quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Duas contas


Duas contas no meu conto, contam
A história do meu cantar.
Na noite escura, iluminam
Os sonhos que eu sonhar.
Duas contas, duas pedras preciosas,
... Quem eu insisto em guardar.

Lilia Maria

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Olhares

Minhas vestes cobrem apenas a nudez,
A alma continua exposta.
Quem me vê com os olhos,
Enxerga o colorido das roupas,
Mas não a cor da emoção.
Quem me vê com o coração,
Percebe a palidez do silêncio
Que guardo não sem razão.


Lilia Maria

terça-feira, 5 de julho de 2011

A quem interessar possa

Ele não ama mais?
Nem menos?
Continua amando como sempre?
Amando ninguém?
Então ele tem amor...
Você é ninguém...
E, como ninguém é eterno,
E eterno só Deus,
Você é uma divindade.
Que privilégio ser ninguém nesta vida...
Ei você ai
Que briga para ser alguém!
Se liga!
A vida é muito maior
Que o caminho do seu olho ao umbigo...

Lilia Maria

De vez em quando é preciso chacoalhar alguém.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Dormir de colherinha

Dormir de colherinha... ou de conchinha... é tudo de bom...
Quando eu ia me casar, um amigo falou muito sério para nós dois: olha, nem tentem dormir agarradinhos... sobra braço, sobra perna... Fala boa noite, dá beijinho, e depois é “bunda com bunda...”
Na minha santa inexperiência, achei que estava certo. Mas o tempo foi passando, e a gente foi se conhecendo e se soltando... O sexo foi ficando mais gostoso... os limites foram se alargando... idéias foram surgindo... Hoje o meu conselho para moças casadouras seria este:
A dois, entre quatro paredes não tem proibido. Tem que ter entrega, tem que ter confiança, tem que ter vontade de agradar.
De repente o dormir “bunda com bunda” é bom, mas tem coisa melhor... Um dia se acorda exatamente na posição que se estava no último minuto do suspiro final do orgasmo fatal. Fatal, porque depois dele parece que o mundo acabou... E vocês estão renascendo... leve... gostoso... uma letargia só...
Dormir de conchinha é tão bom quanto isso que eu acabei de escrever. Não precisa nem passar a noite toda encaixadinho. É fazer a parceira adormecer... É o aconchego... É o se sentir gostado... Mesmo que não rolou sexo, é quase tão prazeiroso quanto o melhor dos sexos que se pode proporcionar para alguém... Aliás, se o sexo não for tão bom, acredite, uma mulher certamente vai achar o melhor da vida dela se o parceiro terminar a noite assim...




Lilia Maria

Coisas de Inverno III - Casamento mais que perfeito

Um casamento perfeito pode se tonar mais que perfeito. Basta acrescentar um detalhe.
Nessas noites geladas uma boa pedida é saborear uma sopa, ou caldo, ou creme, ou qualquer coisa bem quentinha. Isso, uma taça de vinho tinto encorpado e uma boa conversa pode ser um casamento perfeito para espantar o frio.
Ontem o meu casamento perfeito virou mais que perfeito. Creme de queijos servido no interior de um pão italiano fresquinho e crocante realmente me fez esquecer o vento gelado que soprava lá fora.
Está certo que além do pão italiano eu queria também o “pão italiano”, mas isso é uma outra história. De qualquer forma eu estava em boa companhia, e a conversa, definindo um roteiro por Buenos Aires, no mínimo aguçou a minha vontade de “colocar o pé na estrada”.

Lilia Maria

sábado, 2 de julho de 2011

Coisas de Inverno II - Clave de Sol

Clave de Sol. Este era o nome de um café que eu frequentava, principalmente durante o inverno, no final dos anos 70.
O charme do lugar ficava por conta do vinho quente que era servido flamejante. Sim, vinha para a mesa flambando. Para saboreá-lo era preciso esperar que o fogo apagasse e depois, que a caneca esfriasse um pouco. Em noites muito frias não demorava a chegar ao ponto certo.
Infelizmente, no início dos anos 80, acabou fechando. Nunca mais encontrei um lugar que servisse vinho quente desta forma. E nem tão saboroso.






Lilia Maria

quinta-feira, 30 de junho de 2011

Coisas do inverno I - Paris

Paris. Três graus abaixo de zero. Nem o casaco nem o cachecol conseguem fazer o frio parecer menos frio. Vendedores de castanhas estão por toda parte. Cinco francos por cinco delas. Assadas na brasa, quentinhas... Dois pacotinhos, um para cada bolso. Pelos menos as minhas mãos estão quentinhas. Adoro este clima. Sigo meu caminho admirando a beleza dos prédios antigos, mas confesso que, apesar de tudo, eles me parecem mais bonitos na primavera. Faltam as flores.




Lilia Maria

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Fiquei louca?

Deveria ser um conto de fada,
Mas no caminho só encontrei bruxa.
Puxa!
Eu beijei um príncipe
E ele não virou sapo...
Chega de papo!
Conversa fiada
Não leva a nada.

Era um sonho louco.
Procurava o coração
Que pela boca me saiu
Ao bater alucinado.
Coitado!
Ele, que só queria se apaixonar,
Das amarras se livrar,
Foi se deixando levar
Pelo sentimento mais inocente,
Mais puro,
Mais decente,
Que alguém já pode ter.

Por os pés no chão?
Voltar a ser prudente?
Não tem graça!
Prefiro ser meio doidinha,
Meio levada da breca,
Parecendo a eterna moleca,
Que andava perdidinha
No meio do turbilhão.

Lilia Maria


Retomando velhos escritos...
Não sou nem doidinha nem levada. Sou comedida demais. Isso é um problema. Penso tanto em não magoar as pessoas, em ser correta, leal, verdadeira que muitas vezes a única que sai chamuscada sou eu. Não importa. Não vou mudar agora. E se tiver que chorar, vou chorar. E se tiver que rir, vou rir. Vou viver e não apenas sobreviver...

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Dor de amor

Onde dói o amor perdido?
Como é a dor do amor doído?
É dor latente,
Dessa que enlouquece a gente?
É dor ardida
Como de uma profunda ferida?
É dor dormente
Como se fora um membro amputado que ainda se sente?
Onde dói a dor de amor?
Na alma?
No coração?
Só sei que não é como a dor doente,
E doi de forma diferente.
Não adiante pílula ou compressa,
Não tem cura por promessa.
Mas passa, um dia passa,
E se não passar, paciência,
Aprenda a com ela conviver.

Lilia Maria

Era mais ou menos isso.
Hoje estava no banco anotando coisas na minha agenda e li um poema que falava das nossas dores do corpo e da alma. Um poema inspirou outro...

Em tempo:
Rogério, esta agenda é uma grande companheira. Obrigada.

Partilha

Parte
a parte
de quem parte.

Parte
o pouco
da parte de quem fica.

Que parte
me cabe
nesta partilha?

Aparte
a parte de um,
reparte a parte do outro.

Quem parte
e reparte,
nem sempre toma parte.

Lilia Maria

Falando pra mim...

Cabeça de vento,
Tome tento
E para de sonhar.
Sinta o perfume da noite
Que vem de trás da cadeira
Onde você foi se sentar.
Não pense,
Não chore,
Não sinta saudade.
Um dia tudo entra no lugar.
Ah! As voltas que o mundo dá!

Lilia Maria

Hoje à tarde reparei que apesar de estarmos quase no final de junho, a minha flor-de-maio está coberta de botões. Reparei também que a minha dama da noite está exibindo lindos cachos prestes a desabrochar.
Agora pouco sentei na varanda. Estou sozinha em casa, as meninas foram viajar. O perfume doce e delicado estava espalhado no ar. Que delícia! Esta é uma noite perfeita para sonhar...

quinta-feira, 23 de junho de 2011

O dia em que eu virei torcedora do Santos

Não foi ontem não. Nem foi no dia de alguma vitória espetacular da era Pelé. Faz muito, muito tempo.
Sou descendente de italianos tanto por parte de pai como de mãe. Mas os Faccio’s sempre me pareceram mais italianos que brasileiros. E como bons “italianos” eram fieis torcedores do Palestra. Sim, Palestra Itália, o nome abrasileirado, Palmeiras, não fazia parte do vocabulário da família.
Meu pai sempre se orgulhou de ter sido jogador do time. Dizem que lá no museu do futebol tem algumas fotos dele com o resto do elenco em algumas partidas. Um dia ainda vou lá para conferir.
Meu avô era um torcedor tão fanático que assistia às partidas ao vivo, colado na televisão. E depois, tarde da noite, quando exibiam os VTs, ele continuava torcendo como se a qualquer momento fosse acontecer uma jogada diferente daquela que ele já havia visto.
Lembro-me que aos domingos, depois de nos reunirmos para o almoço de família, à tarde os homens se juntavam para ver futebol, as mulheres conversavam fazendo tricô e nós, as crianças, brincávamos no quintal. Mas, naquele dia estávamos todos na frente da TV. Creio que era algum final de torneio. Santos e Palmeiras disputavam o título. Eu devia ter mais ou menos três ou quatro anos, não mais do que isso. Estava sentada no chão ao lado do meu irmão que era um santista declarado.
O jogo nervoso, disputado, que para alegria dos mais velhos foi vencido pelo Palmeiras. Meu irmão estava choroso, triste pela derrota do seu time. Meu avô, dono de uma sensibilidade de fazer inveja a qualquer elefante despencando em um carrinho de rolimãs solto numa ladeira, bateu na cabeça dele e sentenciou: - Passe a torcer para um time de gente... Ele retrucou prontamente: - A partir de hoje sou corintiano! O Corinthians era o time do coração de toda a família da minha mãe.
Eu, que sempre fui solidária com a causa dos fracos e oprimidos desde a mais tenra idade, não falei nada. Apenas abracei o meu irmão e pensei com os meus botões: - A partir de hoje sou santista.
Nunca escondi isso. Vibrei feliz a cada vitória, me calei diante das derrotas, mas nunca admiti que ninguém, nem de um lado da família nem do outro me falasse absolutamente nada, muito menos que escolhessem por mim o time pelo qual deveria torcer por livre e espontânea pressão.





Lilia Maria

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Dança das cadeiras:

Usando geoinformação na resolução do problema de vagas nas pré-escolas públicas da cidade de São Paulo.




Título e subtítulo da minha dissertação de mestrado.


O que uma coisa tem a ver com a outra?


Tudo a ver...


Na brincadeira quem não tem cadeira para de brincar, nas escolas públicas, quem não tem cadeira para de estudar. Mas há uma diferença fundamental: na brincadeira as cadeiras são retiradas uma a uma. Já nas escolas, por mais vagas que se abram, sempre tem tido mais e mais crianças esperando pela sua.


A relação VAGAS X CRIANÇAS pode ser resolvida, mas não pode ser apenas de forma biunívoca, isto é, não adianta ter X crianças na zona norte e X vagas na zona sul. Tem que ter vagas onde as crianças estiverem. Daí a importância fundamental da geoinformação.


O trabalho ficou bonito e simples de aplicar.


Quem se interessar é só me procurar.




