sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Balanço de final de ano - 2010

A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida. Vinícius de Moraes ·
É assim que vou começar o último post do ano...
Encontros, reencontros, desencontros... De tudo um pouco... E o ano foi passando...
De março a maio passei garimpando pessoas. Amigos da minha irmã que, ao completar 50 anos resolveu reunir pessoas de todas as épocas da sua vida. Dos coleguinhas do Grupo Escolar Portugal ao pessoal que trabalha hoje com ela. Para isso passou pela turma do MAX, da FATEC, do primeiro emprego, e por aí foi.
Rever Maristela, que foi minha colega de Universidade e depois colega da minha irmã, foi especial. Juntar Luiz Fernando com Zé Walter rendeu histórias hilárias... A festa foi tudo de bom... No final acho que foi um pouco a minha festa também.
Por conta deste reencontro, Lívia e eu acabamos indo a Campinas conhecer a Cooperativa Brasil, casa de forró do Lú e de quebra convidamos o Mikka para almoçar. Assim acabei cumprindo uma das minhas promessas do ano passado. Aliás, fato muito bem lembrado por ele no dia do meu aniversário.
Durante o ano fui tomar café com a Cecilinha, convite feito e renovado inúmeras vezes. Foi muito bom e aguçou muito mais a minha vontade de juntar os colegas do colégio.
Entrei em contato com o Gil, a Malú, o Catapani, o Godo, o David, a Walkiria, a Flora ... Ainda espero resgatar outros tantos que eu já tenho o endereço, mas ainda não parei para escrever. Tenho pressa em reunir esta turma... Alguns já se foram... E farão falta num reencontro.
Um dos encontros acabou causando um desencontro, mas acredito que durante o próximo ano conserto isso... Não sei ficar sem o meu grilo... (Cris, muitas vezes você me fez falta...)
Mesmo assim termino o ano feliz... De todas as bênçãos que poderiam me acontecer tem uma que está bem guardadinha aqui dentro do meu coração. Um amor lindo e delicioso que vou curtir muito.
Quero apenas que saibam que se a minha vida parasse agora eu teria fechado todos os meus elos e resgatado todos os meus sonhos, pois tudo isso junto ainda é pouco perto do que significou cada segundo vivendo este amor.
E não me perguntem nada!!!! Dizem que o silêncio traz mais sorte nestes casos...
2010 termina alegre como começou... E que 2011 seja leve e festivo como eu espero.

Lilia Maria

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Ensaio

Depois do dia de labuta,
Vem meu guerreiro,
Vem repousar em meu regaço...
Cuidarei das suas feridas,
Velarei pelo seu sono,
Adoçarei seus lábios com mel.
Tem meu corpo e a minha alma
Para renovar suas energias...
Vem meu guerreiro,
Jamais me afaste de ti.
O seu amor é minha vida,
O meu amor é a sua paz...

Lilia Maria

A história é muito maior que isso... Estamos apenas no começo. Há protagonistas, coadjuvantes e figurantes... Cada qual vai assumindo o seu papel e escrevendo a sua parte na história... É uma produção coletiva...
A única coisa que sei é que sou uma mulher apaixonada pelo personagem principal.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Toda caminhada é feita passo a passo...

Árvores não nascem majestosas,
Casas são construidas tijolo a tijolo,
Livros são escritos palavra a palavra,
Músicas são compostas nota a nota...

O fantástico é perceber que
Detalhes pequenos, simples,
Somados, juntados, fundidos,
Dão a grandiosidade das coisas.

Gestos de compreensão,
De respeito e solidariedade,
De perdão e fraternidade,
Controem a paz, a hamonia e o amor.

Que no próximo ano
Seus passos o levem longe!
Mas que sejam sempre dados
Em direção à conquista dos seus sonhos.

Lilia Maria

Uma mensagem especial para alguém deliciosamente especial...

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Mensagem de Boas Festas

O ano está acabando...
Ao contrário do velho moribundo, ele termina festivamente, da mesma forma que começou... E nós? Continuamos iguais ao que fomos no ano passado? Não mesmo... Todo ano é um aprendizado...
Este ano imaginei que fosse a condutora de um trem cheio de passageiros... Meus amigos, pessoas que conheço, pessoas que de alguma forma fazem parte da minha vida. Mas este meu trenzinho nunca está completo... Sempre tenho mais um viajante para pegar na próxima estação. E foram tantos... Pessoas novas, amigos antigos que há tempos não víamos, pessoas que estavam de passagem e acabaram ocupando quase um vagão...
Alguns precisaram descer, pois tinham outra rota a percorrer... Mas deixaram saudades e a certeza de que um dia ainda iremos nos reunir em algum lugar do universo...
O ano está acabando... Então quero convidar a todos para continuar comigo esta viagem... Ocupem seus lugares... Peçam mais espaço se precisarem... É para a terra da Sinceridade, do Amor e da Bondade que quero conduzi-los... Sem estas três dádivas ninguém consegue ser feliz...
Feliz Natal!
Feliz 2011!

Lilia Maria

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Mundo paralelo

Ele mora na Terra,
Ela vive na Lua,
Ele tem os pés no chão,
Ela gira em torno e flutua.

De tanto olhar para baixo
E se apaixonar pelo planeta azul,
Esqueceu que ele vive no norte
E pousou suas asas no sul.

Não há como se habituar
Com rotinas que mudam volta e meia,
Ele aparece no auge do quarto minguante,
E ela só está disponível após a lua-cheia.

E assim vai, e assim fica...
Nada é definitivo neste mundo da lua.
Ele tem momentos de abandono,
E ela tem vontade de ser sua.

Lilia Maria

Esta história está parecendo o filme "O Feitiço de Áquila". Será que num eclipse os dois podem se encontrar?

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Promessa?

Se um dia você se for
E a saudade insistir em ficar,
É a lembrança de um doce beijo
Que irá me consolar.
E, se na despedida
Você insistir que devo
Os arquivos do tempo limpar,
Nada poderei fazer
Pois o que escreveste em mim
Só a morte pode apagar.


Lilia Maria

Romântico... Ingenuo...
Escrito a partir de outro que escrevi aos 17 anos...
Eu estava me despedindo de um colega que iria deixar o colégio para estudar fora do Brasil. Era alguém por quem eu tinha um carinho enorme. Escrevi apenas uma quadrinha:

Você se vai
E nem um beijo vai me dar
Para que eu possa ter
Uma lembrança para guardar.

Ly'

(era assim que eu assinava o que escrevia)



terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Nas malhas do tempo...

Faz um mês e meio mais ou menos que resolvi buscar uma história que eu não conseguia lembrar. Mais de quarenta anos de poeira e teias de aranhas escondendo sentimentos, emoções, imagens, lembranças... Coisas de criança...
E nesta busca, meio sem nexo para quem não sabe o significado dos sonhos que ficaram retidos nas malhas do tempo, muito foi garimpado, lavado, passado a limpo. Sobrou apenas o que permanecerá vivo e perene dentro do meu coração.
Não sei o que o Senhor do Universo imaginou quando me colocou dentro desta história... São estes mistérios que me fazem pensar que os caminhos são traçados para aprendermos lições. Lições que muitas vezes não aprenderíamos se tivéssemos andado em outra direção.
Estou com o coração leve. Se a vida me colocou agora diante de uma pessoa para a qual eu me sentia devedora de um pedido de desculpas, e hoje eu sei que tanto quanto eu esta pessoa deveria se desculpar, significa, ao meu entender, que nada devemos um ao outro. Estamos livres para continuar escrevendo as nossas histórias.

Lilia Maria

domingo, 5 de dezembro de 2010

Como é que é???

Eu amo muito você também...
Como é que é?
Não estou entendendo...
Estou diante daquela mesma pessoa?
Estou dentro de um sonho bom?
Se é sonho não quero acordar...
Eu amo muito você também...
E para todo sempre, amém...


Lilia Maria

Se quem ler não entender, não se preocupem, eu também não entendi...
E nem quero entender... Não é todo dia que a gente escuta uma declaração de amor... Mesmo que ela esteja meio escondidinha, no meio de outras frases. É um momento único, especial...
Também não é todo dia que a gente pode devolver no mesmo tom...
Gostoso... muito gostoso....

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Cristina, a clandestina

Hoje remexendo em uma caixa onde guardo alguns documentos, achei o último diário que escrevi. Quantas recordações... Amigos, amores, histórias contáveis para qualquer um... Não tem nenhum segredo... Só coisas que fui guardando ao longo de alguns meses de 1970. Eu parei de escrever alguns dias antes de ir à Europa acompanhando o vovô Pedro e a vovó Lilia.
A princípio quem deveria ir era o meu irmão mais velho, mas ele declinou o convite. Como eu sou a segunda neta, fui a escolhida. Imagina só o alvoroço da minha turma quando eu contei na classe e disse da minha preocupação em perder mais um ano na escola.
Lembro-me bem que a Dona Arízia Zalla, professora de Matemática, pegou a minha caderneta escolar, observou as notas e disse que se eu perdesse o ano não seria pelas notas e sim pelas faltas, afinal eu estaria ausente por 45 dias. Ela mesma se encarregou de conversar com os outros professores e pedir para que todas as minhas provas fossem adiantadas. Eu embarcava no dia 20 de setembro, exatamente a dez dias do encerramento do bimestre. Ela pediu também para que todos fossem generosos com as faltas. O argumento dela era que eu dificilmente teria outra oportunidade igual.
Na época eu tinha uma companheira inseparável, Cristina, a clandestina.
Cristina era uma perereca feita de pano e recheada de arroz. Era toda branquinha rajada de verde e marrom com a parte de baixo cor de rosa. Ele estava sempre sobre a carteira durante as aulas. Era meu mascote. E todo mundo adorava... Ela era pequena, cabia na mão. Por ser feita de arroz ela era gostosa de manusear.
No último dia de aula antes da minha viagem, Dona Arízia pediu-me a Cristina e colocou sobre a mesa. Ela disse que a minha ranzinha seria a minha substituta. Eu ia, mas ela ficava e a presença na aula seria dada a ela.
Assim, a minha pequena clandestina passeou por todas as casas, as malas, as mãos dos colegas de classe que tinham a incumbência todos os dias colocá-la sobre a mesa para que ela assistisse à aula.
Desta forma, quando retornei de viagem, eu tinha apenas algumas faltas e zero em todas as provas do mês de outubro.
Cheguei no dia 4 de novembro e a primeira prova de novembro era justamente de matemática. Tive apenas dois dias para estudar, e consegui, apesar disso, tirar a maior nota da classe e não ficar de exame. Definitivamente Matemática era a minha matéria... Terminei o ano aprovada e com uma bagagem de conhecimentos que curso nenhum me daria. Viajar... Esta era uma grande escola...
Na volta me devolveram a Cristina... Coitada... Estava suja e meio gasta... Tentei arrumar, lavar, trocar o forro... Mas estava muito difícil... Aí a pobrezinha acabou morrendo de parto... Recortei as partes puídas e refiz outra perereca com o que sobrou. Nascia a Cristininha que me acompanhou até a minha entrada na universidade.
Só mais uma coisa que eu acho interessante contar. Na época só havia o aeroporto de Congonhas. A gente embarcava andando pela pista até chegar na escada do avião. A minha classe toda me acompanhou ao aeroporto. Eu me lembro que despedi de todos e fui para o embarque. Quando cheguei no topo da escada, apesar do barulho das turbinas ligadas, comecei a escutar o meu nome. A turma toda estava no terraço acenando. Foi simplesmente maravilhoso. Chorei feito uma boba e levei uma bronca do vovô. Foi aí que me dei conta que esta viagem ia ser longa...
Lilia Maria

sábado, 27 de novembro de 2010

Que gosto tem o gosto que eu gosto?

