domingo, 31 de maio de 2009

Violino

O arco estava torto,
Parecia quase morto,
De tanto trabalhar,
Só queria descansar.


O breu quase acabado,
No canto da caixa jogado,
Só queria ser guardado,
Só queria sossegar.


Na estante a partitura,
Repousava semiaberta,
Guardava a tablatura,
Uma nova música, na certa.


E o pobre violino,
Que a ribalta acolheu,
Ficou sonhando com aplausos
Que a dona recebeu.


Lilia Maria
10/12/2002


Outra poesia escrita há muito tempo.
Minha mãe, muito antes de se casar com o meu pai (lá se vão 59 anos!) tinha paixão por música e em particular por violino. Meu avô, a custa de muito sacrifício, comprou um para ela, já de segunda mão, bastante usado e meio gasto, mas com um som lindo.
Quando ela começou a namorar meu pai, certamente por ciúmes, ou do professor, Maestro Serafim Batarsa, lá de São Carlos, ou da devoção que ela tinha pela música e o seu violino, conseguiu que ela largasse tudo. Claro que ele prometeu que depois de casada ela poderia, aqui em São Paulo, voltar a estudar. Provavelmente ele deve ter dito a ela que uma das primas era casada com o Maestro Francisco Casabona e que isto facilitaria.
A promessa eu sei que foi feita, mas nunca cumprida, pelo menos não com relação ao violino. Um belo dia ele apareceu com um acordeão lindo e um professor à tiracolo. E a violinista acabou virando sanfoneira... Eu devia ter entre quatro e cinco anos na época.
O professor era um espanhol, Sr. Marcelino, conhecido como El Manito. Ele tinha vindo da Espanha não fazia muito tempo. Era sapateiro na Vila Madalena, se não me engano na Rua Girassol, e dava aulas de música à domicílio. Ele tinha um porção de filhas e um filho. O menino, que sempre o acompanhava, era um gênio musical. Volta e meia ele aparecia na TV, em programas infantis, tocando diversos instrumentos. Eu me lembro ainda do dia que ele estreou o saxofone na cozinha da minha casa (que era o lugar onde minha mãe tinha aula).
Anos depois, na época da Jovem Guarda, qual não foi a minha surpresa ao ver o filho do Sr. Marcelino, agora “batizado” com o apelido do pai, Manito, fazendo parte do conjunto “The Clevers” que depois se transformou em “Os Incríveis”.
Mas voltando ao violino, eu vi minha mãe tocá-lo uma única vez. A música era Berceuse de Brahms.
Acho que a minha filha mais velha, Luciana, herdou o gosto musical da avó. Desde muito pequena sempre pedia para aprender a tocar violino. Eu não consegui conciliar meu horário com as poucas escolas de música que ofereciam o curso.
Quando adolescente finalmente, por conta própria, ela procurou a escola e se inscreveu. A avó então, lhe deu de presente o famoso violino, agora já mais que centenário. Ele foi restaurado por um especialista que se encantou com a preciosidade.
Em 2002, quando aconteceu a primeira apresentação eu escrevi o poema, não sei se para ela ou para ele.

Nenhum comentário:

Postar um comentário