quinta-feira, 25 de junho de 2009

Epitáfio - Titãs

Devia ter amado mais
Ter chorado mais
Ter visto o sol nascer
Devia ter arriscado mais
E até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer...

Queria ter aceitado
As pessoas como elas são
Cada um sabe alegria
E a dor que traz no coração...

O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar...

Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr
Devia ter me importado menos
Com problemas pequenos
Ter morrido de amor...

Queria ter aceitado
A vida como ela é
A cada um cabe alegrias
E a tristeza que vier...

O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar...

Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr...

Composição: Sérgio Britto

Hoje (ontem) acordei tentando lembrar desta música.
Não quero que o acaso me proteja de alguma coisa e é por isso que não ando mais tão distraída.
Quero mais é que o acaso conspire ao meu favor.
Nas esquinas da vida, encontros casuais podem fazer toda diferença...

domingo, 21 de junho de 2009

Envelhecer (ou amadurecer?)

Não importa a idade
O que interessa é acordar,
Olhar o espelho,
Ver as marcas do tempo
E sentir-se bela,
Mais madura,
Mais dona da vida,
Mais experiente,
Mais sábia,
E por tudo isso,
Muito mais fascinante...

Não importa que o tempo passou,
O rumo que a vida tomou,
As pedras deixadas no caminho,
As flores colhidas no campo...
O que interessa é ter cumprido a tarefa,
É ter escrito a página inteira
Antes de outra começar...

Não importa a saudade,
Não importa a verdade,
Não importa os cabelos brancos
Marcando a fronte.
O que interessa
É a vida correndo nas veias,
O dom precioso do sorriso
Que pode o rumo do dia mudar.

Lilia Maria

Nem sei quanto tempo faz que escrevi isso. A única coisa que me lembro é que estava próximo do meu aniversário. Foi uma tomada de consciência. Eu andava meio cabisbaixa, triste, pensativa... Um dia resolvi olhar para mim mesma, coisa que há muito não fazia. Fiquei um tempão olhando o espelho e relembrando momentos do passado. Aí me dei conta que as marcas do tempo não me tornam mais feia ou mais bonita, apenas denotam que vivi. E, se vivi, aprendi.
De que me adiantaria estar com a mesma cara e corpo dos 18 anos se não tivesse histórias para contar? São páginas e páginas escritas no meu livro da vida que fazem toda a diferença...
Arrumei-me para trabalhar naquele dia com muito mais vontade e cheguei distribuindo sorrisos. Quando você sorri para alguém, em via de regra, o sorriso é retribuído. É esta energia positiva, captada ao longo do dia, que faz a vida parecer (e ficar) melhor. As pessoas sisudas e taciturnas, de repente, tendem a se tornar mais envelhecidas, mais negativas. É um ciclo vicioso. Alegria atrai alegria, tristeza atrai tristeza. Desse dia em diante decidi: vou sorrir cada vez mais, vou sorrir sempre!
Recentemente, comecei a separar fotos dos meus amigos para montar um mural. De muitos tenho fotos novas e antigas, de alguns, apenas fotos antigas e de outros, fotos bastante atuais. Observando e comparando as imagens, mais uma vez percebi o poder de um sorriso. Ele traz luz a um rosto, rejuvenesce, enfeita...

