vou sorrir cada vez mais, vou sorrir sempre!
Recentemente, comecei a separar fotos dos meus amigos para montar um mural. De muitos tenho fotos novas e antigas, de alguns, apenas fotos antigas e de outros, fotos bastante atuais. Observando e comparando as imagens, mais uma vez percebi o poder de um sorriso. Ele traz luz a um rosto, rejuvenesce, enfeita...

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Chico Buarque de Hollanda

Quando vi o Chico ao vivo pela primeira vez, eu estudava na Escola de Engenharia de São Carlos. Creio que estávamos em 1973. Diversos cantores estavam se apresentando no circuito universitário. Elis Regina, Ivan Lins, Toquinho e Vinícius, vimos um a um passar pelo ginásio de esportes da cidade em shows inesquecíveis. Mas creio que nenhum superou a expectativa que tínhamos sobre a passagem do Chico por aquele palco tão improvisado quanto acolhedor. Eu tinha um amigo muito querido, estudante de Física, Mikka, que vivia fazendo dueto comigo em canções belíssimas. Acho que "Sem Fantasia" era a que todo mundo parava para escutar a gente. Dificílima de cantar, mas a gente conseguia segurar os agudos até o fim. Um dia este meu amigo me deu de presente todos os discos do Chico que haviam sido lançados até a época. Eu continuei a coleção que guardo com carinho até hoje. Voltando a 73, no circuito universitário... Os acasos às vezes são tão oportunos! Justamente na data marcada para o show do Chico, São Carlos estava recebendo a visita do Presidente Medici. A cidade estava repleta de militares e seguranças. Os estudantes até se aventuravam a fazer algumas provocações. À noite fomos ao ginásio de esportes para o tão esperado show. Eu estava sentada no chão da quadra colada à área que servia de palco. De repente o Mikka sentou ao meu lado e apontou o fim das arquibancadas. Militares estavam estrategicamente colocados. Ele sussurrou para mim: mandaram um recado para o Chico, pediram para ele ter cuidado com o que canta e o que fala senão ele sai daqui direto para o DOPS. Aí eu me lamentei: - Que pena, então ele não vai cantar "Apesar de você"? A resposta era tudo o que eu queria ouvir: "Ele não, mas nós vamos." Esta música, lançada em 1970, havia sido proibida e o compacto recolhido. Entre as preciosidades que o Mikka me presenteou, estava este disco. A letra nós sabíamos de cor e era muito própria para a ocasião. Pois então, o show aconteceu na mais perfeita ordem. O público estava extasiado. Volta e meia alguém pedia para ele cantar a tal música proibida, e sempre vinha outra e outra e outra. Depois de todos os bis, quando o Chico estava deixando o palco, em uníssono os estudantes começaram a cantar a música tão esperada. Ele parou e esperou quieto. Ele não podia se juntar a nós. Quando chegamos aos versos finais: Como vai abafar, Nosso coro a cantar, Na sua frente. o público todo se deliciou aplaudindo e percebendo que a milícia estava se retirando. Eles não tinham nada a fazer. Tudo isso só para desejar a este meu ídolo Feliz Aniversário. Aliás, tenho que estender este cumprimento a duas outras pessoas: Mauricio Moscatelli e Ramon Ortiz.



quarta-feira, 17 de junho de 2009

Oração de São Francisco

Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz.
Onde houver ódio, que eu leve o amor;
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão;
Onde houver discórdia, que eu leve a união;
Onde houver dúvida, que eu leve a fé;
Onde houver erro, que eu leve a verdade;
Onde houver desespero, que eu leve a esperança;
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria;
Onde houver trevas, que eu leve a luz.
Ó Mestre,
Fazei que eu procure mais
Consolar, que ser consolado;
Compreender, que ser compreendido;
Amar, que ser amado.
Pois, é dando que se recebe,
É perdoando que se é perdoado,
E é morrendo que se vive para a vida eterna.



