sábado, 1 de maio de 2010

Pedaço de Mim

Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar

Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais

Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu

Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi

Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim
Lava os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor
Adeus

Chico Buarque

1º de maio de 1994, um dia que nunca mais vou esquecer...
Nesta época eu estava prestando concurso para analista de sistemas senior na UNESP.
Na SME, a Suzy (Suzete Rodrigues Martins, minha parceira) e eu tínhamos organizado o Primeiro Encontro de Informática de SME. Na sexta-feira, 29 de abril, enquanto acontecia o evento eu estava participando de uma das provas. Quando entrei no prédio da PRODAM no Ibirapuera tive a nítida impressão que alguém falava de um acidente com o Ayrton Senna nos treinos. Olhei para os lados e não vi ninguém. Subi a rampa que levava ao primeiro andar onde ficava o auditório. Perguntei a uma das colegas o que havia acontecido com o Senna e ela contou do acidente com o piloto Rubinho Barrichelo. Tenho certeza que não foi isso que escutei.
No sábado durante o treino de classificação, um novo acidente me fez lembrar da voz que escutara no dia anterior. Roland Ratzenberger morreu depois de se chocar a 308 km/h no muro da curva Villeneuve. Todos diziam que a bruxa estava solta. E estava...
No domingo levantei cedo pois tinha que estudar para a última prova do concurso. Liguei a TV e eles estavam mostrando o Senna examinando o carro. A cara de preocupado e o olhar triste, como se estivesse despedindo da vida, apertou meu coração. Avisei a família: vou tomar banho, se o Senna morrer não vai ter prova amanhã. Falei brincando, mas no fundo sabia que era verdade.
Estava tomando banho e a corrida estava começando. De repente, "a voz"... Como um filminho eu vi o acidente com aquele carro azul acontecer. Foi tempo de sair do chuveiro e correr para sala para acompanhar os últimos segundos da corrida do Aylton. Lembro que o Ramon estava ao meu lado e torcendo para que a câmara mostrasse algum sinal de vida. Nada... Passaram-se horas até que dessem a fatídica notícia.
Parecia que o mundo desabara. Chorei copiosamente. De certa forma me sentia culpada, mesmo sabendo que não havia desejado aquilo. Ele era meu ídolo, meu exemplo de vontade e determinação.
Poucos dias depois, andando na rua, vi uma performance de dança com esta música homenageando o Ayrton. Fiquei tocada. "A saudade é o revés de um parto" nunca fez tanto sentido para mim.

Lilia Maria

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