Lilia Maria

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Minha flor

Era tão bela
Aquela rosa amarela
Que nasceu no meu jardim.
Desabrochou antes da hora,
Enfeitando a aurora,
Que veio me despertar.
E por ser tão apressada,
Acabou atropelada
Pela própria ansiedade
De exalar todo o perfume
Que cabia em seu viver.
Não era para deixar a rosa morrer...
Mas acabou despetalada,
Moribunda ainda encantada
Que viu o dia nascer.

Lilia Maria

domingo, 19 de junho de 2011

Bendito seja

Bendito seja
Quem me faz sonhar com pecado,
Mas viver como santa.

Bendito seja
Quem me faz crescer aos olhos do mundo
E manter a menina ainda viva.

Bendito seja
Quem conhece meus mais loucos segredos
E não me julga por eles.

Bendito seja
Quem me mostra o outro lado de tudo
E mesmo assim me fascina.

Bendito seja
Meu mais lindo e fiel amigo.
Sempre e para sempre.

Lilia Maria

quinta-feira, 16 de junho de 2011

O que move o mundo

Quem pode, pode,
Quem não pode, pede.
E perde de lavada
Na próxima jogada.

Quem sabe, sabe,
Quem não sabe, fica quieto.
Quem fala o que não sabe,
Sabe que fica sem saber.

Quem semeia, colhe,
Quem não planta, não come,
Mas quem tem dinheiro, paga
Pelo pão que vai comer.

Lilia Maria

Conquistando

Quem nada de braçada
Sem medo de afundar
Pode chegar mais perto
De onde gostaria de estar.
Remando no mar da vida,
Saiba a hora de de parar,
De esperar um tempo,
De continuar.
E se tiver que voltar
Ao ponto de partida,
Não dê a batalha por perdida.
Só fica parado
Quem tem medo de viver,
De começar
E recomeçar
Milhares de vezes
Se preciso for.
A vida é assim.
Respire fundo,
Siga em frente,
Busque o melhor de si mesmo
Dentro do seu infinito coração.

Lilia Maria



Este poema foi "batizado" por Rô Martins.


Só não avança, não conquista nada na vida quem para diante dela, quem busca os caminhos mais fáceis, os atalhos. Quem quer chegar mais longe tem que dar de si, o melhor.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Quase um haicai

Sou viajante neste mundo de Deus,
Sou a concha pedida na areia,
Sou o ponto sem final.

Busco o porto para atracar,
A onda para voltar ao mar,
A frase para acabar.

Vim com o vento,
Na poeira que ele levantou
Nos lugares por onde passou.

Volto envolta na névoa
Que escurece o sol da manhã
E se desfaz no calor o dia.

Vou contente ao encontro da vida,
Do pulsar da emoção contida
No tropeço que não pude evitar.

Estou latente na calma aparente
Que um dia tende a acabar
Neste meu suave caminhar.

Lilia Maria

terça-feira, 14 de junho de 2011

Jogando poesia fora...

Vinha no trem pensando
Coisas que tinha que escrever,
Mas ficou tudo entalado,
Enroscado na ponta do lápis
Quando desci na estação.
Bota a cabeça pra funcionar,
Que as palavras vão sair.
Idéias explodem de vez
Quando nada mais cabe
No lugar que eu guardo o pensar.
Vai lá que quase não há mais espaço,
É só mais um pensamentinho
E o cérebro espatifa de vez...


Lilia Maria

Preciso mudar o título da dissertação.
Dança da cadeiras... Adorei... Foi assim que espliquei o problema de pesquisa.
Mas tem que ter geoinformação... Não pode ser geotecnologia, não...
Tem que ter a cidade de São Paulo...
E não é educação infantil, é pré-escola...
E não tem decisão, tem resolução...
Ave Maria!!!! Me socorre minha santinha!!!
Estou atolada no angú...


Em tempo: o título devia ser "jogando conversa fora", mas escrevi o poema... rs...

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Vô Antonio

Hoje, dia de Santo Antonio, acordei lembrando-me do Antonio que fez parte de minha vida e que jamais irei esquecer.
Um homem alto, forte, enérgico, com os cabelos brancos já rareando nas têmporas, sua elegância natural, seu bigode cuidado com carinho, seus olhos vivos e brilhantes, sua paciência, sua sabedoria.
Lembro-me bem dele chegando em minha casa, com seu paletó e gravata, como se fosse a uma festa. Sempre acompanhado da fiel companheira de todas as horas, minha avó Maria, realmente era uma festa cada uma das suas visitas. Eu era pequena, tinha mais ou menos 4 ou 5 anos. Mal ele chegava e sentava numa das cadeiras da cozinha, eu me aboletava em suas pernas para brincar de cavalinho. Uma delícia! Não creio que haja entre seus 17 netos, quem nunca tenha feito isso.
Nesta época, enquanto meu pai manteve o primeiro sítio de Cotia, sempre houve uma festa, com muita música, quentão e pipoca, em sua homenagem. Ele preparava o mastro das bandeirolas, trazia na bagagem rojões que soltava a cada convidado que chegava.
Foram anos de férias inesquecíveis, tanto no sítio como em São Carlos. A sua maior alegria era ver a casa cheia, era sentar à mesa reunindo a família com comida farta. Vovó era uma cozinheira de mão cheia, acho que herdei dela o gosto de fazer o prato preferido das pessoas que quero bem.
Quando fui estudar na EESC, ele ficava incomodado ao me ver vestindo calça comprida ou bermudinhas para ir à universidade ou mesmo sair para encontrar os amigos. Ele dizia que daquele jeito eu nunca ia ter um namorado. Um dia ele me disse que quando fosse a São Paulo na próxima vez iria me comprar roupas adequadas. Ri muito imaginando como seria vestir roupas parecidas com as da minha avó. Vovó nunca usou calça ou mesmo maiô na praia. Ele se orgulhava todo ao dizer que as pernas dela só ele havia visto.
Um dia resolvi fazer a tal roupa adequada. Comprei um corte de tecido com flores miúdas e mandei fazer um vestidinho bastante comportado, de mangas compridas, milhões de botõezinhos e no meio dos joelhos. Me vesti assim, e fui jantar. Ele bateu palmas ao me ver. Mas, para sua surpresa (ou tristeza) a alegria durou pouco. Assim que terminei de jantar, coloquei outra roupa e fui passear. Só o vi sentado em sua cadeira que balanço e dizendo com ar de insatisfação: essa não tem jeito não.
Nunca imaginei minha vida sem os dois, e já fazem mais de vinte anos que eles se foram. Vovô morreu de velhice. Vovó nunca se conformou. Seu travesseiro continuou ao seu lado, seu lugar à mesa nunca foi ocupado, ela nunca deixou a sua casa e acabou morrendo de amor alguns anos depois.
Meu Antonio inesquecível viverá para sempre nas lembranças de seus filhos, netos e dos bisnetos que o conheceram. Todos nós temos histórias para contar e certamente nenhuma é triste.
A sua bênção meu avô!





Lilia Maria

domingo, 12 de junho de 2011

Jantar do dia dos namorados

Comprei meia dúzia de camarões. Os maiores que encontrei. Eles estão marinando no limão cravo, sal, cebola e alho. Vou deixar um bom punhado de salsinha e alho bem picados e um pouco de arroz pronto.
Pouco antes da hora do jantar, vou fritar os camarões na manteiga. Depois de prontos, vou tirá-los da frigideira e colocar nela o alho e a salsinha. Quando o alho estiver douradinho, vou misturar com o arroz na própria frigideira. Hummmmmm... Bom demais...
A varanda vai estar decorada com velas e os candeeiros estarão acesos. A mesa posta para dois, estará enfeitada de pequenas flores.
Aí é arrumar o prato. Três camarões em cada um e o arroz. Invente! Use toda a imaginação.
Duas enormes taças de vinho branco seco e um brinde: ao amor! Que ele nunca nos falte! E está servido o jantar.
Sobremesa? Mousse de chocolate enfeitado com pequenos confeitos em forma de corações. Um cálice de vinho do Porto, muito carinho e muito dengo pode ser um bom prólogo para o gran finale.
Aí é dormir de colherinha, que com este frio, é a melhor coisa do mundo.

Lilia Maria






Gostaram? Sonhar não é proibido...

sábado, 11 de junho de 2011

Conto de outono V - final

De volta à casa. Nada hoje me fez lembrar onde eu estava e o que eu fazia quando gravei a imagem do rosto de pedra. Preciso esquecer.
Deito em meu travesseiro, fecho os olhos e relaxo. Lembranças voltam como um sonho. Vejo a mocinha vestida de preto. Ela tenta escapar de quem está no caminho. Um passo em falso, um tropeço e dois braços fortes a seguram antes da queda. Assustada ela levanta os olhos e mal consegue ver quem a abraça. Está trêmula. Tão trêmula quanto os braços que a enlaçam. É pura emoção. Não adianta se debater. Está cativa, entregue. Suas pernas não obedecem ao comando da mente. O coração bate forte. Apenas um segundo, mas parece toda uma vida. O beijo é inevitável. Os lábios se tocam de forma doce e gentil. E se entreabrem para saborear em êxtase o momento de abandono.
Digo a mim mesma:
- Ô louca! Não mude a realidade do passado ao sabor dos seus devaneios. Não aconteceu e nada faz isso mudar...
O sonho se apaga. Deixo o sono me arrebatar. Preciso descansar.
Não quero mais lembrar de quem é o rosto de pedra. Não quero mais decifrar aquela voz. A realidade se impõe mais uma vez. Um último verso paira no ar:



Se mesmo no final da vida
Meu lindo sonho se realizar,
Direi feliz, não foi perdida
Toda esperança que vivi a sonhar.





Lilia Maria

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Ciclos

Todo dia nasce
Esperando o sol aquecer.
Todo dia nasce
Para haver um entardecer.
Todo dia nasce
Para na calada da noite morrer.

Todo dia acontece,
Toda noite escurece,
Toda vida se esvai.
Nasce e renasce...
É eterno, eternamente.


Lilia Maria

E assim vou chegando ao fim...

... e termino meu trabalho querendo dizer que Geotecnologia é a realidade a ser abraçada por todos os gestores que querem saber onde está a sua clientela, como ela está sendo atendida, quem não está gozando dos seus direitos, onde estão os problemas e como solucioná-los de maneira eficiente e eficaz.
Termino fazendo coro à fala do professor Câmara que sabiamente preconisa:
“Se onde é importante para seu negócio, então Geoprocessamento é sua ferramenta de trabalho".
Quero aqui, mais uma vez agradecer aos meus amigos por todo carinho, atenção, palavras de incentivo, dicas e sugestões. Quero agradecer também a quem me colocou de “castigo” diversas vezes e me cobrou que eu terminasse a minha tarefa. Amo você! Amo vocês, pessoas lindas que me acompanharam nesta jornada.
Beijos a todos

Lilia Maria

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Na terra do nunca

Nunca mais chore.
Nunca mais estarás só.
Nunca amei ninguém assim.
Nunca pensei que fosse possível.
Nunca pensei em viver isto.
Mas...
Nunca mais escreva.
Nunca mais pense.
Nunca mais fale.