Toda vez que vejo a Oração de São Francisco não me lembro de um Francisco e sim de um Oswaldo.
Dr. Oswaldo Ubirajara Borges. Médico pediatra, amigo do meu pai, figura engraçadíssima, singular, inesquecível.
Ele e sua esposa, Da. Maria Lúcia, formavam uma dupla imbatível quando tinham que falar em cursos de noivos sobre harmonia sexual. O melhor de tudo era quando chegavam ao fim da palestra sobre o controle da natalidade por métodos naturais. Ele encerrava agradecendo aos filhos, dizendo nome por nome e enumerando com os dedos das mãos. Eu disse mãos, pois quando chegava ao fim só faltava tocar um dedo. Nove filhos (seis próprios e três herdados)! A conclusão era clara: método natural não funciona.
Quando ele faleceu, ficamos todos órfãos. Na missa de sétimo dia a Igreja Imaculado Coração de Maria estava tão lotada que não havia mais lugar nem para ficar em pé. Da. Lúcia, corajosamente, pediu a palavra e emocionadíssima declamou a Oração de São Francisco exatamente como ele fazia. Enquanto ela orava o silêncio só era quebrado por soluços abafados.
Ele estará sempre entre as pessoas que admiro. Competência, garra, coragem, dedicação são algumas das qualidades que estarão sempre associadas à sua imagem.

domingo, 14 de junho de 2009

Lembranças

"It was the best of times, it was the worst of times, it was the age of wisdom, it was the age of foolishness, it was the epoch of belief, it was the epoch of incredulity, it was the season of Light, it was the season of Darkness, it was the spring of hope, it was the winter of despair, we had everything before us, we had nothing before us, we were all going direct to Heaven, we were all going direct the other way. "


(Aquele foi o melhor dos tempos, foi o pior dos tempos; aquela foi a idade da sabedoria, foi a idade da insensatez, foi a época da crença, foi a época da descrença, foi a estação da Luz, a estação das Trevas, a primavera da esperança, o inverno do desespero; tínhamos tudo diante de nós, não tínhamos nada diante de nós, íamos todos direto ao Paraíso, íamos todos direto no sentido contrário.)


Charles Dickens

"Um Conto de Duas Cidades"

1859

Ao ler este trecho da obra de Dickens, não pude deixar de lembrar dos tempos de juventude, dos amigos, das conversas que fizeram sedimentar idéias, timidamente plantadas na minha adolescência por um jovem que não fazia parte da minha turma mas, que ficou guardado como um ícone do meu rito de passagem da fase da aceitação para a fase da contestação.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

No Fundo do Coração

A alma que canta,
Os males espanta!
Amigo feliz,
Que traz alegria
Pra mim todo dia.
E um mundo de paz,
Um sono tranqüilo,
Um toque de cor
Nas faces coradas,
Meio encabulada,
De pensar o que penso,
De sentir o que sinto.


É pra ti o amor
Que veio de graça,
Sem mais nem por que,
Que não pede nada,
Não sufoca, não cobra,
E fica assim,
Pulsando no peito,
Guardando o calor,
Do abraço bem dado,
Do beijo roubado,
Do carinho, do sabor
De estar apaixonada
Por ti, pela vida,
Pelo meu existir.


E assim deve ser.
Selado pra sempre,
Curtido, cultivado,
Diferente de tudo,
Apartado de tudo,
Coisa minha
Que com ninguém vou dividir.
Não cedo, não troco,
Esta emoção,
Que mora há tempos,
No fundo do coração.

Lilia Maria

Outro dia uma colega da pós-graduação me perguntou se no meio das coisas que passei a vida escrevendo não tinha nada que ela pudesse colocar no cartão do presente do namorado. Achei este poema.
Desconhecido, feliz dia dos namorados! Que um dia a gente se encontre! E que seja breve pois breve é a vida...

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Semana "vapt-vupt"

