domingo, 7 de fevereiro de 2010

Histórias do meu pai (I)

Meu pai, batizado Breno Faccio, com os seus 85 anos completados em dezembro passado, está se tornando cada vez mais um grande contador de histórias. Volta e meia eu gravo algumas conversas, pois um dia ainda quero transformar tudo em um livro.
O único problema está em ter certeza que o personagem principal é mesmo aquele que ele coloca, pois já peguei a mesma história com atores diferentes. Mesmo que alguma coisa seja da sua imaginação, a maior parte do que ele conta é a mais pura verdade.
De qualquer forma, vou tentar tomar cuidado com o que vou escrever, pois muitos dos personagens, apesar de já terem morrido, são personalidades principalmente do mundo político.
O Sr. Breno nasceu em Ribeirão Preto em 1924. Menino pobre, desde cedo começou a trabalhar para ajudar no sustento da casa. Diz ele que já aos 8 anos trabalhava em uma oficina mecânica sendo que aos 12 já era chefe e ganhava tanto ou mais que seu pai.
Quando tinha 16 anos arrastou a família toda para São Paulo onde montou uma oficina mecânica na região central da cidade. Como era época da guerra e havia racionamento de combustível, especializou-se em adaptar carros de passeio para o uso de gasogênio.
Não vou me aventurar aqui a explicar o que é o tal gasogênio, pois nem tenho conhecimento suficiente para isso. Só sei pelo que meu pai conta que era um aparelho transformava, por combustão, carvão vegetal em gás. Era este gás que fazia o motor funcionar. Era um processo simples e barato, porém trabalhoso e altamente poluente além de outros inconvenientes.
Um dos clientes do meu pai, que veio a ser seu amigo e companheiro de pescaria, foi o Dr. Ademar de Barros. É muito engraçado vê-lo imitando a voz do Dr. Ademar. Lembro-me bem da figura. Meu pai costumava freqüentar a sua casa e conhecia bem toda a família. Ainda hoje, quando ando com ele lá pelos lados do bairro de Higienópolis, ele se lembra perfeitamente onde eram as casas da família apesar de já terem sido demolidas e transformadas em grandes edifícios.
Outro dia ele contou que “causo” interessante que foi contado pelo Dr. Ademar. Diz ele que um figurão, acho que era um antigo Presidente da República, estava um dia pescando quando foi abatido por uma sede muito grande e estava sem água potável. E repente ele avistou uma melancia enorme. Olhou para os lados e não viu ninguém. Sacou o canivete (pescador sempre tem um) e saciou a sede comendo a tal melancia. Quando terminou não achou justo se servir sem pagar. Sacou então a carteira do bolso, pegou dinheiro que achou suficiente para cobrir o prejuízo e colocou no lugar da fruta com um bilhetinho dizendo que se o dinheiro não fosse suficiente que o dono poderia cobrar a diferença dele. Assinou e colocou o endereço. Apesar da atitude até que foi um gesto honesto. Qualquer dia destes vou perguntar a ele quem era este cidadão.
Apesar de ser um pai bravo e castrador, de vez em quando, em nossas conversas, ele fica dando conselhos. Alguns viraram um poema. Não é lá essas coisas, mas sempre me fará lembrar dele.

Conselhos do meu pai
Se o vaso quebrou,
Não adianta consertar,
A água certamente vai vazar,
Você pode não perceber,
E as flores vão murchar.

Se você ainda gosta dele,
Nem tente os cacos colar,
Jogue tudo fora,
Compre outro igual,
E comece tudo outra vez.

Novo vaso,
Novas flores,
Tudo novo,
Vida nova.
Acredite de novo,
Confie e deixa a poeira baixar.

De repente você pode perceber,
Que era isso que faltava:
Renovar,
Esquecer velhos hábitos,
Criar um novo arranjo,
Para a vida continuar.

Não se apegue em velhas promessas,
Novos rumos são bem vindos.
Você pode até com as mesmas pessoas
À mesa se sentar,
Mas troque posições,
Mude a conversa,
Faça outro cardápio para o jantar.

Quem sabe ao final
Fique tudo no lugar.
O que passou passou,
Não adianta lamentar,
Faça de uma experiência infeliz
Motivo para crescer
E nunca para parar.

Lilia Maria
10/09/2003

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