Nunca mais sonhe.
Nunca mais aguarde.
Mas...
Nunca me esqueça,
E ore por mim.
Assim seja...


Lilia Maria

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Dica para espantar o frio

A cama está fria? Os pés gelados? Já se enrolou em todas as cobertas da casa e nada de esquentar? Garrafa PET é a solução...
Minha filha, Andrea, morou por um ano em Barcelona. Foi de lá que ela trouxe a idéia.
Num dia de muito frio, quando fui me deitar, reparei que havia um “morrinho” na minha cama. Achei que era apenas um dobra do edredom. Enfiei-me debaixo das cobertas rapidinho, já imaginando quanto tempo levaria para ficar quentinha e dormir.
Qual não foi a minha surpresa ao sentir a cama morninha, daquele jeitinho que convida a gente a relaxar e sonhar... Ah! É tudo de bom!
A minha filhotinha linda, sabendo que eu sinto muito frio nos pés, resolveu esquentar a minha cama da forma que ela havia aprendido no alojamento da Universidade. Esquentou água, encheu as garrafas PETs vazias que encontrou e colocou sob as cobertas das camas da casa. Todos aqui se deliciaram com o carinho desta mocinha que tem o coração maior que ela mesma.
Dica para quem quiser experimentar: a água não pode ser fervente, pois deforma a garrafa, mas se deformar, sem problemas, atarraxe bem a tampa, verifique não tem vazamentos e coloque-a sob a coberta um tempo antes de ir deitar.
... e bons sonhos!!!!





Lilia Maria

terça-feira, 7 de junho de 2011

O "Pai Nosso" que Jesus me ensinou

Pai nosso que está nos céus
Zelando por nós e por nossa jornada,
Santificado seja o seu nome
E que nunca o usemos em vão,
Que o seu reino possamos habitar,
Pois és generoso em sua acolhida.
Que a sua vontade prevaleça sobre os nossos desejos
Tornando-nos dignos de suas bênçãos
Em todo o tempo e lugar.
Dê-nos Senhor, o pão que alimenta o espírito
E nos faz viver dentro dos seus ensinamentos
De bondade, justiça e amor.
Que os nossos pecados sejam compreendidos e perdoados,
Pois o perdão e a compreensão devem fazer parte das nossas vidas
E de todos aqueles que nos cercam.
Não nos deixe trilhar caminhos escuros,
Sem a sua luz que nos mostra

Quem somos,
Por que somos
E onde estamos.
Dê-nos Senhor um voto de confiança
E nós mostraremos que somos dignos do seu amor infinito.
Agora e para sempre,
Amém

Lilia Maria




Quando eu era menina morava em um apartamento no centro da cidade de São Paulo. Na parede do corredor de distribuição dos cômodos havia um quadro do Sagrado Coração de Jesus. Foi diante dele que aprendi a rezar.
Quando eu tinha mais ou menos 15 anos, mudei para a casa do Sumaré. O quadro foi colocado no hall da escada que levava ao piso superior. O lugar era muito propício, pois logo que levantava e descia para a cozinha para tomar o café da manhã para depois sair e começar o dia, descendo a escada, era natural vê-lo e fazer a oração da manhã.
Um dia eu estava sozinha em casa. Já era o fim da tarde e estava escurecendo. Ao descer a escada apenas calçando um par de meias, escorreguei nos primeiros degraus e acabei descendo a escada na posição de sentada. Doía tudo. As lágrimas escorriam pelo meu rosto. E não era só pela dor, mas também pela tristeza que estava sentindo. Eu nunca fui uma adolescente rebelde, pelo contrário, era dócil e obediente, mas me sentia feia e abandonada. Tinha os meus motivos...
De repente ergui os olhos e vi o sorriso bondoso de Jesus. Era como se ele compreendesse o que eu sentia. Começamos a conversar. Sim, conversar. Eu falava e ele me respondia. Comecei a ver que eu precisava mudar muitas coisas em minha vida para ser feliz.
As nossas conversas acabaram se tornando quase que diárias. Eu me sentava na escada e era como se Ele saísse do quadro e viesse se sentar ao meu lado.
Um dia ele me perguntou se eu já havia me dado conta que essas nossas conversas eram a minha forma de orar. Desde este dia, rezar não é para mim desfiar o rosário de orações prontas que aprendi durante o meu "Postulado da Oração". Muitas vezes, Jesus me desafiava a transformas aquelas orações prontas em outras.
Assim, hoje estou postando o "Pai Nosso" que Jesus me ensinou.

Até breve...

Vi seu vulto se afastando,
Ao meu redor tudo se apagando,
Eu acordei chorando,
E o seu nome suspirando...



Nem sempre os sonhos trazem a alegria de momentos que queremos viver em tempo real. Eles pode refletir coisas que temos medo que aconteçam. E elas acontecem...

Já passei por momentos difíceis, por perdas que me deixaram completamente sem saber o que fazer. Hoje esssas coisas não me assustam mais.

Sei que as feridas cicatrizam... Deixam marcas, mas depois de um certo tempo param de doer.

Esta quadrinha me acompanha há anos... A cada momento ela tem um significado. Hoje ela foi lembrada para dizer adeus a um amigo que se foi...


Lilia Maria

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Canto contido

Poeta bom de trova
Ensinou-me a recitar
Os versos que hoje escrevo
Para as montanhas e campinas,
Para as sombras do luar.
Não me falta inspiração
Se deixar a minha alma voar
Nas pradarias deste rincão
Que hoje vim visitar.
Canto as águas do riacho,
Que da pedra fez o seixo
De tanto levá-la pra lá e para cá.
Canto a saudade do caboclo,
Que perdeu a felicidade
Que custou muito a encontrar.

Quando acabar o meu cantar,
Vou sair a campear
Meu destino, minha vida,
Meu alento, meu lugar.


Lilia Maria

Estava eu em Poços de Caldas,
Quando a inspiração veio me encontrar....

Obra divina

A flor apaixonada
Recebeu, muito encantada,
O pólen que significava perpetuação da vida,
Trazido nas asas coloridas
O irrequieto colibri.
Assim foi emprenhada
E ficou agradecida
Por estar preparando as sementes
Que na primavera seguinte,
Cumprindo um ciclo sagrado,
Outras flores iriam gerar.
Flores com o mesmo perfume,
Com as mesmas cores,
Com o mesmo encanto,
Com o mesmo eterno amor
Com o qual cumpre seu destino
Neste mundo comandado por Deus.


Lilia Maria



Assim como entre os humanos, as plantas precisam do toque, do contato, de um grão que se funde a outro, para que possam reproduzir-se e manter-se vivas.


"As flores que desabrocham na primavera foram geradas no inverno."


Sempre haverá uma primavera depois de um inverno, basta saber esperar o tempo passar.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

No caminho das Gerais

As montanhas verdejantes
Que um dia ouvi falar
Se descortinam à minha frente
Muito antes da fronteira cruzar.
Serras morenas
Escondidas nas sombras do entardecer
Fazem-me vagar pelos sonhos.
Vou desfrutando encantada
A estrada que serpenteia
Entre matas e campinas.
Saio do solo paulista,
Entro em terras das Gerais,
Nos caminhos das bandeiras
Que desbravaram estes quintais.
Saudada pela orquestra de violeiros,
Já não cabe no peito tanta emoção,
Ao escutar muito saudosa
A cantiga do Luar do Sertão.

Lilia Maria


Obrigada André e Ju pela oportunidade de estar aqui com vocês na 42ª Conferência Distrital da União em Poços de Caldas.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Beijo soprado

Beijo soprado,
No ar apanhado,
Como se apanha um pensamento.
Beijo guardado
Como tempos felizes,
Como horas roubadas,
Como juras trocadas,
Num arquivo do computador.
Escuto o beijo soprado
Mais uma vez...
Mas do outro lado
Não há interlocutor.

Lilia Maria

Eu amo o ciberespaço...
Se um dia me mudar deste mundo, é pra lá que eu vou...

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Amor aos pedaços

Junterei pelos traços
Os pequenos pedaços
Da jura de amor que escrevi,
E que piquei tudo num repente,
Quando estava de cabeça quente.
Prometi esquecer,
Mas não esqueci.
Ficou tudo no fundo da gaveta,
Guardado como tesouro
Que um dia ainda vou resgatar.
Darei uma grande gargalhada
Do que escrevi apaixonada,
E com tanta ingenuidade
Que nem parece verdade.
Ah! As coisas do coração!


Lilia Maria

Estou tão cansada que precisava escrever alguma coisa diferente. Eis...

quarta-feira, 25 de maio de 2011

O que é o amor?

Seria o amor como o mar?
Imenso, poderoso, envolvente, profundo.
Ora agitado, ora manso,
Ora em alta, ora em baixa,
Lindo quando encontra o céu e traça o horizonte.
Assustador?

Seria o amor como o vento?
Morno, suave, gostoso, arrebatador.
Ora vigoroso, ora calmaria,
Ora trazendo a tormenta, ora trazendo a bonança,
Uma brisa, um sopro, um furacão.
Inconstante?

Seria o amor como a terra?
Cheia de segredos, de vida, macia, arenosa.
Ora fértil, guardando a semente a geminar,
Ora árida, seca, sem nada para dar,
Mas sempre uma promessa de vida por começar.
Esperança?

Seria o amor como o fogo?
Quente, doloroso, que ilumina, que arrasa.
Ora bem vindo, ora maldição,
Ora incontrolável, ora uma chama.
A grande conquista do homem.
Fascinante?

Lilia Maria

terça-feira, 24 de maio de 2011

Só vou gostar de quem gosta de mim

Amor Antigo

Este amor é tão antigo
Que há muito já caducou,
E há tanto tempo existe
Que do meu coração se apossou.
Usucapião com certeza,
Para tomar posse, usou.
Com tanta antiguidade,
E por seu o pioneiro,
A todos os outros expulsou,
E sem pedir ordem ou licença,
Se instalou e ficou.

Lilia Maria





Acho que escrevi este poema para mim mesma, afinal de contas a primeira pessoa que gostei foi de mim mesma, não foi? Toda vez que vejo um bebezinho observando as próprias mãos e os pés, logo penso que ele está namorando a si próprio.




A gente tem que se amar acima de tudo, pois só o amor atrai o amor.



Lembro-me bem que um dia acordei e estava tocando "Só vou gostar de quem gosta de mim". Logo pensei, "é isso!". Depois, no caminho da Editora onde trabalhava, fui matematicando a minha decisão.



- Se eu só gosto de quem me gosta, e quem me gosta só gosta de quem o gosta, estamos todos nos gostando sem medo de gostar. Ô coisa boa! A vida devia ser mais assim.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Despertar

O relógio toca alucinado
Anunciando a hora de despertar,
E o vento zune através da vidraça...
Abro os olhos sonolentos,
Sangra a madrugada
Tingindo o céu de púrpuras cores.
Prenuncio de um dia agitado.
É hora de espreguiçar,
Acordar cada músculo do corpo,
Jogar a dormência de lado
E me levantar.

Mais um dia que chega!
Mais um dia que passa!
É a vida que acontece...

