domingo, 14 de novembro de 2010

Entrando no inferno astral...

Inferno Astral é o período de 30 dias que antecede a data do aniversário. Nessa época, dizem que estamos muito mais sensíveis e precisamos de muito mais atenção. Normalmente faço um balanço dos últimos tempos e estabeleço metas para o próximo período.
Acabei de entrar nesta fase no último sábado... Tive uma noite de sono tranqüilo, acordei abraçada ao meu travesseiro e sentindo um perfume gostoso à minha volta. Isto é um bom sinal... Não levantei correndo como faço todos os dias... Fiquei meio que sonhando... Meio que em estado de letargia... Envolvida com doces lembranças da infância e da juventude... Era como se o balanço anual estivesse começando, mas muito antes do tempo que normalmente escolho como parâmetro...
De repente me veio a idéia... Quais as dez melhores coisas da vida? Fácil? Qual nada... É muito difícil... Quando a gente pensa que acabou lá se vem mais uma lembrança e temos que começar tudo outra vez... E assim, creio que nunca conseguirei fechar esta lista, mas sei que algumas coisas, por mais que eu mude de idéia, nunca deixarão de estar lá.
Sempre fará parte desta lista o “ser mãe”. Passei por duas gravidezes. Fui, segundo o Dr. Chico Lima, uma primogesta idosa muito comportada... Não sentia nada... Não tive enjôos, vontades, dores, aliás, nem as do parto. Trabalhei até praticamente a véspera de dar a luz, dirigi até o dia de ir para a maternidade, amamentei minhas meninas por oito ou nove meses, doei leite para aleitamento materno de outros bebês e criei duas pessoinhas muito especiais... Inteligentes, bonitas, decididas, amorosas, honestas,...
A segunda coisa, como não poderia deixar de ser, é escrever um livro... Na falta de um tenho dez, mas nenhum ainda é aquele que gostaria realmente de ter feito, mas este está a caminho... De qualquer forma meu nome já faz parte do catálogo de autoridades da Biblioteca Nacional.
Claro que a terceira sempre é o plantar uma árvore. Já plantei muitas... No colégio, no sítio do meu pai, aqui em casa... De certa forma estas coisas são mais ou menos parecidas. Filhos crescem e frutificam como as árvores... Os frutos não precisam ser necessariamente netos, mas o sucesso em empreitadas que fazem vida afora. Os livros têm como frutos os ensinamentos que encerram em suas linhas e entrelinhas.
Estas três coisas são clássicas, e as outras?
Acho que ninguém pode morrer sem andar de pés descalços na areia de uma praia vendo o sol se pôr... Ou roubar leite de uma porta e tomá-lo sentada numa praça para ver o sol nascer acompanhada de uma pessoa especial.
Ninguém pode morrer sem fazer uma serenata, ou de receber uma de presente... Ou as duas coisas...
Ninguém pode morrer sem ter dado risada até chorar ou ao contrário, chorar tanto que acabe rindo de si mesmo, jogando desta forma a tristeza para o alto...
Não é possível passar a vida toda sem ter pelo menos um amigo daqueles que se contam coisas que muitas vezes não ousamos confessar nem para a própria consciência...
E a delícia de andar sem nenhum abrigo pela chuva? Pelo menos uma vez na vida tem que se fazer isso... É como se estivéssemos lavando a alma e recarregando a bateria para começarmos tudo outra vez...
Viver pelo menos uma linda história de amor também não pode faltar... Um amor daqueles que a gente guarda para sempre no coração e, se um dia ele acontece, fica gravado na pele como uma tatuagem cujo significado só nós sabemos...
Tem muitas coisas já vividas... e muitas ainda que devem vir... Se eu colocasse nesta lista tudo que penso, certamente passaria dos dez itens brincando... Gostaria muito de viajar de mochila nas costas ou cruzar as Américas de carro... De dormir ao relento numa praia deserta... De enveredar por uma mata só para ouvir o canto dos pássaros e sentir o perfume da terra molhada pelo orvalho da noite...
E assim vou me perdendo nos devaneios... Sonhos... Realizados, realizáveis, impossíveis, impraticáveis...
Lilia Maria

Um comentário:

  1. Um amigo me perguntou por e-mail qual banho de chuva eu eternizaria.
    Já respondi, mas de repente vou postar aqui...
    Início de 72... Eu prestei dois vestibulares. Mapofei e Puc.
    Mapofei era um exame pesadíssimo... Provas escritas... Resolver na íntegra uma questão era uma verdadeira maratona de conhecimentos. Eu saia da prova esgotada...
    O último dia de prova coincidia com o vestibular da PUC. Prova de múltipla escolha...
    Para quem já vinha esgotada do exame da manhã, estava sendo uma tortura... Imagina então... A Prova foi realizada dentro do espaço de exposições do Anhembi. Um enorme vazio... O barulho de folhear a prova ou o simples cair de um lápis no chão ficava quase ensurdecedor... E aí... No meio da prova... Cai aquela chuva de verão...
    Quando terminei a prova estava tão atordoada que voltei para casa a pé (do Anhembi ao Sumaré).
    As gotas da chuva se misturaram às lágrimas e foi lavando o cansaço, as idéias, o conhecimento... Cheguei em casa como uma “tavola rasa”... Deitei e dormi por 12 horas... Tinha acabado tudo graças a Deus...
    Passei nas duas provas... e escolhi São Carlos para começar a minha vida acadêmica...

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