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Chico Buarque de Hollanda

Quando vi o Chico ao vivo pela primeira vez, eu estudava na Escola de Engenharia de São Carlos. Creio que estávamos em 1973. Diversos cantores estavam se apresentando no circuito universitário. Elis Regina, Ivan Lins, Toquinho e Vinícius, vimos um a um passar pelo ginásio de esportes da cidade em shows inesquecíveis. Mas creio que nenhum superou a expectativa que tínhamos sobre a passagem do Chico por aquele palco tão improvisado quanto acolhedor. Eu tinha um amigo muito querido, estudante de Física, Mikka, que vivia fazendo dueto comigo em canções belíssimas. Acho que "Sem Fantasia" era a que todo mundo parava para escutar a gente. Dificílima de cantar, mas a gente conseguia segurar os agudos até o fim. Um dia este meu amigo me deu de presente todos os discos do Chico que haviam sido lançados até a época. Eu continuei a coleção que guardo com carinho até hoje. Voltando a 73, no circuito universitário... Os acasos às vezes são tão oportunos! Justamente na data marcada para o show do Chico, São Carlos estava recebendo a visita do Presidente Medici. A cidade estava repleta de militares e seguranças. Os estudantes até se aventuravam a fazer algumas provocações. À noite fomos ao ginásio de esportes para o tão esperado show. Eu estava sentada no chão da quadra colada à área que servia de palco. De repente o Mikka sentou ao meu lado e apontou o fim das arquibancadas. Militares estavam estrategicamente colocados. Ele sussurrou para mim: mandaram um recado para o Chico, pediram para ele ter cuidado com o que canta e o que fala senão ele sai daqui direto para o DOPS. Aí eu me lamentei: - Que pena, então ele não vai cantar "Apesar de você"? A resposta era tudo o que eu queria ouvir: "Ele não, mas nós vamos." Esta música, lançada em 1970, havia sido proibida e o compacto recolhido. Entre as preciosidades que o Mikka me presenteou, estava este disco. A letra nós sabíamos de cor e era muito própria para a ocasião. Pois então, o show aconteceu na mais perfeita ordem. O público estava extasiado. Volta e meia alguém pedia para ele cantar a tal música proibida, e sempre vinha outra e outra e outra. Depois de todos os bis, quando o Chico estava deixando o palco, em uníssono os estudantes começaram a cantar a música tão esperada. Ele parou e esperou quieto. Ele não podia se juntar a nós. Quando chegamos aos versos finais: Como vai abafar, Nosso coro a cantar, Na sua frente. o público todo se deliciou aplaudindo e percebendo que a milícia estava se retirando. Eles não tinham nada a fazer. Tudo isso só para desejar a este meu ídolo Feliz Aniversário. Aliás, tenho que estender este cumprimento a duas outras pessoas: Mauricio Moscatelli e Ramon Ortiz.



quarta-feira, 17 de junho de 2009

Oração de São Francisco

Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz.
Onde houver ódio, que eu leve o amor;
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão;
Onde houver discórdia, que eu leve a união;
Onde houver dúvida, que eu leve a fé;
Onde houver erro, que eu leve a verdade;
Onde houver desespero, que eu leve a esperança;
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria;
Onde houver trevas, que eu leve a luz.
Ó Mestre,
Fazei que eu procure mais
Consolar, que ser consolado;
Compreender, que ser compreendido;
Amar, que ser amado.
Pois, é dando que se recebe,
É perdoando que se é perdoado,
E é morrendo que se vive para a vida eterna.



Toda vez que vejo a Oração de São Francisco não me lembro de um Francisco e sim de um Oswaldo.
Dr. Oswaldo Ubirajara Borges. Médico pediatra, amigo do meu pai, figura engraçadíssima, singular, inesquecível.
Ele e sua esposa, Da. Maria Lúcia, formavam uma dupla imbatível quando tinham que falar em cursos de noivos sobre harmonia sexual. O melhor de tudo era quando chegavam ao fim da palestra sobre o controle da natalidade por métodos naturais. Ele encerrava agradecendo aos filhos, dizendo nome por nome e enumerando com os dedos das mãos. Eu disse mãos, pois quando chegava ao fim só faltava tocar um dedo. Nove filhos (seis próprios e três herdados)! A conclusão era clara: método natural não funciona.
Quando ele faleceu, ficamos todos órfãos. Na missa de sétimo dia a Igreja Imaculado Coração de Maria estava tão lotada que não havia mais lugar nem para ficar em pé. Da. Lúcia, corajosamente, pediu a palavra e emocionadíssima declamou a Oração de São Francisco exatamente como ele fazia. Enquanto ela orava o silêncio só era quebrado por soluços abafados.
Ele estará sempre entre as pessoas que admiro. Competência, garra, coragem, dedicação são algumas das qualidades que estarão sempre associadas à sua imagem.

domingo, 14 de junho de 2009

Lembranças

"It was the best of times, it was the worst of times, it was the age of wisdom, it was the age of foolishness, it was the epoch of belief, it was the epoch of incredulity, it was the season of Light, it was the season of Darkness, it was the spring of hope, it was the winter of despair, we had everything before us, we had nothing before us, we were all going direct to Heaven, we were all going direct the other way. "


(Aquele foi o melhor dos tempos, foi o pior dos tempos; aquela foi a idade da sabedoria, foi a idade da insensatez, foi a época da crença, foi a época da descrença, foi a estação da Luz, a estação das Trevas, a primavera da esperança, o inverno do desespero; tínhamos tudo diante de nós, não tínhamos nada diante de nós, íamos todos direto ao Paraíso, íamos todos direto no sentido contrário.)