Lilia Maria

domingo, 22 de maio de 2011

Palavras soltas

Agora eu quero contar
O que não conta a minha voz.
Voz que se cala diante da vida,
Diante do espanto
De ver o mito caído,
O anjo que era imortal.
Volta tudo ao normal,
E com um pouco de sorte
Vou encontrar meu norte,
Minha casa,
O meu canto no mundo,
Onde sou dona de tudo,
Da minha vontade,
Dos meus sonhos,
Do meu ideal.
Bem vindo à vida real!
Nela não há espaço para devaneios,
Tem seriedade,
Tem verdade,
Tem felicidade
Que divido com alguns poucos
Que não têm receios em olhar para trás.
Não me escondo diante do medo
De perder tudo
E começar outra vez.
Quem aprende a caminhar sozinho
Não para diante da ribanceira,
Dá a volta,
Refaz o caminho
E segue em frente,
Com galhardia,
Com a sabedoria,
Certo de não se arrepender
Da vida que escolheu viver.


Lilia Maria



Não sei se era isso que eu queria escrever.


Neste momento estou me sentido de novo à beira da ribanceira. É difícil fazer escolhas principalmente quando não se tem certeza de nada.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Conto de outono (IV)

Acabo de sair do banho. Como eu gosto do cheiro de banho tomado! Inalo o perfume suave de rosas do meu sabonete. Ele me lembra coisas boas.
Preciso me trocar. Continuo pensando naquilo que não posso entender. É incrível como a imagem do rosto de pedra e a voz que não consigo identificar mobilizam a minha imaginação. Ainda vou lembrar onde eu estava.
Tenho um convite para jantar. Amigos que não vejo há muito. Gente que eu gosto e confio. Mas não vou falar do que anda acontecendo. Ninguém entenderia. Este mistério vou ter que desvendar sozinha. Como pode alguma coisa sumir da nossa lembrança desta maneira?
Acabo de me lembrar que tenho uma caixa de quinquilharias no fundo do meu armário. Cartas, fotos, postais, flores secas, moedas antigas, brinquedos do um tempo de menina, meus velhos diários. Está tudo lá. Quem sabe alguma coisa traga de volta um lampejo de memória.
Agora estou mais calma. Sinto uma imensa ternura brotando em meu coração. É como se esperar não fosse em vão. Só não sei o que espero... Ou quem espero.
Tenho muito que fazer até a noite. Vou remexer nos meus guardados. Isto sempre me traz alegria. Apesar dos pesares não posso reclamar da vida que tive. Amealhei alguns tesouros que por nada no mundo trocaria.






Lilia Maria

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Conto de outono (III)

Acordo devagar, espreguiço-me languidamente e percebo que estou sozinha. O travesseiro ao meu lado ainda guarda a marca da cabeça que há pouco ainda estava repousada nele, mas está frio. Tão frio quanto o rosto cinzelado em pedra que vejo quando fecho os olhos.
Não, ninguém dormiu aqui. A porta continua fechada, mas a presença foi sentida a noite toda. Eu escutei a respiração macia de quem dorme em paz. Eu senti a mão pousada em meu seio. Eu senti...
Como assim? Quem esteve aqui? Sonhos não deixam marcas nos lençóis. Nem em travesseiros... Enlouqueci?
Abro a janela, respiro o ar frio da manhã, e volto para o quentinho do cobertor. Há de haver uma explicação. Preciso me lembrar onde estava quando gravei aquela imagem. Preciso decifrar aquela voz. Que segredos ela me contou?
A minha cabeça parece vazia. Não há mais recordações. Elas foram banidas ou guardadas em algum lugar do meu subconsciente. Não quero viver assim, sem saber o que fazer de mim.
Vou buscar o rosto de pedra. Vou buscar as palavras que faltam. Alguma coisa há de fazer sentido em toda esta história.








Lilia Maria

Conto de outono (II)

- Um tostão pelos seus pensamentos! Diria minha mãe agora se me visse sentada aqui. Eu não os daria nem por alguns milhões. Os segredos que agora guardo em minh’alma estão selados para sempre. São apenas meus e de mais ninguém. Não quero mais dividi-los. Fiquei muito vulnerável na última vez. Espero ter aprendido a lição.
Continuo sentada naquela cadeira da varanda. Há quanto tempo estou aqui? Minutos, horas, dias? Parece que já se passou uma vida, uma eternidade. E eu continuo querendo me lembrar onde eu estava naquele dia.
Uma centelha de luz ilumina meus pensamentos. Ainda escuto aquela voz ecoando em meus ouvidos. As palavras são desencontradas, não consigo juntá-las e formar uma frase que faça sentido. Sempre falta alguma coisa, são como enigmas que tenho que decifrar... Ou adivinhar...
Estou cansada. Preciso dormir. Faz séculos que não deito no meio da minha cama e ocupo todo o seu espaço. Hoje eu quero largueza. Os lençóis brancos têm cheiro de lavanda. Os travesseiros de plumas foram afofados. O cobertor, tão branco quanto os lençóis, dão um toque de leveza e aconchego. Sonhos virão acalentar o meu coração que há muito precisa de paz.
Apago os candeeiros, olho mais uma vez para a cadeira vazia e faço a última oração do dia, relembrando uma velha prece irlandesa.





“Que a estrada se abra à sua frente,
Que o vento sopre levemente em suas costas,
Que o sol brilhe morno e suave em sua face,
Que a chuva caia de mansinho em seus campos,
E, até que nos encontremos, de novo...
Que Deus lhe guarde nas palmas de suas mãos!"





Lilia Maria

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Conto de outono (I)

Sento-me na varanda, naquela mesma cadeira que um dia alguém ocupou prometendo voltar, mas não voltou.
A noite está fria, o céu garoento, a luz que me ilumina é a dos dois pequenos candeeiros suspensos na parede branca à minha frente.
Fecho os olhos mais uma vez e tento em vão rever a imagem. Onde eu estava? A única coisa que me vem à memória é a recordação de um rosto frio que parece ter sido esculpido em pedra, cinzelada por um bom escultor. A imagem é perfeita, mas os olhos não têm brilho. O sorriso parece mais um arremedo.
Por que não vejo o corpo ou as mãos? Mãos... Elas têm linguagem própria. Por que não prestei atenção? Ou se prestei atenção, por que agora não consigo vê-las? O que elas poderiam me dizer desta situação? Estariam escondidas com medo de revelar segredos?
Abro os olhos e eles parecem imensos dentro da escuridão. O futuro se abre como uma janela enfeitada por finas cortinas que não escondem nada. E por mais que me parece absurdo, ele é promissor. Melhor assim. Esperança é o que move o mundo!


Tenho fé que ainda vou retomar a minha vida.



Lilia Maria

O sonho, a flor e o livro

E assim foi que o sonho
Desceu à terra e virou flor.
E a flor desabrochou
Em suave perfume
E suave cor.
E assim foi que flor,
Colhida naquela manhã,
Foi guardada para secar
Nas páginas do livro
Que acabou de ser lido,
E na estante foi guardado.
E assim foi que o livro,
Que conta a história de um sonho,
Ficou para sempre esquecido.
Ele e o sonho que virou flor.


Lilia Maria

terça-feira, 17 de maio de 2011

Quando o pequeno se torna grande

Se você se acha um grão de areia,
Insignificante pelo tamanho que é,
Experimente se alojar no pé do sapato
De quem queira incomodar.
Se você se acha apenas uma gota
Que habita o imenso oceano,
Caia no copo d’água
Prestes a transbordar.
Se você se julga uma brisa
Que nem consegue uma folha balançar,
Torne-se o sopro gelado
E de ti vão se lembrar.
Tudo tem seu valor,
Basta saber procurar
O significado e a significância
Daquilo que você se tornar.


Lilia Maria

Alors

Après les adieux
Tout est vide,
Sans vie
Sans la volonté,
Sans la vérité,
Sans amour,
Sans chaleur
Pas de couleur.
Sans un peu de toi,
Sans un peu de moi.

Lilia Maria

Même triste, je suis très chic, n'est pas?

sábado, 14 de maio de 2011

Versejando (II)

--I--
Guardo ainda na retina
O sorriso semi-escondido
E a pressa do olhar.
Um segundo, um lapso,
Um momento de prazer
Que sempre há de me acompanhar.

--II--
Cativa dos meus sonhos
Não tenho pressa de acordar,
É melhor voltar a dormir
Antes do sono acabar,
Assim eu vou vivendo
Entre o sono e o sonhar.


--III--
Nas páginas amarelecidas
Do caderno que guardei
Encontro versos inacabados
Que nunca terminarei.
São histórias sem fim
Que gosto de contar.


--IV--
No entanto
O encanto
Que trago no coração,
Permanece enroscado,
Travado,
Guardado,
Trancado
Com o cadeado da razão.

--V--
Penso, logo existo?
Desisto?
Insisto?
Persisto?
O que é isto?
É pensar
E de novo começar.


Lilia Maria





Mais uma vez estou publicando coisas que vou escrevendo entre os parágrafos da minha dissertação. Acho que é uma forma de não endoidecer no meio de tantos cálculos, planilhas, mapas e conclusões.

Um poema inspira outro...

Moramos em casa cheia
De poetas velejadores
Que passeiam pela vida
Surfando em palavras velozes
Que penetram alma adentro
E acendem as tochas da paixão.
Somos magos do pensamento
Que flutuam nos sete mares
Como ilhas habitadas
Por alegria, por amor e por saudade.
Se do rosa fazemos o azul
É porque poetas têm outros olhos
Para ver o mundo em que estão.

Lilia Maria

Acabei de escrever estas palavras como um comentário ao belíssimo poema do Rogério Santos:


Rotas e Istmos
ROGERIO SANTOS

minha verdadeira casa
é onde mora a poesia
na gente no mundo
nas veias abertas dos rios
nas folhas ao vento
na fruta caída do pé
nas falhas da Terra
quintal de chão batido
redemoinho de saci
trator-de-lata-de-óleo
grão de areia e matacão
elã de vulcões e geleiras
aviões e barcos de papel
ritmo de rotas e istmos
estrada de mares e céu
nas palavras salva-vidas
nos luares pára-quedas
e no brilho dos olhares
quando miram estrelas
quando o abraço é uma teia
e a boca é copo cheio
quando a sede é de saliva

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Pensando na vida...