Esta é a semana "vapt-vupt". Nem começou já terminou. Feriadão era bom para ficar em São Paulo. A cidade ficava vazia, dava para ir ao cinema assistir aquele filme sucesso de bilheteria, dava para ir naquele restaurante que normalmente tinha fila de horas, dava para caminhar por aí sem atropelos. Enfim, eu conseguia curtir a minha cidade.
De uns tempos para cá a coisa nada mudada. O primeiro susto que levei com esta cidade abarrotada de gente, foi em 1997. Eu estava dando aulas de “Cabri Géomètre” na PUC-SP à noite. Eu saia de lá 23hs. No primeiro dia pensei:
- Que bom sair esta hora, Já não deve ter ninguém na rua. Em dez minutos já estarei em casa.
Ledo engano! Quando saí do estacionamento e peguei a Rua Caio Prado para entrar na Consolação, já estava tudo parado. Achei que era por causa da saída dos alunos da própria PUC e logo lembrei que tinha o Mackenzie e mais para cima o Anglo. Ainda bem que já tinha um celular para avisar em casa que iria demorar um pouco.
Um pouco? Demorei quase uma hora. Aquilo que eu achava que era trânsito local me acompanhou até a Vila Beatriz, onde eu morava. E foi assim todas as noites enquanto durou o curso.
São Paulo não tem mais dia nem hora. Quando minhas filhas estudavam no Colégio Bandeirantes, eu pegava congestionamento na Avenida Paulista as 6 e meia da manhã! Em geral elas acabavam indo de metrô para chegar mais rápido.
Ultimamente, como uso trem e metrô para ir à Santo André, há dias que fico inconformada com o mar de gente que circula nas estações em qualquer horário. Eu me sinto dentro de um formigueiro que acabou de ser pisado... Além da multidão de pessoas a distribuição é meio caótica, tem gente andando em todas as direções.
Quem sabe um dia eu levanto acampamento e vou curtir a minha velhice numa cidadezinha do interior! E não serve qualquer uma, pois esta loucura que vive a capital anda se espalhando! E quando chega um feriadão, aquele pessoal de vida pacata agora vem experimentar como é viver na grande metrópole.
Para encerrar o “post” de hoje, achei um poemeto que quando fiz, descobri que a minha parceira de trabalho compartilhava comigo o prazer de respirar fundo o ar frio de uma manhã de inverno, com o céu azul limpo, o sol brilhando e nos brindando com um sonoro “Bom Dia!”.

O ar frio da manhã
É como um sopro de vida
Que me desperta
E penetra em minhas entranhas.
Expande-se em meus pulmões
E me faz sentir viva,
Ativa,
Emotiva.

Bom dia sol
Que ilumina este céu límpido,
Azul,
Irradiante.
Que este seja um dia de luz,
Que a luz aqueça a minh'alma
E que ela voe livre,
Leve,
Feliz!

Bom dia mãe natureza!
Mostre toda a sua beleza
Com flores a desabrochar
E o perfume da terra molhada
Pelo orvalho que sobrou da madrugada,
Quando eu ainda estava resguardada
No quentinho do meu cobertor!

Lilia Maria
13/07/05
Para Sandra Cruzeiro que tanto gosta do ar frio da manhã

domingo, 7 de junho de 2009

Matemática Moderna incita à subversão

Entre os meus “guardados” encontrei um pequeno recorte de jornal de 1980. Creio que quem me enviou não se ateve muito ao conteúdo. A intenção era fazer uma brincadeira, já que o meu pai sempre me chamava de comunista. O título do artigo é o mesmo do “post” e o conteúdo é o que segue:

A idéia de subversão pelo ensino de matemática moderna já havia surgido há alguns anos e volta à baila através de duas revistas argentinas, tendo como origem geográfica sempre a mesma província de Córdoba,
Segundo a revista “Science for the People” (março/abril, 1980), as autoridades provinciais baixaram um novo decreto proibindo o ensino de matemática moderna na província. As razões são as seguintes: seus postulados estão a favor da lógica formal e favorecem a geminação de uma ideologia subversiva cuja linguagem utiliza palavras “matriz” e “vetor”, consideradas pelas autoridades “tipicamente marxistas”. A “pior” das palavras é “conjunto” por evocar a reunião, a coletividade, a massa!
Decididamente a matemática moderna consegue desagradar a gregos e troianos. Na Rússia ela é considerada muito burguesa.