Charles Dickens

"Um Conto de Duas Cidades"

1859

Ao ler este trecho da obra de Dickens, não pude deixar de lembrar dos tempos de juventude, dos amigos, das conversas que fizeram sedimentar idéias, timidamente plantadas na minha adolescência por um jovem que não fazia parte da minha turma mas, que ficou guardado como um ícone do meu rito de passagem da fase da aceitação para a fase da contestação.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

No Fundo do Coração

A alma que canta,
Os males espanta!
Amigo feliz,
Que traz alegria
Pra mim todo dia.
E um mundo de paz,
Um sono tranqüilo,
Um toque de cor
Nas faces coradas,
Meio encabulada,
De pensar o que penso,
De sentir o que sinto.


É pra ti o amor
Que veio de graça,
Sem mais nem por que,
Que não pede nada,
Não sufoca, não cobra,
E fica assim,
Pulsando no peito,
Guardando o calor,
Do abraço bem dado,
Do beijo roubado,
Do carinho, do sabor
De estar apaixonada
Por ti, pela vida,
Pelo meu existir.


E assim deve ser.
Selado pra sempre,
Curtido, cultivado,
Diferente de tudo,
Apartado de tudo,
Coisa minha
Que com ninguém vou dividir.
Não cedo, não troco,
Esta emoção,
Que mora há tempos,
No fundo do coração.

Lilia Maria

Outro dia uma colega da pós-graduação me perguntou se no meio das coisas que passei a vida escrevendo não tinha nada que ela pudesse colocar no cartão do presente do namorado. Achei este poema.
Desconhecido, feliz dia dos namorados! Que um dia a gente se encontre! E que seja breve pois breve é a vida...

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Semana "vapt-vupt"

Esta é a semana "vapt-vupt". Nem começou já terminou. Feriadão era bom para ficar em São Paulo. A cidade ficava vazia, dava para ir ao cinema assistir aquele filme sucesso de bilheteria, dava para ir naquele restaurante que normalmente tinha fila de horas, dava para caminhar por aí sem atropelos. Enfim, eu conseguia curtir a minha cidade.
De uns tempos para cá a coisa nada mudada. O primeiro susto que levei com esta cidade abarrotada de gente, foi em 1997. Eu estava dando aulas de “Cabri Géomètre” na PUC-SP à noite. Eu saia de lá 23hs. No primeiro dia pensei:
- Que bom sair esta hora, Já não deve ter ninguém na rua. Em dez minutos já estarei em casa.
Ledo engano! Quando saí do estacionamento e peguei a Rua Caio Prado para entrar na Consolação, já estava tudo parado. Achei que era por causa da saída dos alunos da própria PUC e logo lembrei que tinha o Mackenzie e mais para cima o Anglo. Ainda bem que já tinha um celular para avisar em casa que iria demorar um pouco.
Um pouco? Demorei quase uma hora. Aquilo que eu achava que era trânsito local me acompanhou até a Vila Beatriz, onde eu morava. E foi assim todas as noites enquanto durou o curso.
São Paulo não tem mais dia nem hora. Quando minhas filhas estudavam no Colégio Bandeirantes, eu pegava congestionamento na Avenida Paulista as 6 e meia da manhã! Em geral elas acabavam indo de metrô para chegar mais rápido.
Ultimamente, como uso trem e metrô para ir à Santo André, há dias que fico inconformada com o mar de gente que circula nas estações em qualquer horário. Eu me sinto dentro de um formigueiro que acabou de ser pisado... Além da multidão de pessoas a distribuição é meio caótica, tem gente andando em todas as direções.
Quem sabe um dia eu levanto acampamento e vou curtir a minha velhice numa cidadezinha do interior! E não serve qualquer uma, pois esta loucura que vive a capital anda se espalhando! E quando chega um feriadão, aquele pessoal de vida pacata agora vem experimentar como é viver na grande metrópole.
Para encerrar o “post” de hoje, achei um poemeto que quando fiz, descobri que a minha parceira de trabalho compartilhava comigo o prazer de respirar fundo o ar frio de uma manhã de inverno, com o céu azul limpo, o sol brilhando e nos brindando com um sonoro “Bom Dia!”.