Depois do passamento do meu sogro, a última coisa que queríamos era ter qualquer pessoa da família com problemas mais sérios de saúde. Não deu outra... Dois dias depois internei meu pai com mais uma crise de diverticulite.
Ele nunca quer outra pessoa com ele e eu acabo ficando dias e dias sem dormir direito. Largo a minha casa, os meus afazeres, minhas filhas e com toda a paciência que consigo reunir, fico a postos até ele poder ficar sozinho de novo. Cuidar dos meus velhinhos não é fácil. Acho que eu mimo muito essas criaturinhas e acabo me tornando refém de mim mesma.
Quando eu era adolescente queria muito estudar medicina. Tenho certeza que teria entrado numa boa faculdade e mais ainda, que teria sido uma boa médica. Meu pai, que me proibiu até de pensar na possibilidade, hoje se diz arrependidíssimo, e volta e meia me oferece toda a assistência para que eu realize o meu sonho de menina. Não dá mais tempo.
Agora tenho outros objetivos, e nenhum deles passa por uma nova graduação. Estudar sim... Mestrado, doutorado, pósdoc... Estudar fora da cidade, do estado, do país... Onde? Não sei ainda, mas com certeza longe do olho do furacão. Será que eu consigo me desligar?
No enterro do meu sogro, meu primo Roberto, que sempre foi meu amigo e conselheiro, disse que eu preciso pensar mais em mim e pautar a minha vida em torno dos meus sonhos. Ele sabe que desisti de muitas coisas na vida por ser a filha obediente, a mãe zelosa, a esposa dedicada. Hoje sou dona do meu nariz. Não tenho que dar satisfação a ninguém, pago as minhas contas, moro no meu teto, dirijo o meu carro, mas ainda penso nos meus velhinhos...
Já me perguntaram se não tenho nada melhor que fazer além de colecionar diplomas. Acho que até teria, mas falta parceria. Então, é o que tem... e não sou infeliz por isso. De repente ainda vou juntar o útil ao agradável, quem sabe...
Por enquanto vou cuidando dos meus velhinhos...

Lilia Maria

Guardo em meu coração
Fantasmas do meu tempo de menina
Que me fazem companhia
Nas madrugadas insones.
Não tenho medo do escuro,
Nem mesmo de assombração,
O que me assusta são os vivos,
A mentira, a decepção.




Ly'

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Olhando o espelho

O espelho me mostra
Marcas do tempo,
Marcas da vida,
Marcas de emoção.
Cicatrizes cintilantes
Que ganhei sem querer,
Marcas bem vincadas
Das rugas de expressão,
O desenho quase infantil
Do momento que vivi.
Tudo fala de mim,
Tudo tem história,
Tudo ficará guardado
Até que a vida chegue ao fim.

Lilia Maria

domingo, 8 de maio de 2011

Aprendendo a ser mãe

Nunca estamos prontas.
Sempre achamos que podemos melhorar.
Mudar faz parte,
Aprender é missão.
E quantas facetas desenvolvemos ao longo da vida!
Dizemos sim sem arrependimentos,
Dizemos não com convicção.
Acolhemos generosamente,
Nos dividimos,
Subtraímos velhos modelos,
Adicionamos novas emoções.
Acertamos,
Erramos,
Mas nunca perdemos de vista
O papel que nos foi legado,
E que recebemos com alegria e satisfação.

Lilia Maria




Ontem ganhei o meu "Dias das Mães".



Conversando com a filhota mais nova, disse que havia feito um teste que diagnosticou que sou uma mãe politicamente correta. Ela disse que não. Que às vezes sou o mais incorreta possível, mas que eu não mudasse, pois ela gostava de mim exatamente do jeito que sou. Pode haver coisa melhor do que isso? Mas sei que ainda tenho muito que aprender...

sábado, 7 de maio de 2011

É proibido morrer

Hoje, no final da tarde, fui surpreendida, com a notícia da morte do meu sogro. Não que não estávamos esperando, ele já não estava bem há algum tempo e na última semana foi internado com insuficiência respiratória.
Eu realmente fiquei muito triste, e até sinto-me em falta com ele, pois fazia tempo que eu não o visitava. Mesmo separada do filho dele há quase dez anos, nós nunca deixamos de nos ver, pois para nós só existe ex-marido. Ex-sogra, ex-sogro, ex-cunhados, não cabia no nosso dicionário.
Que ele encontre a luz...
Embora minhas filhas tenham convivido muito mais com os meus pais, elas sentiram muito a morte do avô, acho que até mais que a da avó, há seis anos.
Quem me deu a notícia foi a minha filha Andrea. Eu estava na casa da minha irmã com os meus pais e ela me ligou pedindo para que eu fosse para casa. Ela estava carente. Precisava do colo da mãe. Como eu estava com o carro do meu pai, ela foi me buscar na casa dele.
Mal entrou na casa foi dizendo:
- Vô, vó... Vocês estão proibidos de morrer.
Meu pai deu risada, pois ele não está bem e sabe que mais cedo ou mais tarde vai ter que se despedir da gente. Minha mãe não entendeu...
No carro ela disse que a proibição era para mim também.
Claro que eu não quero morrer. Eu me sinto cheia de energia, tenho muitos planos de futuro, procuro não pensar nas minhas tristezas, mas a gente nunca sabe a hora.
Então estamos proibidos de morrer. E vocês, meus amigos que lêem o que escrevo, estão proibidos também.




Lilia Maria

Sunshine

Every morning
I greet you
Even when the light
Keep covered with clouds
Because I know up there,
Besides horizon,
Its rays are shining.
You are my faithful friend
Even thougth you can not understand
How much I miss you.
Even if not present
I know you're there
Somewhere in the universe.
Ever and forever.

Lilia Maria

Estudando inglês... Eu chego lá...

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Contos da Carochinha

A raposa namorava as uvas
Que pendiam em lindos cachos
No alto de uma parreira.
Até pareciam de cera
Não fosse pelo perfume da fruta
Prestes a amadurecer.
Mas raposa gosta de uva?
Resolveu mudar a história
E foi caçar lebre no mato.
Aí precisava ter tato,
Pois os bichinhos são ligeiros
E acabam entrando na toca.
Na correria do dia a dia,
Caiu em uma armadilha.
Virou presa de caçador.
Hoje é pele de madame,
Sem vontade,
Sem entranhas,

Mas por muitos cobiçada.
E assim termina a história,
Do jeito que começou.
Quem entendeu guardou pra si
A história que alguém contou.

Não há mais dia da caça,
São todos do predador.


Lilia Maria

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Dedicatória

Quando iniciei o mestrado, a idéia era dedicar o trabalho a um pessoa que para mim sempre foi um exemplo a ser seguido.
Ele era professor de Geodésia da Escola Politécnica da USP. Durante todo o desenvolvimento da minha pesquisa, peguei-me inúmeras vezes em pontos cruciais pensando que, se ele fosse vivo ainda, aquilo estaria resolvido com muita facilidade. Eu não hesitaria em procurá-lo para tirar as minhas dúvidas e sei que ele conseguiria, com palavras simples, me explicar coisas que sozinha demorei horas para entender.
A dedicatória, que ainda talvez eu faça, seria assim:




Eu o chamava de tio, ele me chamava de colega. Dedicar este trabalho ao Professor e Engenheiro Carlos Rodrigues Ladeira (in memoriam) é uma justa homenagem a quem sempre me incentivou a chegar mais longe.
Seja lá onde esteja, sei que hoje ele está vibrando com mais esta vitória.

O que agora está na página de dedicatória é para esta cidade que eu amo de paixão, apesar de todos os seus problemas, sua vida caótica, alucinada e assustadoramente apaixonante.






À minha cidade

São Paulo é uma metrópole imensa, intensa, que se desdobra em muitas “São Paulos” de paisagens diferentes, com problemas e virtudes que ora divergem, ora se aglutinam e fazem cada vez mais com que seus administradores tenham que estratificá-la e dividi-la para poderem planejar, governar e dominar as suas diversidades.


Lilia Maria




quarta-feira, 4 de maio de 2011

Para sempre, eternamente

Para sempre é muito tempo
Para guardar coisas,
Exceto no coração.
Para sempre é eternidade.


Eternidade não tem idade,
Não tem medida,
Não tem tempo de vida.

Para sempre é utopia
Que algum poeta criou,
Pois julgou a eternidade
Infinita como os sonhos que sonhou.

Para sempre é indefinição,
É romantismo,
É ilusão.


Lilia Maria

terça-feira, 3 de maio de 2011

Missão cumprida

Ninguém passa pela vida de graça!
Viemos ao mundo com um propósito,
Seja ele qual for,
Pequeno ou grande,
Fútil ou útil,
Prazeroso ou penoso,
Não importa,
Sempre temos uma missão a cumprir.
E quando acabamos,
É hora de partir.
Podemos deixar saudades,
Podemos deixar alegria,
Podemos deixar pesar.
Levamos também saudades,
As alegrias compartilhadas
Mas nunca devemos levar culpas
Por não ter acabado a tarefa.
A despedida pode ser triste,
Pode ser longa,
Ou apenas o sopro de uma brisa
Que passou e se perdeu...
Só acaba o que chega ao fim...
Ai de mim...


Lilia Maria

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Evolução

No início era pó,
Fagulhas,
Fragmentos,
Idéias desencontradas,
Histórias sem fim.
Ao final
Restou pó,
Fagulhas,

Fragmentos,
Idéias encadeadas,
Histórias com ponto final.


Lilia Maria

Pensando...

De repente a fantasia,
Um êxtase, uma alegria.
E eu aqui, esperando
Pelo sol que há de nascer.
O que foi que deu errado?

O tempo ficou parado
Neste silêncio profundo...
Tem estrela quem souber enxergar,

Tem a graça quem quiser alcançar.
E lá vou eu numa grande viagem
Com toda a minha fé e coragem.
De olhos abertos vou enfrentando a vida.

Vida!
Corrida, sofrida...
Não tenho tempo para pensar,
Meu lema agora é retomar.
Onde foi mesmo que eu parei?

Onde foi mesmo que me perdi?
Parei?
Perdi?
Temo dizer que não.
Só acaba o que chega ao fim.

Ai de mim!

Lilia Maria





E eu não cheguei ao fim... Ainda... mas falta pouco, muito pouco...


Encontros e desencontros marcaram a minha pesquisa. Dados negados, arquivos perdidos, caminhos equivocados... Mas finalmente entrei no prumo. Agora é só trabalho braçal.


Houve momentos que pensei em desistir, mas os amigos de todas as horas estavam presentes para incentivar a continuidade. Agradeço a todos.

domingo, 1 de maio de 2011

Desatenção

Tem gente que trata gente
Feito folha de papel,
Pega, risca e rabisca,
Dobra uma, duas, muitas vezes
E esquece guardada no bolso.



Lilia Maria

Não gosto disso, mas muitas vezes tive que conviver com bolsos e bolsas de gente que acha que gente não é importante, principalmente se a gente em questão é simples, sincera e fala as palavras que brotam do coração.

terça-feira, 26 de abril de 2011

De volta ao ponto inicial...

Depois de ficar uma semana estudando Geometria Esférica, mais uma vez volto a dizer: Pitágoras salva!!!! Ai meu velho e bom Pitágoras, que saudades de você...
Que saudades de poder afirmar categoricamente que a soma dos ângulos internos de um triângulo qualquer é SEMPRE 180º... De repente me aparece pela frente um tal de triângulo esférico, que mudou a minha vida... Jamais serei a mesma... E a matemática que eu achava tão certinha, está virando a ciências do mais ou menos... É mais ou menos assim...
E bota seno, e acha cosseno, com sono ou sem sono, lá vou eu calcular a medida do arco dentro do circulo máximo, que de repente nem é círculo... É uma mera circunferência cujo raio é igual ao da esfera-mãe e que pode até ser considerada como reta dependendo da situação.
Não entenderam nada???? Nem eu... Quer dizer... Entender eu entendi, mas de que valeu?
Depois de uma semana, calcula aqui e ali, puxa no Excel e pronto... Pronto???? Nada pronto... Tudo errado... Vamos começar outra vez... Mas vou voltar ao plano original... Pitágoras salva!!!! Quer saber??? Esquecerei os tais ângulos curvos, a superfície do meu triângulo esférico, e vou fazer de conta que vivo na segunda dimensão.