O ensino da Matemática sempre foi uma grande preocupação para os educadores. Antes de 1950, os professores desta disciplina ocupavam-se com os cálculos aritméticos, as identidades trigonométricas, problemas de enunciados grandes e complicados, demonstrações de teoremas de geometria e resolução de problemas sem utilidade prática. No início da década de 60, ocorre uma mudança, influenciada por uma discussão internacional acerca de uma nova abordagem para o ensino de Matemática. Este Movimento internacional torna-se conhecido como Movimento da Matemática Moderna (MMM).
Quando ingressei no antigo ginásio, em 1964, a maioria dos professores de matemática do estado de São Paulo estava comprometida com a mudança de curso do ensino dessa disciplina. Dentro do MMM, a construção do conhecimento matemático era feito a partir dos conceitos básicos da Teoria dos Conjuntos. A crítica que sempre foi feita a este método de ensino é que os conceitos são muito abstratos e que levam a um formalismo matemático desnecessário no ensino básico.
Muitos anos depois, já formada e trabalhando em sala de aula, tornei-me uma defensora feroz da continuidade dos preceitos fundamentais do MMM. A construção da matemática a partir da lógica embutida na Teoria dos Conjuntos, a meu ver, tornava claro muitos dos conceitos que antes eram decorados. O problema não era o que se ensinava, mas como se ensinava. Conceitos abstratos podem ser facilmente absorvidos quando se parte do concreto para a generalização.
Pensando nas experiências que os alunos deveriam ter para sair do concreto para o abstrato, em 1985 tentei criar na escola em que era titular um “laboratório de matemática”. A idéia era que os alunos fizessem experiências ou que participassem de brincadeiras para depois, refletindo sobre a atividade, construíssem definições e conceitos.
Meu experimento durou exatamente dois dias. A diretora da escola, alegando que os alunos faziam muito barulho, proibiu a atividade. Conversando depois com os meus colegas, eles disseram que na sala de aula não se escutava o que estava acontecendo no pátio. Insisti com a diretora dizendo que o barulho não estava incomodando o andamento das outras aulas. Aí ela “disparou”:
- Incomoda a mim... Menina! Aprenda: escola só é boa quando não tem aluno dentro!
O choque foi tão grande que a partir deste dia decidi buscar outros horizontes.
Apenas para encerrar, 1964 foi o ano do golpe militar. Se a matemática moderna era subversiva, obvio que aqui no Brasil, mais cedo ou mais tarde, ela deixaria de ser ensinada ou então, seria ensinada, mas não de forma adequada. Um assunto a se pensar...

sábado, 6 de junho de 2009

Tempo e movimento

Dentro da Matemática nada me encantou mais do que estudar alguns paradoxos. Como na época da minha graduação eu andava muito com a turma da minha irmã, Livia, quase 8 anos mais nova do que eu, de vez em quando eu ficava filosofando e divagando sobre as coisas que eu ia lendo e aprendendo. Normalmente a molecada ia no embalo dos meus pensamentos. Era um verdadeiro exercício de lógica! Aí o pessoal achava que eu estava “viajando” e perguntavam para minha irmã qual o "ácido" que eu havia tomado. Logo eu... A “careta” da história...
Nunca precisei de qualquer tipo de droga para viajar, bastava e basta ainda, embarcar em alguma idéia ou sonho. Eu vôo alto!
Mas vamos ver os paradoxos que eram os maiores alvos do meu encanto. Claro que vou contar toda uma história para exemplificá-los.
Imagine aquele arqueiro que protagonizou o momento mágico da Olimpíada de Barcelona, acendendo a pira olímpica disparando uma fecha incandesceste em direção a ela. Será que ele realmente conseguiu acendê-la? Muita gente diz que não, que tudo não passou de uma grande encenação, etc., etc.
Se analisarmos a situação, podemos pensar que, para atingir o alvo, a flecha deve passar pelo ponto que determina a metade da distância entre o arco e o alvo. Assim que a flecha atinja este ponto, ela terá que atingir o ponto que determina a metade da distância entre o ponto anterior e o alvo. Sucessivamente, a flecha sempre deverá vencer a metade do ponto onde se encontra e o alvo. Desta forma sempre haverá uma “metade” de distância a percorrer, portanto o alvo nunca será atingido.
Podemos partir também de outra hipótese, esta com relação ao tempo. O tempo é uma sucessão de instantes, certo? Se olharmos a flecha em cada instante, como se estivéssemos fotografando, dentro de cada instante ela estará parada, certo? Se ela está parada em cada instante, então ela não se movimenta, e se ela não se movimenta, não atinge o alvo.
Meio maluco, n’é?
O doidinho que pensava estas coisas era o filósofo grego, Zenon, nascido na cidade de Eléia e que viveu entre 490 e 430 A.C.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Despedida

Primeiro escrevi o verso
Reverso da minha vontade.
Depois parti pelo mundo
Em busca da minha sina.
Do verso fiz canção
E cantei como a oração
Que ecoava dentro do outeiro.
Era o hino do caminhante
Que a lugar algum chegaria.

Portas entreabertas
Instigam a curiosidade,
Fascinam...
Mas nunca se abrem ao visitante
Que busca alento e repouso
Aos ossos cansados da lida,
À alma cansada da vida.