O ar frio da manhã
É como um sopro de vida
Que me desperta
E penetra em minhas entranhas.
Expande-se em meus pulmões
E me faz sentir viva,
Ativa,
Emotiva.

Bom dia sol
Que ilumina este céu límpido,
Azul,
Irradiante.
Que este seja um dia de luz,
Que a luz aqueça a minh'alma
E que ela voe livre,
Leve,
Feliz!

Bom dia mãe natureza!
Mostre toda a sua beleza
Com flores a desabrochar
E o perfume da terra molhada
Pelo orvalho que sobrou da madrugada,
Quando eu ainda estava resguardada
No quentinho do meu cobertor!

Lilia Maria
13/07/05
Para Sandra Cruzeiro que tanto gosta do ar frio da manhã

domingo, 7 de junho de 2009

Matemática Moderna incita à subversão

Entre os meus “guardados” encontrei um pequeno recorte de jornal de 1980. Creio que quem me enviou não se ateve muito ao conteúdo. A intenção era fazer uma brincadeira, já que o meu pai sempre me chamava de comunista. O título do artigo é o mesmo do “post” e o conteúdo é o que segue:

A idéia de subversão pelo ensino de matemática moderna já havia surgido há alguns anos e volta à baila através de duas revistas argentinas, tendo como origem geográfica sempre a mesma província de Córdoba,
Segundo a revista “Science for the People” (março/abril, 1980), as autoridades provinciais baixaram um novo decreto proibindo o ensino de matemática moderna na província. As razões são as seguintes: seus postulados estão a favor da lógica formal e favorecem a geminação de uma ideologia subversiva cuja linguagem utiliza palavras “matriz” e “vetor”, consideradas pelas autoridades “tipicamente marxistas”. A “pior” das palavras é “conjunto” por evocar a reunião, a coletividade, a massa!
Decididamente a matemática moderna consegue desagradar a gregos e troianos. Na Rússia ela é considerada muito burguesa.

O ensino da Matemática sempre foi uma grande preocupação para os educadores. Antes de 1950, os professores desta disciplina ocupavam-se com os cálculos aritméticos, as identidades trigonométricas, problemas de enunciados grandes e complicados, demonstrações de teoremas de geometria e resolução de problemas sem utilidade prática. No início da década de 60, ocorre uma mudança, influenciada por uma discussão internacional acerca de uma nova abordagem para o ensino de Matemática. Este Movimento internacional torna-se conhecido como Movimento da Matemática Moderna (MMM).
Quando ingressei no antigo ginásio, em 1964, a maioria dos professores de matemática do estado de São Paulo estava comprometida com a mudança de curso do ensino dessa disciplina. Dentro do MMM, a construção do conhecimento matemático era feito a partir dos conceitos básicos da Teoria dos Conjuntos. A crítica que sempre foi feita a este método de ensino é que os conceitos são muito abstratos e que levam a um formalismo matemático desnecessário no ensino básico.
Muitos anos depois, já formada e trabalhando em sala de aula, tornei-me uma defensora feroz da continuidade dos preceitos fundamentais do MMM. A construção da matemática a partir da lógica embutida na Teoria dos Conjuntos, a meu ver, tornava claro muitos dos conceitos que antes eram decorados. O problema não era o que se ensinava, mas como se ensinava. Conceitos abstratos podem ser facilmente absorvidos quando se parte do concreto para a generalização.
Pensando nas experiências que os alunos deveriam ter para sair do concreto para o abstrato, em 1985 tentei criar na escola em que era titular um “laboratório de matemática”. A idéia era que os alunos fizessem experiências ou que participassem de brincadeiras para depois, refletindo sobre a atividade, construíssem definições e conceitos.
Meu experimento durou exatamente dois dias. A diretora da escola, alegando que os alunos faziam muito barulho, proibiu a atividade. Conversando depois com os meus colegas, eles disseram que na sala de aula não se escutava o que estava acontecendo no pátio. Insisti com a diretora dizendo que o barulho não estava incomodando o andamento das outras aulas. Aí ela “disparou”:
- Incomoda a mim... Menina! Aprenda: escola só é boa quando não tem aluno dentro!
O choque foi tão grande que a partir deste dia decidi buscar outros horizontes.
Apenas para encerrar, 1964 foi o ano do golpe militar. Se a matemática moderna era subversiva, obvio que aqui no Brasil, mais cedo ou mais tarde, ela deixaria de ser ensinada ou então, seria ensinada, mas não de forma adequada. Um assunto a se pensar...