Lilia Maria

Versejando (I)

Entre tabelas e escritos, gráficos e mapas, que vou compondo para terminar a minha dissertação de mestrado, de vez em quando bate uma vontade louca de escrever outras coisas, bem menos sérias, bem mais soltas. E aí saem coisas mais ou menos assim:



--I--
Gosto da umidade do campo
Depois de uma tarde de chuva,
Do frescor que fica no ar,
Do cheiro da terra molhada,
Das gotas que caem das árvores
Como a garoa tardia
Que sobrou do temporal.

--II--
A brisa macia
Que soprou na madrugada,
Contou-me segredos
Que jamais ousei pensar.
E gelou meu coração saber
Que posso não mais encontrar
O elo que eu temia perder.

--III--
Quando eu morrer
Não vou deixar herança
Nem legados.
Deixo apenas uma boa história,
Que se for bem contada
Pode render uns trocados.


Lilia Maria

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Loucuras do amor

Que grande descoberta
Fiz na calada da noite:
Meu amor não é cego,
É mudo!

E eu que pensei

Que desta vida sabia tudo,
Descobri que não sei falar,
Sou tão muda quanto o meu modo de amar.

Me ponho a rir feito louca,

É muita bobagem para alguém pensar.
E para você, que acaba de ver estes versos,
Fica proibido gracejar.

Lilia Maria

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Flor de Manacá

Faz poesia
Quem transforma a dor
Em elegia,
A vida,
Em alegria,
Os sentimentos
Em pensamentos,
Que nunca se perdem
E marcam momentos.
Poesia
É como a flor do manacá,
Que do branco
Faz o lilás,
Preservando o perfume
Que continua a emanar.

Lilia Maria

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Céu e Inferno

Um dia percebi
Que podia o céu tocar,
Mas era só com a ponta dos dedos.
Tudo dependia da magia
Que o momento poderia ter.
Eram momentos de amor,
Sorrisos de crianças,
Gratas recordações.
Conheci aí
A porta de inferno.
Não entrei,
Mas percebi assustada
Onde poderia chegar.

De repente, não mais que de repente,
Toquei o céu com as palmas das mãos.
Vislumbrei o paraiso,
A felicidade suprema,
A luz,
O esplendor.
Desci novamente ao inferno,
E agora entrei com os dois pés.
Não é que o Diabo é bonitinho????

Lilia Maria





Gente! Não fiquei louca, apenas ando rindo da vida que ando vivendo... Mas passa... Tudo na vida passa... Graças a Deus!!!!

terça-feira, 19 de abril de 2011

Páscoa

Em tempo de renovação,
Seja a palavra de ordem "perdão".

Perdão pela mágoa engolida,
Perdão pela emoção reprimida,
Perdão pela felicidade perdida,
Perdão pela caminhada sofrida.

Perdão pelo beijo apressado,
Perdão pelo amor acabado,
Perdão pelo sonho frustrado,
Perdão pelo coração fechado.


Perdão pela palavra não dita,
Perdão pela atenção não dada,
Perdão pela verdade ignorada,
Perdão pela batalha não vencida.

Perdão pela meta não cumprida,
Perdão pelo tempo esgotado,
Perdão pela fé renegada,
Perdão pelo que não foi perdoado.


Lilia Maria


Esta é a mensagem de Páscoa para os meus amigos e companheiros de jornada.
Que cada um deles consiga perceber que a vida só se renova quando sabemos o que temos que passar a limpo, e o fazemos.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Os ombros suportam o mundo

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

Carlos Drummond de Andrade


Quando ainda eu estava no colégio, em um certo dezembro de muitas despedidas tristes, Elba, minha amiga do coração, fez mais uma publicação da Editora Lyma, com esta poesia do Drummond.

Hoje ao receber um e-mail meio triste desta amiga querida, resgatei no meu velho diário as palavras de carinho que ela me enviou em formato de um pequeno livro que guardo até hoje junto com inúmeros bilhetes que contam a história da nossa adolescência feliz.

Elba, o post de hoje é para você. Que as mesmas palavras que à época me serviram de alento, possam inspirá-la na sua caminhada.

Um beijo enorme,


Lilia Maria

domingo, 17 de abril de 2011

Chantecler

Je suis Chantecler.
Mon histoire est très triste!
Je croyais que mon chant faisait lever le soleil.
Um jour, je me suis endormi.
Les heures passèrent.
Le matin arriva.
Et je dormais toujours.
Tout à coup, j’ouvris les yeux.
Le soleil brillait déjà dans le ciel.
Il faisait clair.
Le soleil s’était levé sans moi!
Quelle disillusion!
Quelle tristesse!

Desconheço o autor


Sou de um tempo que tínhamos que aprender na escola francês e inglês. Consegui por pouco escapar do latim, o que não sei se foi alguma vantagem.
Chantecler, a história do galo que se achava o centro do mundo, ilustrava uma das lições do meu livro de francês. Muito bem decorada, assim como "L'automne" de Victor Hugo, eu vivia declamando entusiasmada.
Isto hoje me foi lembrado em uma conversa no MSN com a minha prima Silvana, que agora mora em Fortaleza. Falávamos do meu lado poetisa quando ela de repente escreveu "Chantecler". Nossa... Foi uma viagem no tempo.
Eu morava na Vila Buarque e ela no Pari. Os finais de semana, sempre que podíamos, passávamos juntas. Domingo era dia de matinê. Não dispensávamos assistir um bom filme num dos cinemas do centro.
Quando fui morar no Sumaré, ela sempre vinha para a minha casa, e com isso ela acabou conhecendo a maioria dos meus amigos. Eram festas, bailinhos de garagem, missa no Colégio Anchietanun, e tudo mais que a turminha de jovens curtia naquela época. Quando estávamos um pouco mais velhas, ganhamos alvará para viajarmos sozinhas para São Carlos para visitar nossos avós.
Mal colocávamos as malas no quarto já etávamos sasaricando pela cidade. Ô época boa... Antes, ir para o interior dependía da disponibilidade dos nossos pais, agora tinha ficado muito mais fácil. A vida então era uma festa.
Tenho até hoje guardadas inúmeras cartas que ela me escreveu quando fui estudar na EESC. Nossas vidas acabaram tomando rumos diferentes. Casamos, descasamos, ela tornou a se casar, mudou de estado, mas sempre continuou querida, confidente, conselheira...
Quando a amizade é verdadeira, nada faz com que ela se acabe.

Lilia Maria

sábado, 16 de abril de 2011

Boneca de trapo

Branca boneca
De tranças de lã,
Perdida na tralha
Que alguém esqueceu.
Tem história,
Tem vida,
Mas não pode contar.
Seus olhos bordados
Com fios de retroz
Parecem estar vivos
E olham suplicantes
Para tirá-la de lá.
Sua boca carmim
Feita de feltro
Sorri conformada
Com seu triste fim.
Não chora, boneca!
Nada termina assim...
Vou fazer de você
O retrato de mim.

Lilia Maria

Futuro, Presente, Passado

Do futuro se faz o presente,
Do presente nasce o passado,
Sem mistérios, sem apelação.

Plante para futuro
O melhor do presente
E o passado será resplandecente.

Sonhe para o futuro
O sonho do presente
E o passado será inesquecível.

Busque no futuro
Alento para o presente
E o passado será sempre lembrado.

Não viva no futuro
O presente a ser vivido
E o passado não te cobrará.

Assim seja a vida,
Futuro, presente e passado,
Cada qual no seu lugar.

Lilia Maria

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Andando em círculos

Parto de um ponto,
Cruzo fronteiras,
Percorro caminhos,
E de repente me vejo
Voltando ao ponto de partida.
Sigo em outra direção,
Vejo novos cenários,
Fico bastante animada,
Mudou tudo desta vez,
Mas o trajeto final
Parece tão familiar...
Desaminada concluo,
Ao início tornei a voltar.
Que sina é esta
De ficar andando em círculos
Como em um moto perpétuo?

Lilia Maria

É assim que me sinto cada vez que mudo ou acrescento alguma coisa na minha pesquisa. Acabo sempre concluindo que por este caminho não vou chegar, e começo tudo de novo. Só que meu tempo está se esgotando, não dá mais para recomeçar...

Se continuar assim, meu título de Mestre será uma homenagem póstuma. Não quero morrer me devendo este final...

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Teia de aranha

Quem tece a teia,
Tece a trama.
Dê novelo à aranha
E ela vai o engolir.
Teia tecida
Com finos fios,
Parecem frágeis ao tato,
Mas são fortes o suficiente
Para formar um casulo
Em torno da presa fácil
Que se deixa consumir.
Não adianta se debater
Preso à teia tenaz
De tênues fios de trama forte
Feitos para não deixar escapar.


Lilia Maria



Assim muitas vezes me parece a vida, uma enorme teia, ora somos aranha, ora pequenas presas.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

A culpa é da Monalisa

Continuo olhando embevecida
O sorriso de Monalisa
Na foto da parede
Que me esqueci de trocar.
Que mistério é esse
Que conduz o meu olhar
E me faz ficar horas parada,
Como diante de uma imagem santa,
De mãos postas e a rezar?
Preciso capitular.
Avançar mais um passo
Exige força e determinação.
Vamos lá então?
Se a resposta não veio,
Não adianta procurar,
Mude a pergunta,
E continue a trabalhar.

Lilia Maria


Hoje acordei inspirada, mas toda esta inspiração não está ajudando a colocar no papel as idéias que fariam o meu trabalho terminar. Escrever poesia não ajuda em nada, apenas é uma forma de desabafar...

Gota d’água

Não sei se foi uma lágrima
Ou se era a gota da chuva,
Mas de repente o pontinho brilhou
Ao sabor do sol
Que iluminava a minha janela.

Lilia Maria

terça-feira, 12 de abril de 2011

Indecifrável

Indecifrável é o tempo
Que demora para chegar
Um suspiro, um pensamento,
Uma palavra solta no ar.

Undecifrável é o peso
Da nuvem a flutuar,
Caminhando ao sabor do vento
Sem saber onde chegar.

Indecífrável é a vida
No ponto de inflexão,
Seguir em frente é martírio
Voltar é indefinição.

Indecifrável é o homem,
Ser que um dia Deus criou,
Que não acredita ser obra divina
Porque pensa que o Pai o abandonou.

Indecifrável é este poema
Que construo palavra a palavra
Imaginando que quem o ler
Não saberá se é de minha lavra.

Indecifrável sou eu,
Que já não sei para onde ir,
A vida se abre em muitos caminhos,
Não sei para onde seguir.