Como alguém pode descrever um gosto? Uma sensação? Um cheiro?
Este pensamento me remete ao filme Cidade dos Anjos, estrelado por Nicolas Cage (Seth) e Meg Ryan (Maggie), ele um anjo e ela uma simples mortal. Seth admira os pequenos milagres que os mortais deixam passar no dia a dia. Numa cena memorável Seth pede à Maggie que descreva como é o sabor da pêra que ela está comendo. É complexo... É linda a forma que ela tenta dizer a ele, que não tem tato, olfato e paladar, como é perceber os cristaizinhos doces que se espalham pela boca. E certamente o que ela sente não é o que eu sentiria, pois cada ser é único nas suas sensações e cada coisa (ou pessoa) também é única naquilo que oferece.
É difícil... Passei tempos pensando em cada uma das coisas que comia ou sentia e percebi que a gente simplesmente não se dá conta. Hoje, a cada novo experimento tento buscar todas as sensações que um gosto, um cheiro, um toque pode me dar. Mas como descrever? Será que a sensação de doçura que sinto é a mesma que os outros irão sentir? Será que aquele meio azedinho meio docinho que me encheu de prazer pode dar o mesmo prazer a outra pessoa? Como posso descrever para alguém que gosto tem o gosto que eu gosto? Este sentir é meu...
É como usar perfume. Duas pessoas usando um determinado perfume nunca serão iguais. Cada um tem seu cheiro natural, e este irá combinar com a fragrância. O resultado sempre será único... E acreditem, sempre o que irá prevalecer é o perfume que a pessoa exala... Feromônios? Pode ser... Descobri que quando a gente está apaixonada eles ficam à flor da pele e quanto mais apaixonada se fica menos se passa despercebida na rua. Coisa para se pensar...
Mas enfim... Que gosto tem o gosto que eu gosto? Tem o gosto que quando experimentado com a ponta da língua, irá se espalhar pelo céu da bocar e me fazer feliz... Feliz por poder sentir, degustar, sugar, lamber, me deliciar e querer mais...
Muito escrevi, mas não disse nada. Não tem o que dizer. Para mim basta eu saber.

Lilia Maria

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Prece pagã

Bendito é o fruto
Que ofereço em devoção
Aos lábios que beijo
Com amor e paixão.
Bendito é o fruto
Que me oferece para provar,
Cuja seiva me aplaca a sede,
Mas ainda tenho fome a saciar.
Seja feita a nossa vontade
De dar e receber as dádivas
Que nos fazem subir aos céus
Em momentos de prazer.
Prazer que acalma a alma,
Que o corpo espera para descansar...
Bendito seja em minha vida,
Bendito seja em meu amor.


Lilia Maria

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Geometrizando

Nunca fiz parte do círculo ou da circunferência,
Mas gravito em torno de um centro muito peculiar.
Tão peculiar como o ponto que represento,
Que nunca fez parte, mas não deixou de gravitar.
Uma situação tão estranha e tão sem explicação
Já virou um paradoxo na teoria que escrevi
Justificando o momento que vivi.


Lilia Maria

Geometria é uma das partes mais belas da Matemática. Seja classica ou as não euclidianas , a análítica, a plana ou a espacial, Geometria sempre será uma das minhas grandes paixões, daí ser fonte de inspiração.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Matematicando

Entre seu ponto e o meu ponto
Sempre existe um ponto médio
Que um dia ainda vou calcular...
Pego a régua e o compasso,
Próximo passo é traçar a mediatriz...
Ou a bissetriz dependendo do universo
Dos pontos a se considerar.


Lilia Maria

Quando tinha 15 anos vivia escrevendo poesia na aula de Matemática...
Foram-se os tempos, a aluna virou mestra, mas nunca perdeu a fonte de inspiração.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Leticia

Lágrimas que agora deixo escorrer,
Em meu rosto refletem luz e paz.
Tenho um longo caminho a percorrer
Indo ao encontro do Mestre.
Choro pelos sonhos adormecidos,
Ilusões que se perderam no tempo,
Amor que em vida plantei.

Lilia Maria

Um acróstico simples em homenagem à minha tia que se foi...
Que ela fique em paz...

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Uma história em três tempos









Olha só a menininha... Magricela, joelhuda, cabelo liso e espetado... Lá vai ela procurar o irmão. Encontrou tudo. Encontrou todos. Menos quem procurava... E no meio deste olha pra lá e pra cá, o coração pára, o sangue gela nas veias, um arrepio desconhecido percorre a coluna da base do crânio ao cóccix. Os olhos se fixam em outros olhos... Azuis da cor do céu, céu onde neste momento, ao invés de anjos cantando, ouve-se o riso maroto do arqueiro que dispara sua fecha certeira e crava no coração inocente daquela menina-flor que nem ainda desabrochou...






Corta a cena... Passa o tempo... Quanto tempo? Dez... Quinze... Vinte anos... Todos seguiram seus caminhos... Cada qual vai escrevendo a sua história. Cada um está feliz ao seu modo e em seus lugares. Os caminhos são divergentes, estão fadados a nunca mais se cruzarem... E na caminhada a menina, agora uma mulher, olha para os lados procurando... Encontra tudo... Encontra todos... Menos quem gostaria de encontrar... O coração está cicatrizado há muito... Restou carinho. Restou saudade. Restou curiosidade... Que foi feito do menino?







O tempo vai passando, as lembranças vão se apagando, e num último sopro de recordações finalmente aqueles olhos azuis conseguem enxergar, não mais a menina, mas a mulher que passou a vida toda esperando um dia ser vista pelo dono daquele olhar...








Lilia Maria

domingo, 14 de novembro de 2010

Entrando no inferno astral...

Inferno Astral é o período de 30 dias que antecede a data do aniversário. Nessa época, dizem que estamos muito mais sensíveis e precisamos de muito mais atenção. Normalmente faço um balanço dos últimos tempos e estabeleço metas para o próximo período.
Acabei de entrar nesta fase no último sábado... Tive uma noite de sono tranqüilo, acordei abraçada ao meu travesseiro e sentindo um perfume gostoso à minha volta. Isto é um bom sinal... Não levantei correndo como faço todos os dias... Fiquei meio que sonhando... Meio que em estado de letargia... Envolvida com doces lembranças da infância e da juventude... Era como se o balanço anual estivesse começando, mas muito antes do tempo que normalmente escolho como parâmetro...
De repente me veio a idéia... Quais as dez melhores coisas da vida? Fácil? Qual nada... É muito difícil... Quando a gente pensa que acabou lá se vem mais uma lembrança e temos que começar tudo outra vez... E assim, creio que nunca conseguirei fechar esta lista, mas sei que algumas coisas, por mais que eu mude de idéia, nunca deixarão de estar lá.
Sempre fará parte desta lista o “ser mãe”. Passei por duas gravidezes. Fui, segundo o Dr. Chico Lima, uma primogesta idosa muito comportada... Não sentia nada... Não tive enjôos, vontades, dores, aliás, nem as do parto. Trabalhei até praticamente a véspera de dar a luz, dirigi até o dia de ir para a maternidade, amamentei minhas meninas por oito ou nove meses, doei leite para aleitamento materno de outros bebês e criei duas pessoinhas muito especiais... Inteligentes, bonitas, decididas, amorosas, honestas,...
A segunda coisa, como não poderia deixar de ser, é escrever um livro... Na falta de um tenho dez, mas nenhum ainda é aquele que gostaria realmente de ter feito, mas este está a caminho... De qualquer forma meu nome já faz parte do catálogo de autoridades da Biblioteca Nacional.
Claro que a terceira sempre é o plantar uma árvore. Já plantei muitas... No colégio, no sítio do meu pai, aqui em casa... De certa forma estas coisas são mais ou menos parecidas. Filhos crescem e frutificam como as árvores... Os frutos não precisam ser necessariamente netos, mas o sucesso em empreitadas que fazem vida afora. Os livros têm como frutos os ensinamentos que encerram em suas linhas e entrelinhas.
Estas três coisas são clássicas, e as outras?
Acho que ninguém pode morrer sem andar de pés descalços na areia de uma praia vendo o sol se pôr... Ou roubar leite de uma porta e tomá-lo sentada numa praça para ver o sol nascer acompanhada de uma pessoa especial.
Ninguém pode morrer sem fazer uma serenata, ou de receber uma de presente... Ou as duas coisas...
Ninguém pode morrer sem ter dado risada até chorar ou ao contrário, chorar tanto que acabe rindo de si mesmo, jogando desta forma a tristeza para o alto...
Não é possível passar a vida toda sem ter pelo menos um amigo daqueles que se contam coisas que muitas vezes não ousamos confessar nem para a própria consciência...
E a delícia de andar sem nenhum abrigo pela chuva? Pelo menos uma vez na vida tem que se fazer isso... É como se estivéssemos lavando a alma e recarregando a bateria para começarmos tudo outra vez...
Viver pelo menos uma linda história de amor também não pode faltar... Um amor daqueles que a gente guarda para sempre no coração e, se um dia ele acontece, fica gravado na pele como uma tatuagem cujo significado só nós sabemos...
Tem muitas coisas já vividas... e muitas ainda que devem vir... Se eu colocasse nesta lista tudo que penso, certamente passaria dos dez itens brincando... Gostaria muito de viajar de mochila nas costas ou cruzar as Américas de carro... De dormir ao relento numa praia deserta... De enveredar por uma mata só para ouvir o canto dos pássaros e sentir o perfume da terra molhada pelo orvalho da noite...
E assim vou me perdendo nos devaneios... Sonhos... Realizados, realizáveis, impossíveis, impraticáveis...
Lilia Maria

sábado, 13 de novembro de 2010

Sensações

Mãos tateando,
Experimentando,
Sentindo,
Buscando,
Insinuando,
Acariciando...

Braços abraçando,
Aconchegando,
Protegendo,
Apertando,
Enlaçando,
Prendendo...

Olhos bem abertos,
Mergulhados em outros olhos,
Colhendo impressões,
Aprovando,
Saboreando,
Se deliciando...

O começo de tudo,
Do prazer,
Do romance,
Do sonho.
Lembranças de uma vida,
Caminhos da eternidade...

Lilia Maria

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Pensamentos

Mesmo sem tocar o céu.
Conheço a sua imensidão.
Mesmo sem ver o vento
Percebo sua presença,
Seu poder,
Sua força.
Não consigo caminhar
Sobre a linha do horizonte,
Mas sei que ela é real
E norteia os navegantes.
Sou o espelho da minha alma,
Mesmo que ninguém encontre o reflexo.