sábado, 6 de junho de 2009

Tempo e movimento

Dentro da Matemática nada me encantou mais do que estudar alguns paradoxos. Como na época da minha graduação eu andava muito com a turma da minha irmã, Livia, quase 8 anos mais nova do que eu, de vez em quando eu ficava filosofando e divagando sobre as coisas que eu ia lendo e aprendendo. Normalmente a molecada ia no embalo dos meus pensamentos. Era um verdadeiro exercício de lógica! Aí o pessoal achava que eu estava “viajando” e perguntavam para minha irmã qual o "ácido" que eu havia tomado. Logo eu... A “careta” da história...
Nunca precisei de qualquer tipo de droga para viajar, bastava e basta ainda, embarcar em alguma idéia ou sonho. Eu vôo alto!
Mas vamos ver os paradoxos que eram os maiores alvos do meu encanto. Claro que vou contar toda uma história para exemplificá-los.
Imagine aquele arqueiro que protagonizou o momento mágico da Olimpíada de Barcelona, acendendo a pira olímpica disparando uma fecha incandesceste em direção a ela. Será que ele realmente conseguiu acendê-la? Muita gente diz que não, que tudo não passou de uma grande encenação, etc., etc.
Se analisarmos a situação, podemos pensar que, para atingir o alvo, a flecha deve passar pelo ponto que determina a metade da distância entre o arco e o alvo. Assim que a flecha atinja este ponto, ela terá que atingir o ponto que determina a metade da distância entre o ponto anterior e o alvo. Sucessivamente, a flecha sempre deverá vencer a metade do ponto onde se encontra e o alvo. Desta forma sempre haverá uma “metade” de distância a percorrer, portanto o alvo nunca será atingido.
Podemos partir também de outra hipótese, esta com relação ao tempo. O tempo é uma sucessão de instantes, certo? Se olharmos a flecha em cada instante, como se estivéssemos fotografando, dentro de cada instante ela estará parada, certo? Se ela está parada em cada instante, então ela não se movimenta, e se ela não se movimenta, não atinge o alvo.
Meio maluco, n’é?
O doidinho que pensava estas coisas era o filósofo grego, Zenon, nascido na cidade de Eléia e que viveu entre 490 e 430 A.C.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Despedida

Primeiro escrevi o verso
Reverso da minha vontade.
Depois parti pelo mundo
Em busca da minha sina.
Do verso fiz canção
E cantei como a oração
Que ecoava dentro do outeiro.
Era o hino do caminhante
Que a lugar algum chegaria.

Portas entreabertas
Instigam a curiosidade,
Fascinam...
Mas nunca se abrem ao visitante
Que busca alento e repouso
Aos ossos cansados da lida,
À alma cansada da vida.

Portas e janelas entreabertas
Nunca recebem ar e luz suficiente
Para acabar com o pó e o bolor,
Para tirar o cheiro de mofo,
Para fazer geminar a semente
Não plantada ao acaso
Mas por vontade de vê-la explodir
Em brotos, ramos e flores
Que encantam,
Que enfeitam,
Que perfumam...

Assim se despede o viajante
E retoma o caminho a trilhar
Esperando um dia poder voltar
E não achar nada no mesmo lugar.

Lilia Maria

04/04/2006


Eu vivo falando de sementes e flores...
Como é importante perceber o ciclo da vida!
Eu sempre acreditei que todo tipo de amor, seja entre um homem e uma mulher, seja entre amigos, seja entre pais e filhos, funciona como uma plantinha. Um dia a semente é plantada, regada e cuidada, aí começa a geminar. Aparece o broto tímido sobre a terra e a plantinha continua a ser cuidada. Ela cresce, floresce, pode até dar frutos, mesmo assim precisa de atenção.
Talvez o cuidado que temos que ter é ao escolhermos a planta a ser plantada. Um cedro vive mais de 500 anos. É forte, majestoso! Já uma pequena leguminosa, como por exemplo, o feijão, tem vida efêmera. Vive apenas o suficiente para dar frutos.
Resta saber, esta será minha eterna dúvida, se temos a prerrogativa da escolha. Uma coisa a se pensar...
Toda esta história tem um pouco a ver com o sentido do poema. Nele eu falo de pessoas que se fecham em seu mundinho e que não dão chance para sabermos nem um pouquinho do que realmente são. Acenam, mostram a porta entreaberta, nas na verdade vivem na penumbra da vida. Que planta gemina na penumbra? Creio que nenhuma...