Lilia Maria


Estou cansada... Os pensamentos não engrenam... E quando começa a fluir, tropeço em mais um dúvida que não sei quem pode me responder.
Mas sou persistente, devagar eu chego lá...

segunda-feira, 11 de abril de 2011

The best day of my life

The best day of my life
Wasn't to be any day,
But it was for you.
You don't remember,
The day was forgotten
Or saved
Sealed in a vault
Whose secret nobody knows.

The best day of my life
It should have been lived
And remembered forever,
But with love
And with no sorrow.
It was my beautiful surrender
And I gave myself entirely.

I'm quiet.
I have nothing to regret,
Only a good souvenirs to keep.

Lilia Maria

Escrito há algum tempo na aula de inglês. Uau... poesia em inglês???? Ninguém merece... Pode ser que tenha muitos erros, não achei a correção.

domingo, 10 de abril de 2011

Rebeldia

Às vezes a rebeldia
Parecia irreverência,
Às vezes, infantilidade.
Às vezes era de uma pureza angelical,
Outras vezes um sacana sem igual.
Mas eu gostava de cada uma das versões.

Como você pode ir embora,
Sem ao menos se despedir?
Sem me dar o último abraço,
Sem termos aquela conversa
Que me foi muito cobrada?
Como você se foi sem me avisar?

Agora você vai ter que me esperar,
E me explicar o que foi que aconteceu.
Como sempre vou perdoar
Mais esta rebeldia.
Não importa onde você vai estar,
Um dia a gente vai se encontrar.

Reviveremos o imenso carinho
Que sempre esteve em cada gesto.
Mas enquanto isso não acontece,
Para sempre você há de viver,
No meu coração,
Na minha saudade.

Lilia Maria


Podemos perder amigos para a vida e para a morte. Os que se vão em busca de novos horizontes sempre podem voltar, mas quando os perdemos para a morte, só podemos desejar que um dia a gente possa em outro plano se reencontrar.

Este poema foi escrito para alguém que me deixou muita saudade e muitas histórias a se contar. Eu o perdi duas vezes. Para a vida quando simplesmente não dei importância para a última carta que ele me escreveu me pedindo para ir a Ribeirão Preto para conversarmos. Hoje ela me soa como um pedido de desculpas.

Quando me derem a notícia de sua morte, fizeram com muito cuidado, pois sabiam que seria difícil aceitar. Ele sempre me fez falta.

Amigos são para sempre...

sábado, 9 de abril de 2011

Preguiça

Viva a preguiça
Do fim de semana!
Acordar com sol alto,
Ficar rolando na cama,
Levantar bem de mansinho,
Mas só quando o sono acabar.
Ficar sem fazer nada,
Não ter com que se preocupar.
E, se aparece a vontade
De sair ou trabalhar,
Sentar na varanda,
E espero o tempo passar.

Lilia Maria

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Empinando pipa

Inúmeras vezes tropecei em balcões de gás, que saídos das mãos de alguma criança, ganharam as alturas e quando o gás foi se retraindo, perderam a força e voltaram ao chão. Pensei muito nessas ocasiões nessas crianças que perderam o motivo daquela alegria momentânea de tê-los e na tristeza de vê-los voando para longe do alcance de suas mãos.


Acho que é por isso que prefiro as pipas. Elas podem ficar dias e dias flutuando no ar, e para resgatá-las basta recolher o fio que dá a elas a certeza de um dia poder voltar.


Lembro-me bem que na época que estudava na Escola de Engenharia de São Carlos, meu tio Duílio, encantado que era também com as pipas, construiu uma para suas filhas. Linda! Colorida, de rabiola esvoaçante, bem construída.


Linha 24 na carretilha, e lá foi ela aos ares. Não tinha nessa época os malucos do cerol, que se divertem cortando a linha das outras só para vê-las cair.


As meninas se divertiram ao ver aquela belezoca ganhar altura e planar majestosa ao sabor dos ventos. Meu tio amarrou a linha num dos caibros do telhado da varanda e deixou a pipa flutuando no céu. Volta e meia íamos lá para sentir a força que a mantinha indo pra lá e pra cá.


Foram dias e dias sem tirá-la de lá. E nós só acompanhávamos encantadas cada uma das piruetas que fazia quando ele resolvia dar mais linha ou recolhê-la quando o vento não era suficiente para sustentá-la. Mas, ao recolher, sempre uma nova corrente fazia com que ela subisse de novo, e voltasse a planar.


Não me lembro como tudo terminou, mas foi uma experiência que sempre me fez pensar.


Lilia Maria

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Desesperança

Que braços se abrirão
Para acolher este anjo
Que a vida negou
O direito de crescer?

Como dizer esta criança
Que acabaram-se os sonhos,
Que esperança se esvaíram
Por entre os dedos
Que estavam a segurá-la?

Como eu explico a ela,
Que o amanhã não virá,
Que o dia não amanhecerá,
Que a flor não desabrachará,
Que o livro se fechará?

Como eu digo...

Lilia Maria

Mas autor já não morreu?

Lá fui eu para a primeira escola que lecionei como efetiva na Rede Pública. Estávamos em fevereiro de 1979.
O meu livrinho de Matemática tinha acabado de sair. Estava sendo adotado em todos os bons colégios de São Paulo: São Luiz, Rio Branco, Bandeirantes, Santa Cruz... Claro que resolvi adotá-lo também.
Os outros professores da casa, mais antigos, mais experientes, acharam uma loucura, afinal, era um livro que prometia ser difícil para o nível dos alunos. Eu não achava nada. Na época eu era (e sou) muito piageteana. Acreditava que não tinha nada que a gente não pudesse ensinar desde que bem preparado e estruturado. No dia que o livro chegou e foi entregue para os alunos, um pingo de gente da quinta série disparou:
- Nossa, professora, um dos autores tem o mesmo nome que você...
- Não, meu bem, não é só o mesmo nome, é a mesma pessoa, o autor SOU eu...
- Uéééé´... Mas autor de livro já não morreu????
Quase morri mesmo, mas de tanto rir...


Lilia Maria

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Saudades de mim

Envolvida em suaves pensamentos
Que me transportam para longe daqui,
Percorro bosques e campinas
Buscando o que sobrou de mim.
Não há pontos de parada
Nem tempo para se redimir
De decisões que me pareciam desencontradas
E que ao mesmo tempo foram tão acertadas.
Vou chegando ao fim da jornada
Com uma bagagem que não pesa em meus ombros,
Pois o saber não é um fardo
E sim um motivo de orgulho e prazer,
Mas que traz consigo a responsabilidade
De saber usá-lo com retidão.
Já não sou a mesma de ontem,
Meus olhos vêem tudo sob outro prisma,
Com mais critérios, com mais exatidão.
Não sei se gosto deste novo eu.


Lilia Maria



Estou a um passo de acabar de escrever a minha dissertação de mestrado.
E depois? O que virá? Um novo curso, um novo trabalho? O meu livro de memórias? Finalmente coloco "Folhas Soltas" no papel?
Ainda é cedo para pensar, mas já estou sentindo saudades do que ainda não passou....

terça-feira, 5 de abril de 2011

Um livro escrito, um filho nascido

Esta não será uma história com princípio, meio e fim. Só o meio já está de bom tamanho. Então não importa agora como eu cheguei à cena ou o que se passou depois dela. Importa, talvez, alguns detalhes.
Um desses detalhes, importante para entender o que se passou, fica por conta de saber que à época não havia computadores pessoais. Para se editar um livro ou se usava a boa e velha máquina de escrever ou se escrevia à mão para depois alguém passar com letras gráficas para os fotolitos que iriam gerar a produção em série. Não sei bem o processo, pois eu era apenas uma parte do grupo de autoria.
Magda, Edson e eu trabalhávamos durante o período da manhã. Chegávamos cedo. Discutíamos a pauta, estudávamos como iríamos abordar o assunto, quais as figuras que iríamos usar, que exercícios iríamos disponibilizar, e quem iria fazer o que. Quando o Prof. Scipione chegava, mostrávamos a ele, recebíamos as críticas, às vezes boas, às vezes más, e assim que ele liberava cada um ia cumprir a sua parte.
Foram quatro volumes do livro “Matemática”, absolutamente manuscritos em folhas de sulfite A4. A letra tinha que ser impecável, redondinha, bonita, legível. Eu usava caneta-tinteiro, pois só assim para escrever devagar e com cuidado.
A cada página escrita, fazíamos a revisão, e se houvesse erro, dificilmente consertávamos, escrevíamos tudo outra vez. Parecia trabalho dos escravos de Jó. Era um exercício de paciência e capricho. Foi um ano maravilhoso. Ganhávamos pouco, mas aprendemos muito mais do que a Universidade pôde nos dar.
Um dia o trabalho chegou ao final. Quando colocamos a última folha do último livro na pilha, um olhou para o outro e tivemos a mesma idéia: jogar tudo para o ar e vê-las cair gostosamente pairando no ar.
Não sei se foi sonho ou se realmente aconteceu, mas tenho certeza que vivi o momento. Tenho certeza que as folhas se espalharam por toda a sala e que recolhemos tudo às gargalhadas.
Se na época não aconteceu, isso acontecerá agora... Assim que imprimir a última folha da minha dissertação de mestrado, vou jogá-la para cima e esperar que cada folha caia junto com as lágrimas de alívio que isso trará.
Um livro é um filho, e este será o 13º, contado com as minhas duas filhas. E será tão querido quanto os outros, mesmo não sendo o primogênito, mesmo eu tendo certeza que não será o caçula. Outros virão e todos me darão um enorme prazer.

Lilia Maria

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Travessuras

Criança levada,
Vendendo saúde,
Não para quieta,
Não segue em linha reta.
Chuta a pedrinha
Que estava quietinha
Mandando para longe
Com muita energia.
E ri à vontade
Mesmo quando quebra a vidraça.
Então pede desculpas:
-Foi sem querer...
E segue em frente.
Corre, anda, para,
E continua buscando
Uma outra travessura
Que lhe dê mais prazer.
Meio egoísta este modo de crescer...

Lilia Maria

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Para sempre em meu coração

Para sempre em minhas lembranças
Vive o riso fácil de outrora,
As brincadeiras às vezes fora de hora
Que hoje me fazem sonhar.
Éramos felizes e sabíamos
Que um dia iríamos o mundo desbravar
Levando na bagagem o conhecimento
Que ganhamos e aprendemos a usar.
Éramos felizes e sabíamos
Que este tempo não iria voltar.
Quando deixo a alma solta
Nas alamedas por onde caminhávamos,
Revejo cenas de um passado distante
E toda uma história a se contar.
Era meu sonho de menina,
Tornou-se, na juventude, o meu lugar,
O meu refúgio, o meu lar.
USP, paixão eterna,
Eternamente vou te amar.

Lilia Maria

Hoje foi a colação de grau na minha filha Andrea.

Impossível estar na USP e não lembrar da minha época de estudante. Sempre digo que não estudei na Universidade, eu vivi a Universidade. E este "viver" tentei passar para as minhas filhas, USPianas como eu. Cada uma entendeu a seu modo, e as duas buscaram o que queriam encontrar para ter um futuro coroado de êxito.

