terça-feira, 22 de março de 2011

Quimera

Todo meu sonho há sido uma quimera,
Minha esperança fora uma ventura,
Sonhei, amando a própria desventura,
De mais tarde voltar a primavera.

Ah! quanto me enganei, tão louco eu era,
Doce julguei a existência dura,
E longe de pensar na sepultura,
Zombei de quem a sorte não venera.

Chegou o meu tempo e agora me convenço,
Que à parte dos felizes não pertenço,
Nem sonho mais da vida a liberdade.

E as ilusões que partem tristemente,
Dizem-me a soluçar com voz plangente:
-Morre a quimera? nasce uma saudade.

André Castiglione
1916
Lembro-me, ainda menina, escutar, enternecida, minha avó contando do irmão poeta, falecido aos 24 anos, que em seu leito de morte teria composto um dos sonetos mais belos que já li.
Lembro-me também, na adolescência, ensaiar escrever alguns versos, mas que nunca mostrei a ninguém. Não acreditava que pudesse ter o talento daquele que me encantava a cada vez que lia "Quimera".
Pouca coisa consegui salvar dos seus versos, mas de todos sem dúvida este é o que mais me comove.
Lilia Maria

2 comentários:

  1. Lilia, querida,
    Seu tio era mesmo muito inspirado!
    Ainda bem que você salvoualgumas coisas dele!
    beijo grande

    ResponderExcluir
  2. Oi Vera,
    Pena que ele morreu tão cedo. Tem uma publicação, "Ribeirão Preto de outrora" que traz a história dele e deste soneto. Na época ele escrevia em alguns jornais. Eu tenho alguns poucos recortes que consegui encontrar entre as coisas da minha avó. Ele era comparado a outros grandes poetas da época. Acabou morrendo de turbeculose, como aqueles que certamente o inspiraram.
    Ainda bem que este lado boemio dele eu não herdei, mas creio que a alma apaixonada, esta sim, ela está em mim.
    Vera, eu amo a vida! Acho que nós, que de certa forma já vimos a morte nos rondando, sabemos bem o quanto ela vale.
    E vamos em frente, eu escrevendo os meus poemas e você, os seus livros maravilhosos.
    Beijos

    Lilia

    ResponderExcluir