terça-feira, 22 de março de 2011

Sala de espera

Na sala de espera,
Olhos aflitos, benditos,
Me examinam à entrada.
Vasculham minhas entranhas,
Buscam motivos, razões
Para que eu esteja ali.
E sorriem acolhedores,
Solidários, cúmplices
Na mesma batalha,
Na mesma sina.
Gestos serenos, contidos,
Dão boas vindas aos que chegam,
E encorajam silenciosamente,
Cautelosamente, docemente,
Os que parecem perdidos
Diante da nova situação.

Lilia Maria


Bem vinda à vida!

Foi assim que a técnica se despediu de mim no último dia da radioterapia.
Naquele momento eu estava renascendo. Eu tinha certeza que estava curada e que nunca mais veria em qualquer exame meu aquelas palavras que me deixaram quase sem fala alguns meses antes: carcinoma.
Foram 28 sessões. Normalmente eu era uma das últimas clientes do dia, e sempre chegava cedo com a esperança de poder ser atendida antes. O meu horário habitual era 23:30h. Ia sozinha, muitas vezes depois de um dia de mais de 12 horas de trabalho.
Escrevi este poema na sala de espera onde eu via olhos esperançosos, descrença e prostração; sorrisos, lágrimas e indignação diante da vida e da provação. Foram dias de tristeza e cansaço, dias de muita reflexão e de encontros com o mais íntimo dos meus eus. Foram dias de confissão.
Aprendi mais de mim mesma do que já havia feito em toda a minha vida. Foram dias de perdão.
Bem vinda à vida! Eu estava pronta...

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