Lilia Maria

Hoje, mais do que nunca, sei que os meus fantasmas, meus sonhos e minhas fantasias podem ser reais...

terça-feira, 2 de novembro de 2010

A Panelinha

Estava lendo o blog de um amigo da época do colégio que acabou enveredando pelo mundo da política e de repente me deparei com uma fala muito conhecida. Ele conta que em ano político é sempre a mesma coisa. Candidatos saem à rua procurando o eleitor e lembrando a eles que a rua deles foi asfaltada; que a mãe foi atendida no hospital; que foi colocado luz em tal rua e por aí vai.
Certamente estes candidatos em outros tempos mal falam bom dia para um eleitor, aliás, nem mesmo se preocupam em caminhar pelas ruas e verificarem como andam as coisas ou do que os eleitores estão precisando. A maioria pode ser chamada de burocrata de gabinete e olha lá...
Essa leitura acabou me levando a uma história que aconteceu quando eu cursava o último ano da graduação da Matemática na USP. Não vou citar nomes, mas se algum colega da época ler, certamente lembrar-se-á do que falo.
Todo anos era a mesma coisa... Chegava a época das eleições para o Centro Acadêmico lá pelo mês de outubro e o IME entrava em greve. Eu nunca ouvia falar que a greve era para que os melhores professores da casa dessem aula para nós (os melhores estavam sempre na Poli) ou que melhorassem as condições das salas da Reitoria Velha que era onde tínhamos aulas. A greve era sempre deflagrada pelo fim da opção interna.
Para quem não sabe, quem prestava vestibular para Matemática tinha um ano de aulas com matérias básicas – cálculo, física, álgebra, etc. Ao fim do segundo semestre, o aluno optava pela carreira a seguir. Eram 5: pura, licenciatura, estatística, computação e aplicada. Ele estabelecia uma ordem de prioridade e seguindo o ranque de notas as vagas eram distribuídas. Era mais do que prestar um novo vestibular.
E isso não era só na matemática. Todos os cursos da USP que tinham um ciclo básico para depois distribuir os alunos pelas carreiras funcionavam assim. E funcionou assim até a bem pouco tempo. Lembro-me bem de quando a minha filha mais velha cursava engenharia na Poli. Aliás, na Poli era até pior que na Matemática, pois ao fim do primeiro ano optava-se pela grande área: civil, elétrica, mecânica, química e sei lá que mais. Depois, no final do segundo ano vinha a opção pela carreira. E tinha que estudar MUITO para chegar com tranquilidade aonde se queria chegar.
Certa vez, conversando com o Dr. Waldyr Oliva, na época diretor do instituto e posteriormente reitor da Universidade, ele alertou que não seria viável abrir tantas vagas nos cursos quanto os alunos interessados por uma questão econômica. Era preciso lançar no mercado, profissionais de todas as áreas e de forma equitativa. Claro que fazer esta opção na hora do vestibular era mais justo, mas aí implicava em outras coisas que não vem ao caso agora.
Voltando ao IME...
Durante o ano todo quase ninguém sabia nem muito ao certo quem eram as pessoas do Centro Acadêmico. Tirando a sala onde a gente jogava ping-pong nos intervalos de aulas, nem mesmo saberíamos que existia o tal centro acadêmico. Aí, na época de eleição todo mundo aparecia... Na aula, na sala de jogos, nos corredores... E era tapinha nas costas de um, beijinhos na bochecha de outra... Eles surgiam do nada... E se ocupavam principalmente dos ingressantes... Eram eles que tinham que fazer a opção interna... E os “amiguinhos” iam fazer greve para acabar com ela. E era sempre a mesma turma. Ninguém entrava, ninguém saia... e ninguém se formava...
Invariavelmente esta greve não dava em nada e os “gracinhas” eram eleitos. Não sei o que eles ganhavam com isso... Em São Carlos, o presidente do CAASO tinha, além do prestígio, uma estrutura para gerir. Era a gráfica, o cursinho, uma parte político-social-esportiva ativa, atuante, influente... A experiência adquirida era o melhor aprendizado conseguido na academia. E isso dito por quem passou por lá... Eu mesma estive envolvida por mais de dois anos na estrutura, dirigindo os esportes femininos. Esta experiência foi de grande valia quando assumi o comando da microinformática da Secretaria Municipal de Educação. Mas e o CEFISMA? Não me recordo de nada que tenha acontecido nos três anos e meio de IME.
Quando estávamos no último ano resolvemos questionar os métodos eleitoreiros. Acho que acabamos com o sono tranqüilo dos candidatos por alguns dias. Criamos a ante chapa: A Panelinha.
Éramos anônimos. Fazíamos cartazes e espalhávamos em lugares estratégicos questionando a postura dos colegas. Colocamos o dedo em muitas feridas. Fizemos muita gente pensar.
Certamente se tivéssemos nos lançado oficialmente teríamos ganho a eleição de lavada, mas éramos formandos e a maioria não podia se dar ao luxo de ficar mais um ano na Universidade.
Foi um grande exercício. Até hoje quando encontro colegas da época, muitos me perguntam se eu fazia parte da Panelinha e quem eram os outros integrantes do grupo, mas sempre tivemos o compromisso que não divulgar nenhum nome a não ser o próprio se assim quisesse. Eu já assumi publicamente o meu papel nesta história mais de uma vez.
Digo sempre que se algum colega da época aprendeu como reconhecer e fugir dos “fisiológicos”, valeu a penas as horas de sono perdidas para produzir o material da nossa campanha.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Apaixonada

Que mulher não fica louca
Sonhando com beijo na boca?
Que mulher não se arrepia
Pensando em mãos macias
Percorrendo o contorno do corpo?
Que mulher não suspira
Por palavras sussurradas ao ouvido
Dizendo aonde se quer chegar?
Que mulher não fica tonta
Diante de uma paixão?


Lilia Maria

Que bom que é estar apaixonada. A gente volta a ser criança. A gente se enche de alegria. A gente se renova, pois renovadas estão as esperanças, os sonhos, a vida.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Dádiva

Se você não existisse
Alguém tinha que inventar...
E me dar direito de uso
Para eu poder experimentar
As emoções que pensei adormecidas,
No fundo do meu coração perdidas,
No meu livro da vida esquecidas...
Emoções que estão à flor da pele,
Em cada gesto que faço,
Em cada palavra que falo,
Em meu corpo,
Em meu olhar.

Lilia Maria

Uma vez já me disseram que muitas coisas que escrevo só passam a fazer sentido depois de um tempo, dentro de uma nova situação.
Hoje reli algumas coisas perdidas no meu livro Amor Antigo e este trecho de um poema chamou minha atenção.
Estou feliz...

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Tão jovem e tão caduca...

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amiga do rei...
E das rainhas...
E dos valetes...
Das copas e espadas.
Bendito é o reino dos coringas
Que me mandam parar de sonhar.
Bendito é o fruto que vou colhendo,
Mas nem sei se vou saborear...
Acorda Cinderela!
Branca de Neve já soltou as suas tranças,
E a Rapunzel achou o sapatinho de cristal
Que a Aurora escondeu do Feliz...
Tudo porque o Príncipe Encantado
Foi chamado a entrar na história
Sem ter nenhuma explicação.

Lilia Maria

Completamente desnecessário dizer quanto minha cabeça anda confusa... O que faz a gente jogar pedrinhas no lago quando a água parou de fazer marolas?
Sabe quando a gente é criança que o pai diz - Não põe o dedinho na tomada. dá choque... E a gente vai, coloca, e leva um baita susto com o que acontece mesmo sabendo o que vai acontecer?
O perigo muitas vezes seduz...

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Volver a los 11, 12, 13...

Volver a los diecisiete después de vivir un siglo
Es como descifrar signos sin ser sabio competente,
Volver a ser de repente tan frágil como un segundo
Volver a sentir profundo como un niño frente a dios

Hoje esta música não me saiu da cabeça. Mas não sei se voltei só aos 17. Creio que andei voltado aos 11, 12, 13...
Boas lembranças, tempos felizes, tempos em que tudo parecia meio cinza, mas que hoje, entrando no outono da vida, parece que aqueles tempos foram mágicos, coloridos, vibrantes... Mesmo alguns acontecimentos que marcaram momentos de pesar e tristeza, hoje são vistos com outros olhos. Não ganharam leveza, mas não têm mais o mesmo peso.
Que bom que é olhar estes tempos através dos olhos de quem estava lá. Que bom é olhar estes tempos e perceber que fizemos parte uns das histórias dos outros e fizemos toda diferença. Que bom é hoje poder ser chamada de amiga. Que bom é hoje chamar alguém de amigo.
Que bom que nós existimos!

Lilia Maria

Um beijo grande para o meu mais novo velho amigo.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Gênese de um poema – “In-disciplina”

Rogério Santos foi meu aluno numa das primeiras turmas para as quais lecionei matemática. Quando começaram a se multiplicar as redes sociais acabamos nos reencontrando. Cantor, poeta e letrista, vivo encantada com tudo que ele compõe e sempre que posso assisto suas apresentações. Creio que sou a mais idosa das suas tietes. Hoje acabamos fazendo uma bela parceria. Talvez a idéia toda deva ser mais amadurecida antes de virar uma canção multidisciplinar.
O processo de criação foi muito interessante. Ele postou um poema no Facebook. Eu gostei muito e escrevi que devia ser coisa de um geógrafo apaixonado. Escrevi em seguida uma réplica substituindo coisas da geografia por coisas da matemática. Ele juntou tudo, discutimos uma mudança aqui, outra ali, e saiu o poema a quatro mãos que um dia ele pretende que vire uma canção:

In-disciplina

ROGERIO SANTOS & LILIA MARIA FACCIO
o amor é altiplano
quando a vida é cordilheira
quando a paixão serpenteia
desejo e desfiladeiro

o tesão é um desafio
primeira ponta de fio
da novela e do novelo
fecunda lição de alpinista

e não há carta ou cartilha
que oriente um caminho
vai nos olhos de quem ama
GPS e fagulha de chama

O amor é um axioma
quando a vida é um teorema,
quando a paixão se demonstra
por indução quase infinita.

o tesão é um desafio
de preencher o conjunto vazio
de muitas respostas e facetas
de quem contém ou é contido

Não há processo ou algoritmo
que mostre o melhor caminho
para se chegar ao coração
de quem escreve o problema.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Apredendo a ensinar

Era tanto para aprender
Que nunca me dei conta
Que aprendia a ensinar.
Não como um doutrinador,
Com fala de papagaio
Que não vê o outro lado,
Mas como um professor
Que percebe olhos ansiosos,
Que escuta a fala ingênua,
Que entende a dificuldade,
Que sorri com indulgência,
Mas sabe ser ao mesmo tempo
Severo e gentil,
Claro e sutil,
Mestre e aprendiz.

Lilia Maria

Hoje, no dia do professor, gostaria prestar uma sigela homenagem ao Professor Scipione de Piero Netto. Nada foi tão rico em minha vida como o tempo que trabalhei com ele na Editora. Nem os anos de graduação me ensinaram tanto quanto o que aprendi com ele no dia a dia da construção da série de livros para o ensino fundamental que tive a honra de fazer parte da equipe e da autoria.
Que pena que ele se foi sem que tivéssemos tempo para uma última conversa.
Quero também saudar a todos os outros professores que tive em toda a minha vida e aos meus caros colegas de profissão.
Que Deus abençoe a todos.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Chicão, minha eterna paixão