Portas e janelas entreabertas
Nunca recebem ar e luz suficiente
Para acabar com o pó e o bolor,
Para tirar o cheiro de mofo,
Para fazer geminar a semente
Não plantada ao acaso
Mas por vontade de vê-la explodir
Em brotos, ramos e flores
Que encantam,
Que enfeitam,
Que perfumam...

Assim se despede o viajante
E retoma o caminho a trilhar
Esperando um dia poder voltar
E não achar nada no mesmo lugar.

Lilia Maria

04/04/2006


Eu vivo falando de sementes e flores...
Como é importante perceber o ciclo da vida!
Eu sempre acreditei que todo tipo de amor, seja entre um homem e uma mulher, seja entre amigos, seja entre pais e filhos, funciona como uma plantinha. Um dia a semente é plantada, regada e cuidada, aí começa a geminar. Aparece o broto tímido sobre a terra e a plantinha continua a ser cuidada. Ela cresce, floresce, pode até dar frutos, mesmo assim precisa de atenção.
Talvez o cuidado que temos que ter é ao escolhermos a planta a ser plantada. Um cedro vive mais de 500 anos. É forte, majestoso! Já uma pequena leguminosa, como por exemplo, o feijão, tem vida efêmera. Vive apenas o suficiente para dar frutos.
Resta saber, esta será minha eterna dúvida, se temos a prerrogativa da escolha. Uma coisa a se pensar...
Toda esta história tem um pouco a ver com o sentido do poema. Nele eu falo de pessoas que se fecham em seu mundinho e que não dão chance para sabermos nem um pouquinho do que realmente são. Acenam, mostram a porta entreaberta, nas na verdade vivem na penumbra da vida. Que planta gemina na penumbra? Creio que nenhuma...

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Atitude

Águas calmas
Correm profundas!
Águas represadas
Pedem vazão!


Mexa no lago,
Faça um rodamoinho,
Abra a comporta,
Deixa a água sair!


E, se não der mais para segurar,
Deixa o lago secar.
Tudo toma seu curso
Mesmo quando se erra
Com vontade de acertar.


Lilia Maria
out/2002


Aqui estou eu de novo fazendo um intervalo entre um slide e outro de uma nova apresentação. É a terceira da semana. Estou ficando craque em resumos e textos em inglês. Tanto esta como a anterior os textos eram em inglês. E eu que não gostava de inglês...
Bom, já tive que me render aos computadores, agora à língua. Textos técnicos nunca foi problema, mas textos de sociologia... Começa que a linguagem dos sociólogos é muito diferente do que estou acostumada. Enfim, vamos lá. Não há nada que a gente não possa aprender, já dizia Jean Piaget.
O post começou com um velho poema. Não me lembro mais porque escrevi, mas era um momento que eu precisava dar a grande virada. E dei... O lago secou, as lágrimas também e fui à luta. Foi como um renascer.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Hoje eu vou brincar de UTOPIA

Primeiro tem-se que entender o significado da palavra:

Utopia normalmente é utilizada para descrever uma civilização ideal, imaginária, fantástica. A palavra foi cunhada a partir dos radicais gregos οὐ, "não" e τόπος, "lugar", portanto, o "não-lugar" ou "lugar que não existe". O termo utopia foi inventado por Thomas More e serviu de título para uma de suas obras escritas em latim por volta de 1516. Segundo os historiadores, More se fascinou pelas narrações extraordinárias de Américo Vespucio sobre a recém avistada ilha de Fernando de Noronha, em 1503. Decidiu então escrever sobre um lugar novo e puro onde existiria uma sociedade perfeita. O "utopismo" consiste na idéia de idealizar não apenas um lugar, mas uma vida, um futuro, ou qualquer outro tipo de coisa, numa visão fantasiosa e normalmente contrária ao mundo real. O utopismo é um modo não só absurdamente otimista, mas também irreal de ver as coisas do jeito que gostaríamos que elas fossem.

Tudo isto só para introduzir outro poema antigo. De certa forma é o retrato de uma parte da minha vida. Tem tudo de utopismo...

Faz de Conta

Na conta do faz de conta,
Tudo conta,
E conta contra
Aquilo que sempre quis.
Um fazia de conta que amava,
O outro, que era feliz.

E com tanto faz de conta,
Feito um conto,
A história se passava.
O mundo todo admirava,
Parecia até conto de fada.
Um fazia de conta que era tudo,
O outro, que era nada.