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Atitude

Águas calmas
Correm profundas!
Águas represadas
Pedem vazão!


Mexa no lago,
Faça um rodamoinho,
Abra a comporta,
Deixa a água sair!


E, se não der mais para segurar,
Deixa o lago secar.
Tudo toma seu curso
Mesmo quando se erra
Com vontade de acertar.


Lilia Maria
out/2002


Aqui estou eu de novo fazendo um intervalo entre um slide e outro de uma nova apresentação. É a terceira da semana. Estou ficando craque em resumos e textos em inglês. Tanto esta como a anterior os textos eram em inglês. E eu que não gostava de inglês...
Bom, já tive que me render aos computadores, agora à língua. Textos técnicos nunca foi problema, mas textos de sociologia... Começa que a linguagem dos sociólogos é muito diferente do que estou acostumada. Enfim, vamos lá. Não há nada que a gente não possa aprender, já dizia Jean Piaget.
O post começou com um velho poema. Não me lembro mais porque escrevi, mas era um momento que eu precisava dar a grande virada. E dei... O lago secou, as lágrimas também e fui à luta. Foi como um renascer.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Hoje eu vou brincar de UTOPIA

Primeiro tem-se que entender o significado da palavra:

Utopia normalmente é utilizada para descrever uma civilização ideal, imaginária, fantástica. A palavra foi cunhada a partir dos radicais gregos οὐ, "não" e τόπος, "lugar", portanto, o "não-lugar" ou "lugar que não existe". O termo utopia foi inventado por Thomas More e serviu de título para uma de suas obras escritas em latim por volta de 1516. Segundo os historiadores, More se fascinou pelas narrações extraordinárias de Américo Vespucio sobre a recém avistada ilha de Fernando de Noronha, em 1503. Decidiu então escrever sobre um lugar novo e puro onde existiria uma sociedade perfeita. O "utopismo" consiste na idéia de idealizar não apenas um lugar, mas uma vida, um futuro, ou qualquer outro tipo de coisa, numa visão fantasiosa e normalmente contrária ao mundo real. O utopismo é um modo não só absurdamente otimista, mas também irreal de ver as coisas do jeito que gostaríamos que elas fossem.

Tudo isto só para introduzir outro poema antigo. De certa forma é o retrato de uma parte da minha vida. Tem tudo de utopismo...

Faz de Conta

Na conta do faz de conta,
Tudo conta,
E conta contra
Aquilo que sempre quis.
Um fazia de conta que amava,
O outro, que era feliz.

E com tanto faz de conta,
Feito um conto,
A história se passava.
O mundo todo admirava,
Parecia até conto de fada.
Um fazia de conta que era tudo,
O outro, que era nada.

Quando se conta o faz de conta,
Não é conta de chegar,
Aquele faz de conta
Parecia não terminar.

Vamos então fazer de conta
Que a conta vamos acertar,
Faz de conta que foi tudo "faz de conta",
Faz de conta que eu não sei contar.

Lilia Maria

21/09/2003

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Realidade

Tudo muda
E eu fico muda,
A vida eu não posso parar,
Diante de tanta mudança
Só me resta aceitar,
E viver,
E curtir
A mudança que ainda vai vir.

Tudo muda,
A vida muda,
E eu muda feito uma porta.
Só paro de mudar
No dia em que estiver morta.

Lilia Maria
13/03/2003

Pois então, uma hora da manhã e eu aqui, tentando terminar a minha apresentação...

O problema é que a cada parágrafo que leio me convenço mais que tenho que voltar aos meus velhos ideais. Se meu pai lesse alguns dos pensamentos que me passam pela cabeça ficaria aflito. Ele sempre fala que eu sou uma boa filha. mas tenho um defeito: sou comunista...

COMUNISTA? Eu!!!! Só porque vivo defendendo os interesses alheios? Só porque muitas vezes tomo as dores de alguns menos privilegiados?

Já mudei, remudei e tornei a mudar, mas uma coisa nunca perdi: a vontade de viver em uma sociedade mais justa.