Sempre gostei muito de música. Quando era pequena, e isso já contei em algum post, deliciava-me ao ver minha mãe tocando harmônica.
Quando eu tinha mais ou menos 7 anos queria aprender a tocar piano. Na casa ao lado da nossa morava uma família de árabes. Ana, a filha mais velha, dava aulas e diversas vezes me perguntou se eu não queria aprender. Meu pai dava um monte de desculpas e sempre ficava para mais tarde.
Quando minha irmã manifestou o desejo de aprender, meu pai achou que era a hora para mim também, mas o meu encanto havia acabado. Até fui, pois alguém tinha que levar a pequena, mas não era mais o que eu queria. Nesta época eu queria aprender a tocar violão.
Apesar de ter uma “violinha” em casa, naquele momento ele achava que eu deveria continuar com o piano, e fim. Em casa era assim. A única que sempre conseguia o que queria era minha irmã. Minha mãe dizia que era mais fácil fazer o que ela queria do que agüentar a amolação. Ela era MUITO insistente. E convincente... Sempre vencia no grito. Mas isso não vem ao caso.
Quando fui estudar na EESC, um dia apareceu um curso de violão como optativo. Amei. Pedi a tal violinha emprestada e fui lá fazer o tal curso ministrado pelo maestro Geraldo Menucci.
A minha violinha foi motivo de muita chacota, a começar pelo fato que, guardada há mais de 15 anos nos armários da minha casa, ela permanecia com as cordas originais de aço e não de nylon como eram usadas então. O som não era ruim, mas de violão a minha violinha tinha muito pouco.
Acabei ganhando um violão igual ao do Pestana, meu namorado da época. Foi um presente de Natal adiantado. Nem é preciso contar que foi comprado por um precinho bastante camarada porque a cor laranja do tampo assustava os compradores. Este detalhe foi motivo de outro tanto de comentários maldosos, claro, mas o meu argumento era perfeito: o meu era único... Enfim... Apaixonei-me pelo meu laranjinha que acabou batizado de Chicão.
O nome tem a ver com a música “Meu refrão” do Chico Buarque:
Quem canta comigo,
Canta o meu refrão
Meu melhor amigo
É meu violão
Ele era (e é) o meu melhor amigo. Era bater tristeza ou alegria que lá estava abraçada com ele. Tocar eu não tocava nada, mas esquecia da vida tentando.
Minha maior dificuldade estava com a pestana... (com o Pestana eu não tinha nenhuma, tanto que continuamos amigos até hoje). Era tentar e o som sair todo desafinado. Virei desafio para a minha última professora. Ela tentava a todo custo me fazer acertar e como não conseguia ficava buscando alternativas para os acordes.
O Chicão trouxe muita música e muita alegria para a minha vida. Por anos fui responsável pelo canto nos cursos de noivos do Colégio São Luiz. Com a minha amiga Eliana Habib, montamos uma missa toda cantada com acompanhamento de violões na E.M. Celso Leite. Ela marcava um trabalho conjunto entra a escola e a paróquia de N. S. Achiropita conta a violência.
Apesar de tudo isso, sempre fui muito tímida e não tocava em público. Sempre havia uma desculpa e lá ia o Chicão para outras mãos... Eu tocava e cantava muito em casa, principalmente quando minhas filhas eram pequenas. Cantamos Vinícius para crianças de A a Z. A porta, A casa, O pato, A pulga, Valsa para uma menininha, e todas as outras faziam a delícia das nossas tardes musicais, mas era chegar alguém e o Chicão virava espectador...
Acho que por uma única vez toquei em público... Foi terrível... Montei um coral com os formandos e um aluno de outra série fazia o acompanhamento. Na hora da festa ele não veio. Aí lá fomos nós, Chicão e eu, para o palco. Sentei na escada, respirei fundo e dei os primeiros acordes da música “O caderno”. Ficou lindo apesar dos meninos se recusarem a cantar a parte da música que diz “Quando surgirem seus primeiros raios de mulher”. Foi uma grande surpresa para os pais ver a professora de matemática fazendo uma coisa que normalmente seria tarefa da professora de artes.
O Chicão passou das minhas mãos para as da minha filha Andrea. Viajou com ela, teve a sua caixa rachada, o braço empenado, deixou de ter acordoamento Augustine, mas continua com seu som lindo. E agora está de volta.
Como “quem canta os males espanta”, ando cantando de novo, mas nada novo, só as músicas velhas que me fazem mergulhar numa alegria que só eu sei.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Música Mística

A clave de sol na partitura
Comanda o caminhar da canção
Nos compassos sem espaços,
Sem pausa,
Sem andamento.

São do-re-mi’s que ficam silentes,
Esperando a vez de se expor
Pelas fusas e semifusas,
Confusas...
No meio da pauta musical.

De repente
O som angelical
De harpas, flautas e violinos,
Inundam o espaço
Em cheias semicolcheias
Que agora têm a voz de comando.

E a música que encanta,
Que faz nascer emoções,
Que envolve a alma
E abranda corações,
Tem a mística tarefa
De virar recordações.

Lilia Maria

O mundo devia ser musical...

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Poetas

Poetas deliram,
Criam a realidade,
Iludem-se,
Flagelam-se.
Mistificam,
Inspiram-se,
Transpiram prazer
De escrever,
De contar,
De romancear.
Transvertem-se em cores,
Entregam-se a amores
Vãos,
Perdidos,
Sofridos.
Sentem,
Pressentem,
Choram
O momento perdido,
A palavra não dita,
O sonho não vivido.
E se escondem
Atrás do verso,
Do sorriso,
Da vida.
E renascem das cinzas,
Buscam emoções,
Acalmam-se,
Põe os pés no chão,
Suspiram,
E começam tudo outra vez.

Lilia Maria

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Quem eu sou?

Sou a gota,
O grão de areia,
O espinho da roseira.

Sou a vogal,
O agá mudo,
O ponto final.

Sou o conto,
A poesia,
A página do jornal.

Sou apenas um pedaço
Que passou despercebido
Pelo crivo do Divino.


Lilia Maria

Quem lê esta poesia logo vai pensar: coitada, está deprimida... Mas analisa comigo: uma gota pode fazer a água do copo entornar, o grão de areia pode incomodar muito dentro de um sapato, o espinho da roseira pode até machucar.
A vogal... O resto, fica por conta do leitor...

sábado, 25 de setembro de 2010

Falando demais

Esta é uma fala muda,
Dessas que ninguém escuta.
É um jogo de palavras...
Que nada diz,
Mas muito fala,
Pois a fala fica muda
Quando se muda a fala
E emudece o interlocutor
Que com palavras brincou.

Não se pode mudar a fala
Depois que já se falou.
Então fica o dito pelo não dito,
Muda depressa o assunto,
E faz de conta que ninguém escutou.

Lilia Maria

Isso é quase um pedido de desculpas para alguém que de vez em quando eu emudeço com a minha fala. A intenção não é ruim. É como um jogo, e a saída, ou seja, a mudança de assunto tem que ser sutil.
De qualquer forma, prometo melhorar... Não quero perder o amigo! Nunca!

terça-feira, 21 de setembro de 2010

No final dá tudo certo

Eu não vou lá,
E você não vem aqui.
Brincamos de esconde-esconde
Na noite de lua nova.
Eu escondo meu sorriso
E você, o seu olhar.
Eu escondo a paixão
E você, a vontade de sonhar.
Estou nua dos meus pudores,
Deixei todos do lado de fora...
Eu escondo os meus medos
E você, a inquietação.
Eu me escondo de você
E você?
Adianta se esconder?


Lilia Maria

Ando em pleno pique de adolescente. Eu, uma cinquentona aposentada, que deveria estar pensando em cuidar de netos, de repente me vejo assim. Saio para ir a um jantar de família, toda vestida de senhorinha. Danço a noite toda como nunca fiz antes na vida e volto para casa despenteada, suada, com a meia rasgada, mas feliz, feito uma moleca levada. Acho que eu andava me escondendo de mim...

domingo, 19 de setembro de 2010

Iluminecência

O que procuro aqui
Com esta luz de lamparina
Que mal ilumina
Aquilo que se pode ver?
O que posso encontrar
Tateando com as mão trêmulas,
Inibidas pelo medo
De perceber e ser percebida,
Nesta nova investida,
Timida e recolhida,
Mas muito ousada
Para aquilo que é permitido
Aos que não foram escolhidos?
Que pergunta boba!
Qualquer cristão de boa índole
É capaz de responder
Que o que os olhos não enxergam
É melhor deixar passar,
Pois quem vive na inocência
Tem candura no olhar.

Lilia Maria

sábado, 18 de setembro de 2010

Garimpando palavras

Estou aqui hoje às voltas para escrever uma mensagem para um senhor que considero muito e que vai aniversariar na semana que vem. Não sei por onde começar.
No ano passado, último ano em que ele ainda podia ser chamado de cinqüentão, veio fácil o tema que me deu inspiração: um abraço. E por que o abraço? Lembrei do dia que marcamos de tomar café e ele chegou meio atrasado. Eu estava ali, sentada no banco da pracinha, quando entra um carro depressa na curva, e para meio torto no meio fio... Não vou dizer o que pensei, pois depõe contra nós dois. Ele saiu do carro, com cara de quem perdeu a hora de acordar, meio sem graça e já pedindo desculpas. Simplesmente abri os braços, e disse com toda sinceridade: - Santa criatura, que bom te ver outra vez.
O poema saiu limpo, sem retoque, como tudo que escrevo com a alma e o coração. Depois acabei pensando outros versos, outras formas de expressar o quanto gosto de abraçar e ser abraçada. Para mim o abraço é vital.
Hoje a palavra não engrena... Só consigo imaginar que a grande maioria dos meus amigos já está chegando lá... Despendem-se idade mágica de quem algo mais que meio século viveu e vão se envolvendo pouco a pouco, quase sem sentir, no orgulho de ser um sexagenário, com tudo em cima, lindos, maduros, prontos para continuar a jornada como quem acaba de começar.
Como já disse algumas vezes, não importa a idade, os cabelos brancos pintados (ou arrancados) pacientemente pelas vestais do tempo, as marcas deixadas como pegadas que denunciam a data da certidão de nascimento ou outras coisas que muitos ostentam orgulhosos, mas que outros tentam de todas as maneiras esconder. O que vale de fato nesta vida é a história que escrevemos e deixamos escrever naquele livro que nos foi legado na hora em que fomos gerados. São as páginas que ousamos povoar, nossas ou de quem vamos encontrando na estrada, que se entrelaçam e vão formando uma infinita enciclopédia do viver e do saber.
Não sei como começar, mas vou certamente saber terminar, dizendo que sinto falta dos encontros casuais que há muito não acontecem e enviando mais um abraço para a santa criatura que insisto em não colocar de novo na caixa dos guardados do passado.
Lilia Maria

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Amor e Paixão

Paixão é verso,
Amor é poesia.
Paixão é vendaval,
Amor é calmaria.

Esta foi uma das respostas que postei hoje no Facebook à pergunta proposta pela Marcia Pitta: - Alguém sabe me dizer a diferença de amor e paixão? Como responder? Achei que este post ia bombar. Quando se trata de falar destes sentimentos todo mundo vira doutor... Quem nunca curtiu uma paixão? Quem nunca viveu um grande amor?

Apesar de ser uma eterna apaixonada e de amar o amor, creio que ainda tenho muito que aprender. Nem sei se algum dia estarei pronta para falar algo definitivo sobre estes dois sentimentos que podem caminhar juntos, se completarem ou estar numa mesma linha se alternando conforme a situação.

Quando se fala de amor e paixão, automáticamente a imagem que nos vem é de um casal que compartilha de forma sublime estes dois sentimentos. São os esteriótipos herdados da educação que recebemos. A minha geração sofreu quase que lavagem cerebral para interiorizar que amor é sagrado e que sexo é pecado. E a paixão acabava sendo quase que um sinônimo de luxúria, um dos sete pecados capitais. Mas não é só disso que quero falar.

Aqui cabe uma reflexão. Quantas vezes ouvi alguém dizer: - Amo arroz com feijão! Tudo bem... Mas... - E o arroz com feijão? Ele ama você? Aí vem a cara de interrogação... Dizer isso é muito diferente de dizer – Marcia, eu amo você! A Marcia pode até me amar (ou não!). Mas há a possibilidade. Mas isso não significa que quero ter com a Marcia uma relação diferente da de amizade. Claro que vou ficar feliz quando encontrá-la, vou abraçá-la, os três beijinhos tradicionais, perguntar da vida, da família, dos amores... (e olha ele aqui de novo!) Eu posso amar a Marcia, mas não vou ter nenhuma idéia romântica... afinal do que ela gosta eu gosto também... Quer dizer... Mais ou menos... Se bobear ela monta um asilo e eu... Bem, eu estou mais para creche... – maldade do Herera e da Glorinha...

Mas voltando ao tema central e deixando de lado as confidências (ou maledicências para ser mais clara), creio que o amor pode até ser descrito matemáticamente (olha só a minha paixão!) como uma função não linear. Um dia se ama mais, no outro se ama menos, numa época o amor é muito e de repente ele pode virar muito pouco. Ele pode tender a zero no limite da situação, mas não sei se ele chega a zero não, pois se a zero chegar, deixa de ser amor e vira um outro sentimento que não é amor não.