Quando se conta o faz de conta,
Não é conta de chegar,
Aquele faz de conta
Parecia não terminar.

Vamos então fazer de conta
Que a conta vamos acertar,
Faz de conta que foi tudo "faz de conta",
Faz de conta que eu não sei contar.

Lilia Maria

21/09/2003

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Realidade

Tudo muda
E eu fico muda,
A vida eu não posso parar,
Diante de tanta mudança
Só me resta aceitar,
E viver,
E curtir
A mudança que ainda vai vir.

Tudo muda,
A vida muda,
E eu muda feito uma porta.
Só paro de mudar
No dia em que estiver morta.

Lilia Maria
13/03/2003

Pois então, uma hora da manhã e eu aqui, tentando terminar a minha apresentação...

O problema é que a cada parágrafo que leio me convenço mais que tenho que voltar aos meus velhos ideais. Se meu pai lesse alguns dos pensamentos que me passam pela cabeça ficaria aflito. Ele sempre fala que eu sou uma boa filha. mas tenho um defeito: sou comunista...

COMUNISTA? Eu!!!! Só porque vivo defendendo os interesses alheios? Só porque muitas vezes tomo as dores de alguns menos privilegiados?

Já mudei, remudei e tornei a mudar, mas uma coisa nunca perdi: a vontade de viver em uma sociedade mais justa.

domingo, 31 de maio de 2009

Violino

O arco estava torto,
Parecia quase morto,
De tanto trabalhar,
Só queria descansar.


O breu quase acabado,
No canto da caixa jogado,
Só queria ser guardado,
Só queria sossegar.


Na estante a partitura,
Repousava semiaberta,
Guardava a tablatura,
Uma nova música, na certa.


E o pobre violino,
Que a ribalta acolheu,
Ficou sonhando com aplausos
Que a dona recebeu.


Lilia Maria
10/12/2002


Outra poesia escrita há muito tempo.
Minha mãe, muito antes de se casar com o meu pai (lá se vão 59 anos!) tinha paixão por música e em particular por violino. Meu avô, a custa de muito sacrifício, comprou um para ela, já de segunda mão, bastante usado e meio gasto, mas com um som lindo.
Quando ela começou a namorar meu pai, certamente por ciúmes, ou do professor, Maestro Serafim Batarsa, lá de São Carlos, ou da devoção que ela tinha pela música e o seu violino, conseguiu que ela largasse tudo. Claro que ele prometeu que depois de casada ela poderia, aqui em São Paulo, voltar a estudar. Provavelmente ele deve ter dito a ela que uma das primas era casada com o Maestro Francisco Casabona e que isto facilitaria.
A promessa eu sei que foi feita, mas nunca cumprida, pelo menos não com relação ao violino. Um belo dia ele apareceu com um acordeão lindo e um professor à tiracolo. E a violinista acabou virando sanfoneira... Eu devia ter entre quatro e cinco anos na época.
O professor era um espanhol, Sr. Marcelino, conhecido como El Manito. Ele tinha vindo da Espanha não fazia muito tempo. Era sapateiro na Vila Madalena, se não me engano na Rua Girassol, e dava aulas de música à domicílio. Ele tinha um porção de filhas e um filho. O menino, que sempre o acompanhava, era um gênio musical. Volta e meia ele aparecia na TV, em programas infantis, tocando diversos instrumentos. Eu me lembro ainda do dia que ele estreou o saxofone na cozinha da minha casa (que era o lugar onde minha mãe tinha aula).
Anos depois, na época da Jovem Guarda, qual não foi a minha surpresa ao ver o filho do Sr. Marcelino, agora “batizado” com o apelido do pai, Manito, fazendo parte do conjunto “The Clevers” que depois se transformou em “Os Incríveis”.
Mas voltando ao violino, eu vi minha mãe tocá-lo uma única vez. A música era Berceuse de Brahms.
Acho que a minha filha mais velha, Luciana, herdou o gosto musical da avó. Desde muito pequena sempre pedia para aprender a tocar violino. Eu não consegui conciliar meu horário com as poucas escolas de música que ofereciam o curso.
Quando adolescente finalmente, por conta própria, ela procurou a escola e se inscreveu. A avó então, lhe deu de presente o famoso violino, agora já mais que centenário. Ele foi restaurado por um especialista que se encantou com a preciosidade.
Em 2002, quando aconteceu a primeira apresentação eu escrevi o poema, não sei se para ela ou para ele.