sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Solenemente

Um belo dia, no meio da minha tranquila adolescência, quando todo mundo trocava de amor e namoradinhos como quem tocava de blusas, eu, cansada de olhar para alguém que nunca olhava para mim, abro um livro e leio a primeira estrofe de um poema:

Juro por tudo quanto é jura...Juro,
Por mim, por ti, por nós...por Jesus Cristo,
Que hei de esquecer-te! Vê-me ...Estou seguro
Contra teu sólio cuja dor assisto.

Logo pensei: “- É isso... Tenho que esquecer, não dá mais para ficar esperando que ele veja que eu existo. Acho que se eu tiver firme este propósito vou conseguir um dia passar por ele sem virar o rosto para admirá-lo.” Continuei lendo o poema e fui me encantando com a jura:

E visto que dúvidas tanto...visto
Que ris do que é solene, te asseguro,
Juro mais: pelo ser em que consisto!
Por meu passado! Pelo teu futuro!

Continuei pensando: “- Ah! Se eu tomasse coragem e dissesse para ele que tomei a decisão, creio que ele duvidaria também. Ele sabe que desde que eu era menina fico assim, olhando feito boba e esperando que ele chegue perto de mim.”

Juro pela Mãe Virgem Concebida!
Pelas venturas de que vou ao encalço!
Por minha vida...Pela tua vida!

“- É isso, está jurado. Um dia ele há de perceber que eu não faço mais parte do fã-clube!!!” E aí eu li a última esfrofe...

Juro por tudo que mais amo e exalto:
E depois de uma jura tão comprida
Juro...Juro qu'estou jurando falso!...

Ri muito de mim mesma... Achei que esta última estrofe deveria ser esquecida. E nunca mais pensei no assunto.
O tempo passou, os rumos das nossas vidas mudaram, o amor adormeceu, vivi outras paixões, casei, tive minhas filhas, separei, fiquei só, e o amor de criança continuou quietinho, guardadinho... Sobrou um imenso carinho pelo mocinho que me fez suspirar milhões de vezes.
Hoje eu sei que se tivesse feito a jura e realmente esquecido o último verso, teria cometido um pecado.

Lilia Maria


Solenemente foi escrita pelo poeta Hermes Fontes (1888 / 1948)

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