Será que um dia a gente deixa de amar? Eu acho que não. Por experiência própria digo, sem medo de errar: nem a morte mata o amor. E a paixão? A quantas anda a paixão? Paixão é uma coisa louca, arrebata, explode, te deixa de quatro... A gente ri, canta, dança... Parece que o coração não cabe no peito... Paixão é prender a respiração e morrer de tesão...

Amor e paixão podem ou não caminhar juntos, mas se estiverem na mesma hora e no mesmo lugar, nada pode ser mais incrível, mais gratificante.

Marcinha, não sei se repondi a sua questão, mas me deu um prazer incrível filosofar em cima de um tema tão gostoso.


Lilia Maria

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Entristecente

Vou trancar portas e janelas
Até cessar o vendável,
que me sacode dos pés à cabeça
e me arrasta pelo quintal.

Vou morrer mais uma vez
E renascer na água fria
Que gela o coração
E cola meus pés ao chão.

E depois na calmaria
Vou continuar a sorrir
Com o sangue que corria nas veias
Se esvaindo pelos poros
E marcando cada passo do caminho
Com rubros rastros deste crime
Que acabo de cometer.

Matei o amor em seu leito branco,
Rebento do ventre aberto em flor.
Não tenho mais nada,
Só pesar e amargor.

domingo, 22 de agosto de 2010

Atitude

Águas calmas correm profundas!
Águas represadas pedem vazão!

Mexa no lago,
Faça um rodamoinho,
Abra a comporta,
Deixa a água sair!

E, se não der mais pra segurar,
Deixa o lago secar.
Tudo toma seu curso
Mesmo quando se erra
Com vontade de acertar.

Lilia Maria
out/2002

Depois de perder toda a pesquisa de um ano todo, de perder o texto da qualificação e todos os gráficos e mapas, eu parecia calma e tranqüila como se nada tivesse acontecido. Não adiantava esbravejar, brigar, falar, me debater. As águas corriam profundas! Deixei o lago secar e agora vou recomeçar.
Na vida nada acontece por acaso. Creio que eu precisava disso tudo para parar, pensar e refazer o caminho e, desta vez sem atalhos.

sábado, 7 de agosto de 2010

Aureos tempos

Não mais irei me referir aos tempos da nossa infância ou juventude como velhos tempos. Foram anos de ouro! Anos que andamos na corda bamba entre os ensinamentos dos antigos e a nova consciência que vinha surgindo. Andamos entre a hipocrisia de uma sociedade que condenava o nosso livre pensar, mas que fizeram na calada da noite tudo aquilo que expúnhamos no nosso jeito, muitas vezes até ingênuo, de ver a vida.
Batalhamos por mudanças. Mudamos. Vencemos e fomos vencidos. Comemoramos, e muitas vezes com um gosto amargo, os nossos passos em busca da liberdade, da individualidade e das nossas crenças
Crescemos, assumimos riscos, e pautamos as nossas vidas pelos valores que fomos filtrando ao longo do tempo. Hoje, desnudos dos preconceitos e da falsa moral que tentaram nos impingir, temos a certeza que a transição ainda não acabou. Somos atores desta história. Mesmo como coadjuvantes, damos sustentação a esta juventude que muitas vezes parece perdida diante de um mundo cada vez mais receptivo aos novos movimentos.

sábado, 31 de julho de 2010

Velha coroca? Eu?

Na semana passada saí com minha filha mais velha para comprar um presente de aniversário para a mais nova. Entramos numa loja que tinha um espaço “túnel do tempo”. Quase “babei” na decoração. Tinha uma vitrolinha amarela com um disco de vinil do Mike Jagger e um monte de outras “cositas” anos 60/70. Para mim é sempre um mergulho no tempo.
Duas vendedoras, novinhas ainda, tipo 20, 22 anos, perceberam que eu estava meio que emocionada. Vieram conversar comigo. Aí eu contei a elas que quando fui morar em São Carlos para fazer faculdade, meu pai havia me dado de presente um aparelhinho daqueles e que eu tinha até hoje uma montanha de discos, muito bem guardados. Elas me perguntaram qual era para mim a maior relíquia entre eles. Uau!!!! Todos! E fui enumerando e contando as histórias:
- Álbum Branco dos Beatles – quando saiu a série numerada em CD, ganhei um das minhas filhas. A cópia é tão perfeita que até as fotos que existiam no original estão nela e em escala!
- O último álbum do Simon and Garfunkel, gravado ao vivo num mega-concerto no Central Park de Nova York no dia 19 de setembro de 1981. Elas se impressionaram com o fato de eu dar a data e perguntaram se eu assisti. Expliquei que não e que nem poderia pois neste dia eu estava me casando. Quando o disco saiu no Brasil, o Ramon me deu de presente.
- A coleção completa dos discos do Chico até anos 80. Os primeiros ganhei de presente de um amigo queridíssimo... Elas não acreditaram muito. Não que eu tivesse os discos, mas que os discos havia sido presente de alguém que era SÓ amigo. Eu disse que era amigo até hoje e aí veio toda a história do Chico no circuito universitário que eu já contei aqui.
E quando falo do circuito Universitário acho que os meus olhas brilham! Comecei a contar dos shows do Vinícius de Moraes e Toquinho. Foram dois. Fiquei sentada quase que no palco e mais um pouco pegava o microfone para cantar junto. Falei do show da Elis Regina. Ela cantava e era como se a música entrasse na gente. O corpo todo vibrava ao som de cada nota musical.
Lembrei também de um show do Ivan Lins que foi feito no salão de esportes da faculdade de Educação Física. Na época ele estava brigado com a música Madalena que os críticas qualificavam de “comercial”, “feita para vender discos”. E daí? Ela era vibrante, marca registrada... Todo mundo pedindo para cantar e ele não cantou.
No meio da conversa aparece minha filha e fica brava... Palavras dela:
- Mãe, você está uma velha coroca... onde já se viu ficar contando essas histórias? Você acha que as meninas queriam saber dessas coisas?
Filhos...

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Estrelas e Cometas

Há algum tempo li um texto que dizia que há pessoas Estrelas e pessoas Cometas. Era mais ou menos assim:

Tanto estrelas como os cometas possuem luz e marcam a sua presença brilhando no firmamento. A diferença é que os Cometas passam, deixam um rastro que vai se apagando. Um dia eles retornam, mas nunca é para sempre. Já as Estrelas permanecem e só param de brilhar quando morrem e mesmo assim, continuamos a ver a sua luz por muito e muito tempo.
Gente Cometa passa pela nossa vida apenas por instantes. Elas não se prendem a ninguém. Normalmente não tem amigos e sua luz é efêmera, não chega a aquecer, não deixa marcas, só lembranças esporádicas.
Ser Estrela. é ser luz, calor, vida. Ser amigo é ser Estrela. Passam anos, a distância pode separá-los, mas sua marca fica para sempre no coração.
Gente Cometa pode ser companheiro por instantes, para uma aventura, e depois não se lembrará mais. Cometas são solitários. Ninguém caminha ao seu lado.
Amigos Estrelas nos dão coragem nos momentos de tensão e luz nos momentos de desânimo.
Ser Estrela num mundo cheio de pessoas Cometas é um grande desafio, é uma grande responsabilidade, mas também é uma recompensa, pois as Estrelas não apenas existem, elas vivem ...
Tenho muitas estrelas brilhando no meu firmamento, mas conheci, ao longo da vida, inúmeros cometas. Alguns até marcaram presença, mas estão demorando tanto para fazer a próxima passagem que acredito que nunca mais voltarão.
Este post é para um amigo de sempre, Mikka, e para um menino que gostaria que não fosse apenas um cometa, Luiz Fernando. Vem Lú, vem brilhar no meu firmamento´!
Um beijo carinhoso aos dois.
Lilia Maria

sexta-feira, 16 de julho de 2010

A senha SECRETA...

Em 1997, Dona Marisa Bernardo, na época responsável pela informática de SME, me propôs um desafio. Eu tinha menos de uma semana para colocar no ar a primeira página da Internet para a Secretaria. . Ela seria inaugurada no primeiro dia do Educando/97. Educando era um congresso/feira de educação organizado pela SUCESU . Eu nunca havia feito uma e tinha uma vaga idéia de como as coisas aconteciam.
Naquele dia eu grudei no rapaz que compunha as páginas da UNESP e procurei saber pelo menos por onde deveria começar. Ah! Sim... Nesta época eu era Analista de Sistemas da Coordenadoria Geral de Bibliotecas das UNESP.
À noite, depois de uma jornada de oito horas de trabalho, eu encarava mais quatro em SME.
Normalmente eu trabalhava no meu notebook, pois a Secretaria não tinha computadores disponíveis para todos. Mais ainda, não havia rede instalada na PMSP, nem modem’s para acesso à Internet via linha discada. Além do meu notebook ter um modem, eu dispunha de acesso via UNESP ou RNP. Eu não sei se a PMSP era precária ou se eu é que era muito chique.
Pois então, comecei a estruturar a página naquele dia. Hoje seria muito fácil, há ferramentas para tudo. Na época não havia nada. Tinha que fazer “na unha”. Pedi para a Marisa arrumar um micro e alguém para trabalhar comigo. Ela me apresentou para uma funcionária da Prodam, Ivone Daris, e propôs que dividíssemos o computador.
No dia seguinte, logo cedo passei na Secretaria para colocar no micro o que já havia feito para a Ivone checar. A máquina tinha senha. Voltei na hora do almoço e comentei sobre a senha. A Ivone toda séria me diz:
- A senha é secreta.
Sim, senha é coisa sagrada. Como eu digo sempre, senha é pessoal e intransferível! Mas eu precisava trabalhar e não queria usar meu notebook. Enfim... se ela não queria dar a senha... Paciência...
No outro dia encontro a Ivone.
- Oi Lilia, vc não está usando o micro?
- Não, né... tem senha...
- Sim, a senha é secreta.
- Pois é, se é secreta não tem como eu saber...
- Não! A senha é SECRETA. Secreta é a senha... e caiu na gargalhada.
Adorei a idéia.
Pena que acabei perdendo a Ivone por aí.
Só para terminar, consegui fazer a página. Não ficou lá essas coisas, mas diante da precariedade do material que eu dispunha, até que ficou bem interessante.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Vai e Vem

Vira e volta,
Vai e vem,
Vira e gira,
Vem também.

Vem que aqui tem
Mel de vintém,
Sol e alegria,
Amor todo dia.

Vai e vem,
Fica também,
Um momento,
Uma vida,
Para todo o sempre,
Amém!

Vira e volta,
Revira a vida,
Que gira e que volta,
Ao ponto da partida.

Partida de ida,
Partida de saída,
Vira e volta,
Direto pra mim.

Se você não entendeu,
Posso até explicar,
Que a gente vira e volta,
Sempre para o mesmo lugar.

