quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Chicão, minha eterna paixão

Sempre gostei muito de música. Quando era pequena, e isso já contei em algum post, deliciava-me ao ver minha mãe tocando harmônica.
Quando eu tinha mais ou menos 7 anos queria aprender a tocar piano. Na casa ao lado da nossa morava uma família de árabes. Ana, a filha mais velha, dava aulas e diversas vezes me perguntou se eu não queria aprender. Meu pai dava um monte de desculpas e sempre ficava para mais tarde.
Quando minha irmã manifestou o desejo de aprender, meu pai achou que era a hora para mim também, mas o meu encanto havia acabado. Até fui, pois alguém tinha que levar a pequena, mas não era mais o que eu queria. Nesta época eu queria aprender a tocar violão.
Apesar de ter uma “violinha” em casa, naquele momento ele achava que eu deveria continuar com o piano, e fim. Em casa era assim. A única que sempre conseguia o que queria era minha irmã. Minha mãe dizia que era mais fácil fazer o que ela queria do que agüentar a amolação. Ela era MUITO insistente. E convincente... Sempre vencia no grito. Mas isso não vem ao caso.
Quando fui estudar na EESC, um dia apareceu um curso de violão como optativo. Amei. Pedi a tal violinha emprestada e fui lá fazer o tal curso ministrado pelo maestro Geraldo Menucci.
A minha violinha foi motivo de muita chacota, a começar pelo fato que, guardada há mais de 15 anos nos armários da minha casa, ela permanecia com as cordas originais de aço e não de nylon como eram usadas então. O som não era ruim, mas de violão a minha violinha tinha muito pouco.
Acabei ganhando um violão igual ao do Pestana, meu namorado da época. Foi um presente de Natal adiantado. Nem é preciso contar que foi comprado por um precinho bastante camarada porque a cor laranja do tampo assustava os compradores. Este detalhe foi motivo de outro tanto de comentários maldosos, claro, mas o meu argumento era perfeito: o meu era único... Enfim... Apaixonei-me pelo meu laranjinha que acabou batizado de Chicão.
O nome tem a ver com a música “Meu refrão” do Chico Buarque:
Quem canta comigo,
Canta o meu refrão
Meu melhor amigo
É meu violão
Ele era (e é) o meu melhor amigo. Era bater tristeza ou alegria que lá estava abraçada com ele. Tocar eu não tocava nada, mas esquecia da vida tentando.
Minha maior dificuldade estava com a pestana... (com o Pestana eu não tinha nenhuma, tanto que continuamos amigos até hoje). Era tentar e o som sair todo desafinado. Virei desafio para a minha última professora. Ela tentava a todo custo me fazer acertar e como não conseguia ficava buscando alternativas para os acordes.
O Chicão trouxe muita música e muita alegria para a minha vida. Por anos fui responsável pelo canto nos cursos de noivos do Colégio São Luiz. Com a minha amiga Eliana Habib, montamos uma missa toda cantada com acompanhamento de violões na E.M. Celso Leite. Ela marcava um trabalho conjunto entra a escola e a paróquia de N. S. Achiropita conta a violência.
Apesar de tudo isso, sempre fui muito tímida e não tocava em público. Sempre havia uma desculpa e lá ia o Chicão para outras mãos... Eu tocava e cantava muito em casa, principalmente quando minhas filhas eram pequenas. Cantamos Vinícius para crianças de A a Z. A porta, A casa, O pato, A pulga, Valsa para uma menininha, e todas as outras faziam a delícia das nossas tardes musicais, mas era chegar alguém e o Chicão virava espectador...
Acho que por uma única vez toquei em público... Foi terrível... Montei um coral com os formandos e um aluno de outra série fazia o acompanhamento. Na hora da festa ele não veio. Aí lá fomos nós, Chicão e eu, para o palco. Sentei na escada, respirei fundo e dei os primeiros acordes da música “O caderno”. Ficou lindo apesar dos meninos se recusarem a cantar a parte da música que diz “Quando surgirem seus primeiros raios de mulher”. Foi uma grande surpresa para os pais ver a professora de matemática fazendo uma coisa que normalmente seria tarefa da professora de artes.
O Chicão passou das minhas mãos para as da minha filha Andrea. Viajou com ela, teve a sua caixa rachada, o braço empenado, deixou de ter acordoamento Augustine, mas continua com seu som lindo. E agora está de volta.
Como “quem canta os males espanta”, ando cantando de novo, mas nada novo, só as músicas velhas que me fazem mergulhar numa alegria que só eu sei.

4 comentários:

  1. Lili que interessante a sua história com o violão!
    Acho que gostamos de música, pois gostamos de poesia e ambas (música e poesia) estão intimamente ligadas.
    Creio que sejam corpo e alma. Tanto que a história da poesia nos mostra isso. Só no século XX que a música e a poesia se separaram.
    Mas... O que é interessante é que temos histórias parecidas no violão.
    Como havia lhe dito eu gostava tanto que a Dulcita me deu um. Lembro-me como fiquei feliz. Eu tinha entre 14 e 16 anos. Mas... Não tinha como ter aulas de violão e queria aprender sozinha.
    Comprei revistinhas de banca de jornal e pensei: Quem tem dom aprende sozinho!
    Para afinar, meu pai afinava o violão para mim, pois ele sabia afinar.
    A Casa em que morávamos era grande e comprida, cada vez que eu queria tocar, a família pedia para eu tocar lá no fundo da casa, rsrsrsrsrs
    E assim eu ia para os quartos do fundo, com as portas fechadas, tentar emitir algum som coerente, mas sempre deixava a desejar.
    Um dia aprendi a tocar uma música exclusivamente para me ajudar a dar uma aula que eu havia preparado, a música iria me ajudar a explorar muitos temas “Era Um Garoto”Engenheiros do Hawaii, Composição: Migliacci / Lusini.
    Lá fui eu pra escola com o meu violão.O fato é que os alunos amaram toda a aula.
    Hoje nem esta música eu sei tocar.Na verdade não sei se um dia eu soube porque os alunos eram tudo de bom e amaram a aula,o violão,mas....Tenho dúvidas se a melodia foi tocada pelo violão ou pela voz e pelo coração das crianças,rsrsrr

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  2. Quer saber? Histórias parecidas mesmo... Acho que quando toquei "o Caderno" naquela formatura não saiu nada certo, mas quem ia perceber???? Era tanta emoção naquelas 40 vozes que nem sei se alguém percebia que havia um violão marcando o compasso.

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  3. Que legal!
    Parabéns Lili.
    Coragem de tocar em uma formatura sem ter o domínio,realmente foi muito legal.
    No meu caso,foi só entre os alunos,rsrsrs

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  4. Engraçado, Marcia, eu sou muito tímida, num parece, mas sou... Mas não me coloquem na ribalta. Dois minutos depois já dominei o palco, o assunto, a platéia, tudo...

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