Missão cumprida.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Ausência

Acreditava que ausência
Era o oposto de presença,
Mas que engano mais grosseiro!
O presente pode estar ausente
Enquanto a alma flutua
E do corpo se distancia.
A alma vaga por outros caminhos
E corpo continuar ali
No seu papel cotidiano,
Agindo normalmente.
Pode-se viver assim por anos
Sem se dar conta que a vida passou,
Que o sonho acabou,
Que o coração secou.

Lilia Maria

Mercador de Sonhos

Passou por mim,
Ofereceu um sonho,
Depois outro,
E mais outro depois.
Fiquei com todos.
E sonhei...

Alguns realizei
Outros guardei,
Preenchi minhas gavetas,
Coloquei no fundo do armário,
Tranquei no cofre,
Cada um teve seu fim...

Mas a gente cresce,
E esquece,
Que é preciso sonhar...

Qual o limite de um sonho?
Até onde eu posso chegar?
O que me é permitido sonhar?

Difícil responder,
Difícil explicar...
Não há limite pra sonhar,
É sempre permitido ousar.

Preciso limpar minhas gavetas,
Tirar tudo do armário,
Achar a chave do cofre,
Resgatar meus velhos sonhos.
Dividi-los com amigos,
Retomar um de cada vez.

E, quando o mercador
Por mim de novo passar,
Vou trocar antigos por novos,
Outras possibilidades experimentar,
E solenemente vou jurar:
-Nunca mais paro de sonhar!


Lilia Maria 15/12/2001

Qual é o limite de um sonho? Esta foi a resposta que o Prof. Paulo Freire deu à Suzy e eu quando, ao entregarmos o Projeto Gênese para ser assinado, perguntamos até que ponto nos era permitido sonhar. Sonhamos... E quase sem limites...

terça-feira, 29 de março de 2011

Mulher-menina

Uma mulher apaixonada pela vida
Ou uma menina que sorri divertida
Da própria existência,
E de toda a sua experiência?
Não há nada mais encantador
Que o seu semblante relaxado
Ao contar mais uma vez
Que ainda não deu certo.
A mulher espera o desfecho,
Mas a menina não para
E vai a busca do novo
Num eterno recomeço.
Nem menina, nem mulher,
Apenas uma pessoa linda
Quem um dia, não por acaso,
Deus me fez encontrar.


Lilia Maria


Esta é pra você Celisa!

Não sei se ficou tão boa quanto àquela que perdi quando tiraram meu site "Amor Antigo" do ar, mas a idéia ainda é a mesma...

Beijoca...

segunda-feira, 28 de março de 2011

O último discurso

de “O Grande Ditador”


Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de ajudar – se possível – judeus, o gentio... negros... brancos.

Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo – não para o seu infortúnio. Por que havemos de odiar e desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover a todas as nossas necessidades.

O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos. A cobiça envenenou a alma dos homens... levantou no mundo as muralhas do ódio... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios. Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.

A aviação e o rádio aproximaram-nos muito mais. A própria natureza dessas coisas é um apelo eloqüente à bondade do homem... um apelo à fraternidade universal... à união de todos nós. Neste mesmo instante a minha voz chega a milhares de pessoas pelo mundo afora... milhões de desesperados, homens, mulheres, criancinhas... vítimas de um sistema que tortura seres humanos e encarcera inocentes. Aos que me podem ouvir eu digo: “Não desespereis! A desgraça que tem caído sobre nós não é mais do que o produto da cobiça em agonia... da amargura de homens que temem o avanço do progresso humano. Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores sucumbem e o poder que do povo arrebataram há de retornar ao povo. E assim, enquanto morrem homens, a liberdade nunca perecerá.

Soldados! Não vos entregueis a esses brutais... que vos desprezam... que vos escravizam... que arregimentam as vossas vidas... que ditam os vossos atos, as vossas idéias e os vossos sentimentos! Que vos fazem marchar no mesmo passo, que vos submetem a uma alimentação regrada, que vos tratam como gado humano e que vos utilizam como bucha de canhão! Não sois máquina! Homens é que sois! E com o amor da humanidade em vossas almas! Não odieis! Só odeiam os que não se fazem amar... os que não se fazem amar e os inumanos!

Soldados! Não batalheis pela escravidão! Lutai pela liberdade! No décimo sétimo capítulo de São Lucas está escrito que o Reino de Deus está dentro do homem – não de um só homem ou grupo de homens, mas dos homens todos! Está em vós! Vós, o povo, tendes o poder – o poder de criar máquinas. O poder de criar felicidade! Vós, o povo, tendes o poder de tornar esta vida livre e bela... de faze-la uma aventura maravilhosa. Portanto – em nome da democracia – usemos desse poder, unamo-nos todos nós. Lutemos por um mundo novo... um mundo bom que a todos assegure o ensejo de trabalho, que dê futuro à mocidade e segurança à velhice.

É pela promessa de tais coisas que desalmados têm subido ao poder. Mas, só mistificam! Não cumprem o que prometem. Jamais o cumprirão! Os ditadores liberam-se, porém escravizam o povo. Lutemos agora para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós. Soldados, em nome da democracia, unamo-nos!

Hannah, estás me ouvindo? Onde te encontrares, levanta os olhos! Vês, Hannah? O sol vai rompendo as nuvens que se dispersam! Estamos saindo da treva para a luz! Vamos entrando num mundo novo – um mundo melhor, em que os homens estarão acima da cobiça, do ódio e da brutalidade. Ergue os olhos, Hannah! A alma do homem ganhou asas e afinal começa a voar. Voa para o arco-íris, para a luz da esperança. Ergue os olhos, Hannah! Ergue os olhos!

----

O post anterior eu trouxe do meu antigo site de poesias, "Amor Antigo".

"Buscando ser feliz" foi escrita na madrugada de 29/12/2002, depois de ter assistido no cinema "O grande ditador". Chapin é tudo de bom... O discurso me emocionou tanto que quando cheguei em casa não conseguia dormir. Lembro-me que escrevi o poema e postei no embalo, sem música, sem fundo de tela, sem formatação.

Para quem não conheceu, em "Amor Antigo" cada poema era postado depois de uma minunciosa escolha de imagens e músicas. Para "Buscando ser feliz" a imagem é esta que ilustra o meu blog e a música não poderia deixar de ser "Over the rainbow".

Lilia Maria

domingo, 27 de março de 2011

Buscando ser feliz

Que a leveza do pensamento
Percorra campos verdejantes,
Lagos de águas tranqüilas,
Mares de espumas flutuantes.

Que olhos vejam a beleza
Do romper da casca de um ovo,
Do desabrochar de uma flor,
Do vôo gracioso dos pássaros.

Que o homem descubra em si
O motivo da sua jornada ,
A determinação para buscar mais largos horizontes,
A certeza de um amanhã promissor.

Que cada minuto de prazer seja eterno,
Que a felicidade não seja efêmera,
Que a vida seja uma dádiva,
Que a paz de espírito seja perene.

Que a alma tenha asas para voar,
E o grande arco-íris possa encontrar,
Onde de um lado se tenha a força do saber,
E do outro a riqueza das emoções.

Seja a vida uma arte!
Seja a alegria um dom!
Seja o amor sincero!
Seja a felicidade constante!

Lilia Maria

quinta-feira, 24 de março de 2011

Folha

Folha da árvore caída,
Balança solta ao vento,
Vai pra lá, vem pra cá,
Rola, voa, cai e torna a rolar.
Parece ter vida,
Pelo vento movida,
Até seu destino encontrar.

Então, já amarelecida,
No canto esquecida,
Fica a esperar,
Que o vento sopre,
Que a chuva caia,
Que algo aconteça,
Para seu destino mudar.

Lilia Maria

Uma poesia de outono.
Os dias frios e úmidos começam a preparar o inverno.
Amo o inverno, o ar frio penetrando nas narinas, o céu azul sem uma nuvem, o sol que brilha mas não dá conta de esquentar. Tudo isso dá ao meu dia um ar europeu. Saudades de Barcelona...

quarta-feira, 23 de março de 2011

Tempo

Quem tem tempo
De dar tempo?
Quem tem tempo
De perder tempo?

Não tenho tempo.
Tenho todo tempo.
Não dá tempo.
É sempre tempo.

Quanto tempo!
Faz tempo!
Em tempo...
Sem tempo...

A palavra tempo anda me rondando
E rodando na minha cabeça.
Ou faço o tempo render
Ou vou escutar: tempo esgotado pra você.



Lilia Maria

Tenho até domingo para acabar de escrever o bojo da minha dissertação. Dá tempo????

terça-feira, 22 de março de 2011

Sala de espera

Na sala de espera,
Olhos aflitos, benditos,
Me examinam à entrada.
Vasculham minhas entranhas,
Buscam motivos, razões
Para que eu esteja ali.
E sorriem acolhedores,
Solidários, cúmplices
Na mesma batalha,
Na mesma sina.
Gestos serenos, contidos,
Dão boas vindas aos que chegam,
E encorajam silenciosamente,
Cautelosamente, docemente,
Os que parecem perdidos
Diante da nova situação.

Lilia Maria


Bem vinda à vida!

Foi assim que a técnica se despediu de mim no último dia da radioterapia.
Naquele momento eu estava renascendo. Eu tinha certeza que estava curada e que nunca mais veria em qualquer exame meu aquelas palavras que me deixaram quase sem fala alguns meses antes: carcinoma.
Foram 28 sessões. Normalmente eu era uma das últimas clientes do dia, e sempre chegava cedo com a esperança de poder ser atendida antes. O meu horário habitual era 23:30h. Ia sozinha, muitas vezes depois de um dia de mais de 12 horas de trabalho.
Escrevi este poema na sala de espera onde eu via olhos esperançosos, descrença e prostração; sorrisos, lágrimas e indignação diante da vida e da provação. Foram dias de tristeza e cansaço, dias de muita reflexão e de encontros com o mais íntimo dos meus eus. Foram dias de confissão.
Aprendi mais de mim mesma do que já havia feito em toda a minha vida. Foram dias de perdão.
Bem vinda à vida! Eu estava pronta...

Quimera

Todo meu sonho há sido uma quimera,
Minha esperança fora uma ventura,
Sonhei, amando a própria desventura,
De mais tarde voltar a primavera.

Ah! quanto me enganei, tão louco eu era,
Doce julguei a existência dura,
E longe de pensar na sepultura,
Zombei de quem a sorte não venera.

Chegou o meu tempo e agora me convenço,
Que à parte dos felizes não pertenço,
Nem sonho mais da vida a liberdade.

E as ilusões que partem tristemente,
Dizem-me a soluçar com voz plangente:
-Morre a quimera? nasce uma saudade.

André Castiglione
1916
Lembro-me, ainda menina, escutar, enternecida, minha avó contando do irmão poeta, falecido aos 24 anos, que em seu leito de morte teria composto um dos sonetos mais belos que já li.
Lembro-me também, na adolescência, ensaiar escrever alguns versos, mas que nunca mostrei a ninguém. Não acreditava que pudesse ter o talento daquele que me encantava a cada vez que lia "Quimera".
Pouca coisa consegui salvar dos seus versos, mas de todos sem dúvida este é o que mais me comove.
Lilia Maria