Lilia Maria
02/12/2002

Um jogo de palavras que muitos leram e não entenderam.

sábado, 19 de junho de 2010

Ramon Ortiz

Há exatamente um ano escrevi um post sobre o Chico Buarque de Holanda, para mim, o mais ilustre aniversariante de hoje.
Hoje o post não será para o mais ilustre, mas sim para o mais querido. Quer pessoa mais querida do que o pai das minhas filhas?
Conheci o Ramon com atraso de alguns anos. Lembro-me que em algum momento dos meus dezessete anos, estava passando o domingo na casa de um amigo do meu pai em Caraguatatuba. A esposa dele me convidou para passar a semana com eles. Quando argumentei que não tinha roupa, a filha do casal me ofereceu as dela. Havia ainda uma senhora espanhola, Dona Carmen, que argumentou que estava para chegar uma família de amigos que estariam trazendo os filhos e que seria muito divertido. Agradeci muito o convite e não fiquei.
Anos mais tarde, já casada, o Ramon resolveu visitar o padrinho em Caraguatatuba. Na viagem ele comentou que não o via há pelo menos uns dez anos. Quando cheguei tive a impressão que conhecia aquelas pessoas e que já havia estado naquela casa, mas não comentei nada.
De volta a São Paulo fui até a casa dos meus pais e peguei um álbum de fotos. Lá estavam eles: o Sr. Antonio e Dona Carmen. As crianças que estariam na casa deles eram justamente o Ramon e seus irmãos.
Depois desta ida a Caraguatatuba nos encontromos diversas vezes. Numa delas Dona Carmen fez uma proposta. Ela disse que devíamos comprar uma caixa de champanhe e que a cada ano deveríamos tomar uma garrafa inteira no dia 31 de dezembro. Como diziam que o mundo iria acabar na passagem do século, em 31 de dezembro de 1999 tomaríamos o que sobrasse na caixa, pois se o mundo acabasse, estaríamos tão bêbados que nada iríamos sentir. Pena que ela não viveu para executar a proposta. Nós também não executamos, mas bebemos champanhe em Paris para saudar o novo século.
Voltando ao aniversariante de hoje. O Ramon é uma pessoa com muitos defeitos, mas de qualidades incríveis. É o melhor amigo que alguém pode ter, mas o pior inimigo que pude conhecer.
Eu sempre digo que o Ramon nunca fica no meio termo. Ou ele ama ou ele odeia. Quando nos separamos ele não me amava, claro, então me odiava. E fazia questão de deixar isso devidamente registrado para o mundo. Hoje felizmente (creio) conseguimos chegar numa boa convivência. Não que tenha voltado a me amar, mas virei exceção, ele não me odeia mais. Quanto a mim, tenho por ele um carinho enorme. Ele me mostrou o que pode ser o inferno, mas em compensação, me fez tocar o céu com a ponta dos dedos.
Feliz aniversário Ramon! Que Deus o ilumine e proteja sempre.
Lilia Maria
Em tempo: feliz aniversário ao Chico Buarque e ao Maurício Moscatelli.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Oi Maria Suzi! Fala Lilia Maria!

Era assim que, por muitos e muitos meses, o meu dia começava.
Nada de Maria Suzi. Era apenas Suzi, ou Suzete.
Nós nos conhecemos em 1989. Ela trabalhava no Centro de Multimeios da Secretaria Municipal de Educação e eu no CPD. Nesta época participamos do grupo que desenvolveu o primeiro projeto de Informática Educativa em escolas públicas na América. Na homologação do projeto Genesis pelo então Secretário da Educação, Prof. Paulo Freire, estávamos juntas. Lembro-me bem da nossa conversa com ele. Falamos dos nossos sonhos e perguntamos a ele quanto poderíamos sonhar, qual era o limite para os nossos sonhos. Ele nos respondeu com uma pergunta: -Há limite para o sonho? Ele era realmente uma pessoa iluminada.
Depois disso eu acabei indo trabalhar (e sonhar) na Secretaria da Cultura. Acabamos nos afastando um pouco, mas o carinho continuava o mesmo.
Em 93, quando iniciou o governo Maluf, durante o “caça às bruxas”, não saímos ilesas. O que pesava contra nós era justamente o projeto que Genesis. Eu tive um advogado de defesa perfeito. Voltei para a Secretaria e coloquei algumas pessoas sob as minhas asas. A Suzi era uma dessas.
Como morávamos próximas, todos os dias íamos trabalhar juntas. Esse era o nosso bom dia:
- Oi Maria Suzi! Fala Lilia Maria!
Com o tempo formamos uma dupla imbatível. Sob orientação do pessoal da PRODAM desenvolvemos um Plano Diretor de Informática envolvendo todos os âmbitos da SME. Um trabalho primoroso. Viramos modelo para toda a PMSP.
Em 94 prestei concurso para ser analista de sistemas sênior na UNESP. Mesmo assim continuávamos indo e voltando juntas. Com a minha saída o grupo ficou meio enfraquecido e aí a Suzi se aposentou e foi trabalhar na SUCESU.
Vivemos um período bastante conturbado. Ela com problemas em casa e eu com problemas com a chefia. No fim ela pediu demissão na SUCESU e foi cuidar da filha e eu pedi exoneração na UNESP e voltei para a Educação.
Nós nos víamos sempre. Ela acompanhou o meu processo de separação e eu o seu processo de degradação.
Por fim ela acabou tendo um AVC e hoje ela não mais aquela mulher exuberante, dona do mais belo par de olhos azuis que eu já vi. Aliás, os olhos eram tão bonitos que o Andre Pitkowski chegou a perguntar a ela em tom de brincadeira, quantas vezes ela havia entrado na fila dos olhos para que Deus lhe desse este.
As minhas histórias com a Suzi certamente renderiam um livro que teria desde o humor sarcástico até dramas shakespearianos.
Hoje Suzi está aniversariando. Parabéns Maria Suzi! Um beijo da sua amiga Lilia Maria!

terça-feira, 15 de junho de 2010

Jogo amistoso?

Sei que não sou a melhor pessoa para comentar um jogo de futebol. Não é a minha praia. Gosto de ver os jogos independente de quem são os oponentes, tenho meu time do coração e sei apreciar uma boa jogada. Hoje, como todo o respeito, creio que a equipe brasileira, apesar da vitória (apertada), ficou devendo.
Depois de meia hora de jogo, mesmo estando na frente da TV, comecei a fazer outras coisas. Não tinha emoção. Não tinha chutes que pareciam oferecer perigo. Não sei se é por conta de ter como adversário uma equipe tecnicamente considerada inferior, mas o jogo estava completamente sem graça.
Houve uma época que eu era viciada em Gamão Online. Quando tinha um bom oponente as jogadas chegavam a ser geniais, mas se o adversário era um principiante não tinha graça. Eu abandonei o vício quando começou a ficar muito repetitivo.
Quero crer que foi isso. Talvez se houvesse um terceiro tempo (o primeiro foi só aquecimento) as duas equipes poderiam mostrar uma partida a altura de uma Copa do Mundo.
Lilia Maria

terça-feira, 8 de junho de 2010

Perdida entre as Ciências Exatas e Humanas

Se pedirem a um técnico para descrever a água, dentro do seu raciocínio cartesiano, descreve o líquido como uma reação química e chega aos elementos básicos que individualmente não são água. Fim. Este é o limite. A água foi descrita de forma incontestável.
Mas se o mesmo for pedido a um pensador, este não olha o líquido em si, mas o imagina contido em um recipiente e questiona a sua origem sem, contudo, olhar para a água. Como tudo depende de onde viemos, o que chama sua atenção é o fato de que estamos envolvidos pela água por dentro e por fora. Chega, então, à conclusão de que a água é onipresente, mas como só Deus é onipresente (lógica de primeira ordem) então a água é Deus. Parece obvio que isto não tem fim... Ou tem, só que a água acabará esquecida no meio do caminho.
Em geral, tudo aquilo que acaba sendo explicado com uma bela equação matemática toma ares de verdade irrefutável.

Este texto foi adaptado (quase compilado) de um e-mail recebido do colega de turma da pós-graduação e amigo Sidney Castro.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Jogo rápido – sugestão de atividade

Recebi um e-mail do meu amigo Mikka comentando o meu post anterior e contando uma atividade que ele faz com alunos do cursinho. Segue o que foi escrito:

É bem rápida (Cursinho é tudo rápido).
Entro em sala no primeiro dia e digo para escrever numa folha as respostas.
1- Posso começar?
2- Qual o seu nome?
3- Qual o nome da sua mãe?
4- Qual a sua idade?
5- Qual a carreira escolhida?
E mais algumas perguntas.
Depois eu digo:
Qual a primeira resposta dada?
Invariavelmente eles respondem o nome, eu corrijo dizendo “sim”, que é a resposta da primeira.
Parafraseando meu grande amigo Pier Luigi: “Isto é falta de atenção, onde vocês querem chegar sem ela?”

Obrigado
Profº Edinho (Mikka)

Adorei a atividade. Se um dia voltar à sala de aula certamente usarei.
Lilia Maria

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Você sabe seguir instruções?

Quando ainda era professora de matemática, havia uma série de atividades que costumava desenvolver com os alunos, principalmente na primeira semana de aulas. Acho que a que sempre causava impacto era esta. Eu entregava uma folha de sulfite para cada aluno dizendo que não iria ler nem responder nada durante a atividade, pois entender o que era pedido fazia parte da avaliação.
Na folha estava impresso o que segue:

VOCÊ SABE SEGUIR INSTRUÇÕES?

1.Leia as instruções abaixo antes de realizar qualquer tarefa, mas trabalhe o mais rápido que puder.
2.Ponha seu nome abaixo, sendo o sobrenome primeiro.
3.Conte e escreva quantas letras tem o seu sobrenome.
4.Multiplique por 3 e escreva o resultado.
5.Escreva o nome da sua cidade de nascimento.
6.Feche os seus dois olhos, se houver mais algum feche-o também, a abra-os um de cada vez.
7.Fale em voz alta o seu nome, ao chegar a essa instrução.
8.Verifique se seu nome está corretamente escrito na instrução 2.
9. Escreva o nome do seu professor no canto inferior esquerdo.
10. Agora que você leu todas as instruções cuidadosamente, faça apenas o que manda as instruções de número um e dois, e ignore todas as outras instruções.

Invariavelmente, com raras exceções, claro, ninguém seguia a primeira instrução. Quando chegava na décima era o caos. Todos queriam retificar, justificar e me crucificar... Mas por um bom tempo eles se lembravam de seguir rigorosamente aquilo que era pedido. Era um ótimo exercício.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Pão! Êta trem bão!!!

Fresquinho, quentinho,
Com manteiga
Ou pão com pão.
Tem coisa melhor?
Descobri que tem,
Mas não vou contar.
Quem quer saber
Vai ter que advinhar...
Ou experimentar...
Pão com queijo,
Pão e um beijo,
Pão com geléia,
Pão delícia,
Pão de minuto,
Da hora boa
Do fim da tarde.
Sem pressa de ir embora,
Sem pressa de terminar.
Vem que a fornada está saindo,
Vem que o café está quentinho,
É só chegar ...
Servido????

Lilia Maria

Soa como um convite. Na minha casa sempre tem café com pão. E, se não tiver, é só descer e entrar na porta quase ao lado no meu prédio. Lá funciona uma padaria daquelas que dá água na boca.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Dama da Noite

Sigo e persigo este aroma
Que me alucina como droga poderosa.
Fico romântica,
Fico mansa,
Fico sonhando com contos inacabados!
É o passado me animando,
É o presente me contestando,
É o futuro se delineando!
Ah! Louca magia deste perfume,
Que seduz a minha alma,
Que me transporta para uma nuvem,
Que flutua na borda do céu.
Como o raio de luar,
Que livre invade a minha janela,
Não tenho como prendê-lo
Ou eternizá-lo dentro de um frasco.
É tão livre como estes pensamentos
Que escrevo nesta tosca folha de papel.


Lilia Maria
05/05/2010

Quem nunca parou para saborear o perfume desta flor?
Eu não sei qual o poder que ele tem sobre mim, mas é sentí-lo e deixar minha alma voar livre através dos tempos, através dos sonhos.
Tenho uma plantada em um vaso na minha varanda. Tem apenas dois galhos coberto de flores que acabaram de desabrochar. Minha casa toda está perfumada. Estou flutuando... É como se a felicidade tivesse invadindo cada cantinho desta minha morada.
Obs: este post deveria ter sido publicado na data da poesia, mas fiquei esperando uma resposta de um e-mail que só chegou hoje. Resultado: demorou tanto que as flores já acabaram...

terça-feira, 11 de maio de 2010

Porta de segurança de banco – ninguém merece!

Quando ainda estamos ouvindo falar sobre a morte de um aposentado que foi baleado na porta de um banco, hoje mais uma vez vivi meu dia de horror para entrar na agência do Itaú onde sou correntista.
Saí de casa com a bolsa para resolver algumas coisas, entre elas deveria passar nos bancos. Primeiro entrei no Santander. Como sabia que a minha bolsa estava com muita coisa dentro, coloquei no armário que fica perto dos caixas eletrônicos na parte externa da agência. É um armário simples, com portas numeradas e uma fechadura comum. Não tem erro. Coloca a bolsa, fecha a porta e carrega a chave.
Depois fui ao Itaú. A idéia era fazer o mesmo. Há um armário cujas portas ficam fora da agência. Na rua mesmo... É todo sofisticado. Usa -se um cartão magnético para abrir a porta. Certamente é muito prático... quando funciona. Em questão de uma semana fui a três agências com o meu pai. Em todas o tal dispositivo estava quebrado. Aí o negócio é tirar tudo que for metal da bolsa e colocar no suporte próprio na porta giratória.
Pois então, como não podia guardar a bolsa, fui tirando coisas de dentro e tentando passar. Aí vem a segurança:
- A senhora tem guarda-chuva?
- Não! Mas, tenho uma placa metálica na perna.
-Celular?
- Já tirei! Olha, tenho uma placa metálica na perna.
- Moedas, óculos com armação metálica, relógio, pulseira...
Nada, a porta continuava a apitar. E a dita cuja simplesmente ignorando o que eu estava falando. Juro que se não fosse tão importante eu teria ido embora. Fiquei tão nervosa que esvaziei a bolsa na calçada e fui recolocando um a um todos os meus pertences e mostrando para o pessoal que estava acompanhando a minha trama.
Uma vez separado todos os possíveis empecilhos, lá fui eu mais uma vez. E a porta continuava a apitar. Aí ela faz sinal para o segurança que fica na retaguarda e misteriosamente a porta se abre... Dá vontade de sair no braço com o sujeito. É abuso de autoridade. Parecem que eles ficam rindo do desespero das pessoas.
Enquanto eu estava aguardando ser atendida, mais uma porção de pessoas teve problemas.
A gerente fez questão de registrar o ocorrido, mas de que adianta? Vão consertar os tais armários? Vão contratar seguranças mais atentos? Vão se preocupar em melhorar o esquema?
Nós pagamos muito caro para sermos tratados como bandidos.
Lilia Maria

sábado, 8 de maio de 2010

Menina bailarina

Segue a vida caminhando
Devagar e na ponta dos pés
Como se fosse a bailarina
Que a cada passo se equilibra
Mesmo saindo do tropeço,
Mesmo tendo que recomeçar.
Segue firme seu destino
Sem tempo de descansar,
Pois a música da vida não pára,
E vivendo é preciso bailar.
Salta, rodopia e volta a caminhar.
É assim e assim será.
Com cadência e maestria,
Viva a vida como um bailado
Que não tem hora para terminar.

Lilia Maria

06/05/2010

Este poema foi escrito especialmente para minha irmã Livia Cristina por ocasião do seu quinquagésimo aniversário.

sábado, 1 de maio de 2010

Pedaço de Mim

Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar

Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais

Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu

Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi

Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim
Lava os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor
Adeus

Chico Buarque

1º de maio de 1994, um dia que nunca mais vou esquecer...
Nesta época eu estava prestando concurso para analista de sistemas senior na UNESP.
Na SME, a Suzy (Suzete Rodrigues Martins, minha parceira) e eu tínhamos organizado o Primeiro Encontro de Informática de SME. Na sexta-feira, 29 de abril, enquanto acontecia o evento eu estava participando de uma das provas. Quando entrei no prédio da PRODAM no Ibirapuera tive a nítida impressão que alguém falava de um acidente com o Ayrton Senna nos treinos. Olhei para os lados e não vi ninguém. Subi a rampa que levava ao primeiro andar onde ficava o auditório. Perguntei a uma das colegas o que havia acontecido com o Senna e ela contou do acidente com o piloto Rubinho Barrichelo. Tenho certeza que não foi isso que escutei.
No sábado durante o treino de classificação, um novo acidente me fez lembrar da voz que escutara no dia anterior. Roland Ratzenberger morreu depois de se chocar a 308 km/h no muro da curva Villeneuve. Todos diziam que a bruxa estava solta. E estava...
No domingo levantei cedo pois tinha que estudar para a última prova do concurso. Liguei a TV e eles estavam mostrando o Senna examinando o carro. A cara de preocupado e o olhar triste, como se estivesse despedindo da vida, apertou meu coração. Avisei a família: vou tomar banho, se o Senna morrer não vai ter prova amanhã. Falei brincando, mas no fundo sabia que era verdade.
Estava tomando banho e a corrida estava começando. De repente, "a voz"... Como um filminho eu vi o acidente com aquele carro azul acontecer. Foi tempo de sair do chuveiro e correr para sala para acompanhar os últimos segundos da corrida do Aylton. Lembro que o Ramon estava ao meu lado e torcendo para que a câmara mostrasse algum sinal de vida. Nada... Passaram-se horas até que dessem a fatídica notícia.
Parecia que o mundo desabara. Chorei copiosamente. De certa forma me sentia culpada, mesmo sabendo que não havia desejado aquilo. Ele era meu ídolo, meu exemplo de vontade e determinação.
Poucos dias depois, andando na rua, vi uma performance de dança com esta música homenageando o Ayrton. Fiquei tocada. "A saudade é o revés de um parto" nunca fez tanto sentido para mim.

Lilia Maria

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Aconteceu há 60 anos...

Hoje meus pais completam 60 anos de casados. Eu até queria comemorar, mas eles não quiseram. Vai saber...
Hoje pela manhã eu fui até a casa deles e depois saí com o meu pai. Ele me deixou em casa a meio dia e foi para a casa dele. Mais tarde eu passei por lá de novo. Olha só que coisa linda! Ele havia comprado um buque de copos de leite para a mamãe. Depois de 60 anos ele lembrou que quando eles se casaram o buque dela era de copos de leite e que a caminho do Rio de Janeiro, onde eles passaram a lua de mel, fizeram uma parada em Aparecida para ela depositar as flores aos pés da Santa.
Hoje eles têm respectivamente 85 e 79 anos. Ela tinha 19 quando se casou. Era quase uma menina... Meu pai lembrou hoje também que o juiz de paz disse após a cerimônia civil que a partir daquele momento ele era responsável por ela. Na época a maioridade só acontecia depois dos 21 anos.
De certa forma hoje ele também deveria ser responsável por ela, mas ele não consegue aceitar que ela tem problemas de senilidade. Deve ser difícil mesmo. Eu às vezes me choco quando ela me confunde com a irmã mais velha. Hoje mesmo ela me perguntou da minha filha Regina (que na verdade é sobrinha dela). Eu não sabia se ria ou se chorava. Que difícil é envelhecer...
De qualquer forma, parabéns a eles! Que Deus os abençoe e dê paciência aos dois (e para mim...) para continuarem juntos a caminhada.


Lilia Maria

segunda-feira, 19 de abril de 2010

PRÓLOGO


"Asad-Abu-Carib, rei do Iémen, ao repousar, certa vez, na larga varanda do seu palácio, sonhou que encontrara sete jovens que caminhavam por uma estrada. Em certo momento, vencidas pela fadiga e pela sede, as jovens pararam sob o sol causticante do deserto. Surgiu, nesse momento, uma formosa princesa que se aproximou das peregrinas, trazendo-lhes um grande cântaro cheio de água pura e fresca. A bondosa princesa saciou a sede que torturava as jovens, e estas, reanimadas, puderam reiniciar a jornada interrompida. Ao despertar, impressionado com esse inexplicável sonho, determinou Asad-Abu-Carib que viesse à sua presença um astrólogo famoso, chamado Sanib, e consultou-o sobre o significação daquela cena a que ele - rei poderoso e justo - assistira no mundo das Visões e Fantasias. Disse Sanib, o astrólogo: Senhor! As sete jovens que caminhavam pela estrada eram as artes divinas e as ciências humanas: a Pintura, a Música, a Escultura, a Arquitetura, a Retórica, a Dialética e a Filosofia. A princesa prestativa que as socorreu simboliza a grande prodigiosa Matemática. Sem o auxílio da Matemática - prosseguiu o sábio - as artes não podem progredir e todas ciências perecem." (MALBA TAHAN, O HOMEN QUE CALCULAVA)
Este trecho do livro "O homem que calculava" foi o prólogo do trabalho "A Arte e a Matemática", apresentado por mim e pela colega Maria Cristina Barros da Silva Rodrigues Leite, ao final do curso de "Metodologia do estudo da Matemática" ministrado pelo Prof. Dr. Vinicio de Macedo Santos na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo no ano de 2005.
Embora este curso fosse dirigido aos alunos da graduação em Licenciatura em Matemática, nós duas cursávamos como alunas especiais e prováveis postulantes ao mestrado.
Usar arte como motivação para o estudo da matemática, em particular da geometria não é uma idéia original. Porém o que sempre tenho visto é apenas uma pontinha do que pode ser feito. Além do mais, é preciso de muito estudo, muita pesquisa, uma boa dose de criatividade e bastante trabalho para se preparar aulas com qualidade.
Um dia ainda vou pensar melhor neste assunto.

sábado, 17 de abril de 2010

Paixão

Que o rubro dos meus lábios
Toque a sua pele macia
E trace um caminho de fogo
Que te desperte e aqueça.

Que beijos e mais beijos
Te façam vibrar de prazer.
Que o seu corpo molhado
Venha se aconchegar junto ao meu.

Ah! Paixão que me consome!
Corpo e alma entrelaçados,
Sem mistérios ou segredos.
Para uma entrega plena e profunda.

Que braços se abracem,
Que bocas se procurem,
Que num momento de pura magia
Eu adormeça junto a quem a fome me sacia!

Lilia Maria
set/2002

Adoro a última estrofe. Para mim ela é o poema do poema.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Doce deleite

Olhar acarinhando,
Seduzindo,
Brincando.

Sorriso gostando,

Entregando,
Chamando.

Gesto insinuando,

Convidando,
Enlaçando.

Língua provando,

Degustando,
Exigindo,
Buscando.

Palavras molhando,

Delirando.
Bocas sondando,
Enlouquecendo.
Corpo deitando,
Oferecendo.

Lábios chamando,

Querendo,
Sussurrando.

Mãos empurrando,

Trazendo,
Experimentando.

Gemidos,

Sussurros,
Explosão de cores.

Paz,

Aconchego,
Sonho...

Lilia Maria
set/2002

Este é mais um poema da série sensual. Claro que alguns poderiam achar pornográfico pois ele é muito explícito. Eu particularmente acredito na pureza daquilo que é feito com amor, seja lá o que for.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Beijo Roubado

Lábios se tocam,
Levemente,
Gentilmente,
Se entreabrem,
Suspiram...

Ah! Língua atrevida!
Insinua,
Invade,
Convida.
E aprofunda...
E recolhe...
E chama...

Uma doce dança,
Uma troca,
Um prazer,
Um martírio,
Um devaneio.

Lilia Maria
31/08/2002

Ontem recebi um e-mail dizendo que era dia do beijo. Será? No próximo dia do beijo vou sair beijando o mundo... (rs) Só não garanto que serão beijos roubados como este que descrevo no poema. Quando escrevi isso, o Prof. Gerson Pigatto classificou como "pornográfico". Eu diria que é sensual. E você que acabou de ler, o que você acha?

domingo, 4 de abril de 2010

Sonho Impossível

Sonhar, mas um sonho impossível
Lutar quando é fácil ceder
Vencer o inimigo invencível
Negar quando a regra é vender
Sofrer a tortura implacável
Romper a incabível prisão
Voar num limite improvável
Tocar o inacessível chão
É minha lei, é minha questão
Virar esse mundo e cravar esse chão
Não me importa saber se é terrível demais
Quantas guerras terei que vencer por um pouco de paz
E amanhã, se esse chão que eu beijei for meu leito e perdão
Vou saber que valeu delirar e morrer de paixão
E assim, seja lá como for vai ter fim a infinita aflição
E o mundo vai ver uma flor brotar do impossível chão


De Joe Darion, Mitch Leigh (versão em português de Chico Buarque)
Do filme "O homem de la Mancha"

Esta música me acompanha desde que eu a ouvi pela primeira vez em 1973. Cada verso, em separado, motivou a virada em algum momento importante da minha vida. Hoje eu estaria cantando "Lutar quando é fácil ceder". Eu vou à luta e VOU VENCER.

Lilia Maria

quarta-feira, 31 de março de 2010

Adeus aos meus pudores

Se algum um dia,
Ao mostrar o corpo,
Tão meu, tão intocado,
Tão sagrado, tão guardado,
Constrangimentos senti,
Já não tenho mais tantos pudores,
Em expor os seios nus,
Diante de olhos assépticos,
Profissionais, éticos.
Não há novidade,
Não há sobressaltos,
É coisa do dia a dia,
Apenas terapia,
Apenas profilaxia,
Do câncer extirpado,
Banido, recortado,
Que foi me acontecer.

Lilia Maria
14/09/2004

Ontem, nem sei porque, comentei que um dia tive câncer. Eu não falo muito do assunto. Passou. Já recebi alta e já deixei de ser uma portadora assintomática. Claro que o meu caso não era grave. Numa escala de 0 a 5, onde 0 seria sem a doença e 5 seria o estado terminal, eu estaria no 1. Como disse meu oncomastologista, tenho um anjo da guarda que me ama muito.
Lembro-me que passei muitos meses fazendo exames. Todos davam negativo, mas o Dr. José David não ficava satisfeito. Ele constatou a presença de um tecido diferenciado na minha mama direita. Era como se eu tivesse levado uma bolada (palavras dele) e machucado internamente. Depois de algum tempo ficou uma cicatriz. Segundo ele, esta cicatriz era o local ideal para um câncer se alojar.
Um dia ele disse que estava cansado de mandar me espetar (para os exames era feita uma punção e retirado o material para a biopsia) e que iria retirar cirurgicamente todo o tecido. Ele disse que eu poderia escolher entre operar em julho ou dezembro, mas que não deveria passar disso.
Minha mãe sempre me dizia que se a gente tem que passar por alguma coisa ruim que seja logo, pois assim logo passa. E assim foi. Escolhi julho. Depois de dez dias da cirurgia, recebi das mãos da enfermeira do meu médico o exame total do material extirpado. Li, li, li e de repente no meio do texto apareceu a palavra temida: carcinoma. O tempo parou. Não... Li errado... Vamos lá... Reli, reli, reli... Até que finalmente entrei na sala do médico. A primeira coisa que ele me falou: você é católica? Você acredita em anjo da guarda? Então reza muito pelo seu, pois se esperássemos até dezembro não sei o que eu teria que tirar.
Saí do consultório com um pedido de ressonância magnética, pois ele não sabia previamente poderia ter sobrado alguma coisa ainda. Depois foram 28 sessões de radioterapia. Em momento algum eu pensei que poderia não dar certo. Correu tudo bem. E aqui estou eu.
Hoje algumas pessoas “menos avisadas” dizem: nossa! Que bom que era um câncer benigno. Gente!!!! Já cansei de explicar que não há câncer benigno e que hoje tem cura. Quanto mais cedo for feito o diagnóstico, mais chance se tem de vencer a doença. Quanta gente percebe que tem algo errado e diz que não vai ao médico, pois tem medo de ter um câncer. Na verdade esse medo mata mais que a própria doença.
É isso... Este poema foi escrito quando iniciei o meu tratamento.
Cuidem-se!!!!!



segunda-feira, 22 de março de 2010

Versejando

Eu era a rainha de copas,
Você o rei de paus.
Juntos por várias rodadas,
Na mesa ou nas mãos do jogador.
Até que de repente...
Uma canastra nos separou.
E o tempo passou...

Fui a corda e a âncora
Que segurava o barco no lugar.
Você, o barco pomposo,
Feito para nunca naufragar...
Mas quem podia imaginar
Que na corredeira logo à frente
Eu ficaria presa entre as pedras
E você, despedaçado no fundo do mar...

Você era o lobo que vagava à noite
E eu o falcão que voava ao sol raiar.
Como na lenda muito antiga
Não havíamos de nos encontrar.
Mas no dia do eclipse,
Eu o vi naquela fração de segundo
Antes da morte me encontrar...

Minha alma ainda vaga
Solta aqui e em todo lugar.
Mas em que mundo andará a sua?
Na poesia que agora escrevo
És a letra, a idéia a rima
E eu fico olhado através da telinha,
Esperando que tudo vá se apagar.

Lilia Maria

Gente! Que desgraceira... Eu não acredito que escrevi isso!!!
Enfim... A idéia nem é original...

sexta-feira, 19 de março de 2010

AFINIDADE

A afinidade não é o mais brilhante, mas o mais sutil,
delicado e penetrante dos sentimentos.
O mais independente.

Não importa o tempo, a ausência, os adiamentos,
as distâncias, as impossibilidades.
Quando há afinidade, qualquer reencontro retoma a relação,
o diálogo, a conversa, o afeto, no exato ponto em que foi interrompido.
Afinidade é não haver tempo mediando a vida.

É uma vitória do adivinhado sobre o real.
Do subjetivo sobre o objetivo.
Do permanente sobre o passageiro.
Do básico sobre o superficial.
Ter afinidade é muito raro.

Mas quando existe não precisa de códigos verbais para se manifestar.
Existia antes do conhecimento, irradia durante e permanece depois
que as pessoas deixaram de estar juntas.
O que você tem dificuldade de expressar a um não afim, sai simples
e claro diante de alguém com quem você tem afinidade.

Afinidade é ficar longe pensando parecido a respeito dos mesmos
fatos que impressionam, comovem ou mobilizam.
É ficar conversando sem trocar palavra.
É receber o que vem do outro com aceitação anterior ao entendimento.

Afinidade é sentir com.
Nem sentir contra, nem sentir para, nem sentir por, nem sentir pelo.
Quanta gente ama loucamente, mas sente contra o ser amado.
Quantos amam e sentem para o ser amado, não para eles próprios.

Sentir com é não ter necessidade de explicar o que está sentindo.
É olhar e perceber.
É mais calar do que falar.
Ou quando é falar, jamais explicar, apenas afirmar.

Afinidade é jamais sentir por.
Quem sente por, confunde afinidade com masoquismo.
Mas quem sente com, avalia sem se contaminar.
Compreende sem ocupar o lugar do outro.
Aceita para poder questionar.
Quem não tem afinidade, questiona por não aceitar.

Só entra em relação rica e saudável com o outro,
quem aceita para poder questionar.
Não sei se sou claro: quem aceita para poder questionar,
não nega ao outro a possibilidade de ser o que é, como é, da maneira que é.
E, aceitando-o, aí sim, pode questionar, até duramente, se for o caso.
Isso é afinidade.
Mas o habitual é vermos alguém questionar porque não aceita
o outro como ele é. Por isso, aliás, questiona.
Questionamento de afins, eis a (in)fluência.
Questionamento de não afins, eis a guerra.

A afinidade não precisa do amor. Pode existir com ou sem ele.
Independente dele. A quilômetros de distância.
Na maneira de falar, de escrever, de andar, de respirar.
Há afinidade por pessoas a quem apenas vemos passar,
por vizinhos com quem nunca falamos e de quem nada sabemos.
Há afinidade com pessoas de outros continentes a quem nunca vemos,
veremos ou falaremos.

Quem pode afirmar que, durante o sono, fluidos nossos não saem
para buscar sintomas com pessoas distantes,
com amigos a quem não vemos, com amores latentes,
com irmãos do não vivido?

A afinidade é singular, discreta e independente,
porque não precisa do tempo para existir.
Vinte anos sem ver aquela pessoa com quem se estabeleceu
o vínculo da afinidade!
No dia em que a vir de novo, você vai prosseguir a relação
exatamente do ponto em que parou.
Afinidade é a adivinhação de essências não conhecidas
nem pelas pessoas que as tem.

Por prescindir do tempo e ser a ele superior,
a afinidade vence a morte, porque cada um de nós traz afinidades
ancestrais com a experiência da espécie no inconsciente.
Ela se prolonga nas células dos que nascem de nós,
para encontrar sintonias futuras nas quais estaremos presentes.
Sensível é a afinidade.
É exigente, apenas de que as pessoas evoluam parecido.
Que a erosão, amadurecimento ou aperfeiçoamento sejam do mesmo grau,
porque o que define a afinidade é a sua existência também depois.

Aquele ou aquela de quem você foi tão amigo ou amado, e anos depois
encontra com saudade ou alegria, mas percebe que não vai conseguir
restituir o clima afetivo de antes,
é alguém com quem a afinidade foi temporária.
E afinidade real não é temporária. É supratemporal.
Nada mais doloroso que contemplar afinidade morta,
ou a ilusão de que as vivências daquela época eram afinidade.
A pessoa mudou, transformou-se por outros meios.
A vida passou por ela e fez tempestades, chuvas,
plantios de resultado diverso.

Afinidade é ter perdas semelhantes e iguais esperanças,
é conversar no silêncio, tanto das possibilidades exercidas,
quantos das impossibilidades vividas.

Afinidade é retomar a relação do ponto em que parou,
sem lamentar o tempo da separação.
Porque tempo e separação nunca existiram.
Foram apenas a oportunidade dada (tirada) pela vida,
para que a maturação comum pudesse se dar.
E para que cada pessoa pudesse e possa ser, cada vez mais,
a expressão do outro sob a forma ampliada e
refletida do eu individual aprimorado.

(Arthur da Távola)


Há muito que não escrevo. Ando sem tempo. Inventei de fazer uma matéria na pós que está me tirando o sono. Quarta-feira pedi o cancelamento da matrícula. Além de optativa são os últimos créditos que faltam. Antes de fazer esta matéria, preciso terminar a pesquisa. Fazer o exame de qualificação e aí, tudo bem, posso me envolver com algo mais trabalhoso.
Bom, o motivo de postar este texto é que hoje "reencontrei" um amigo de muitas décadas que há mais de trinta anos eu não tinha notícias. Foi MUITO bom. E exatamente como diz o texto: tempo e separação não existiram. Tenho certeza que retomaremos de onde paramos: uma amizade sincera, gostosa onde tudo pode ser dito sem medo e sem segredos.
Não foi a primeira vez que eu envio este texto para alguém e tenho certeza que não será a última. Quanta gente eu venho garimpando no meio do caminho! Invariavelmente é assim que acontece. O tempo foi apenas um hiato. É só olhar dois minutos para perceber que o carinho e a confiança continuam presentes. Foi assim com o Luiz (Pestana), com o Claudio, com a Kelly, com o Rogério e será assim com o Luis (Pomponio). Outros (re)encontros estão sendo ensaiados. Tenho certeza que é isso que vou sentir quando encontrar com o Mikka e com tantos outros amigos que quero rever.
Recadinho: Mikka, se eu não lhe enviei o texto, ele é seu também.

Lilia