sexta-feira, 19 de junho de 2009

Chico Buarque de Hollanda

Quando vi o Chico ao vivo pela primeira vez, eu estudava na Escola de Engenharia de São Carlos. Creio que estávamos em 1973. Diversos cantores estavam se apresentando no circuito universitário. Elis Regina, Ivan Lins, Toquinho e Vinícius, vimos um a um passar pelo ginásio de esportes da cidade em shows inesquecíveis. Mas creio que nenhum superou a expectativa que tínhamos sobre a passagem do Chico por aquele palco tão improvisado quanto acolhedor. Eu tinha um amigo muito querido, estudante de Física, Mikka, que vivia fazendo dueto comigo em canções belíssimas. Acho que "Sem Fantasia" era a que todo mundo parava para escutar a gente. Dificílima de cantar, mas a gente conseguia segurar os agudos até o fim. Um dia este meu amigo me deu de presente todos os discos do Chico que haviam sido lançados até a época. Eu continuei a coleção que guardo com carinho até hoje. Voltando a 73, no circuito universitário... Os acasos às vezes são tão oportunos! Justamente na data marcada para o show do Chico, São Carlos estava recebendo a visita do Presidente Medici. A cidade estava repleta de militares e seguranças. Os estudantes até se aventuravam a fazer algumas provocações. À noite fomos ao ginásio de esportes para o tão esperado show. Eu estava sentada no chão da quadra colada à área que servia de palco. De repente o Mikka sentou ao meu lado e apontou o fim das arquibancadas. Militares estavam estrategicamente colocados. Ele sussurrou para mim: mandaram um recado para o Chico, pediram para ele ter cuidado com o que canta e o que fala senão ele sai daqui direto para o DOPS. Aí eu me lamentei: - Que pena, então ele não vai cantar "Apesar de você"? A resposta era tudo o que eu queria ouvir: "Ele não, mas nós vamos." Esta música, lançada em 1970, havia sido proibida e o compacto recolhido. Entre as preciosidades que o Mikka me presenteou, estava este disco. A letra nós sabíamos de cor e era muito própria para a ocasião. Pois então, o show aconteceu na mais perfeita ordem. O público estava extasiado. Volta e meia alguém pedia para ele cantar a tal música proibida, e sempre vinha outra e outra e outra. Depois de todos os bis, quando o Chico estava deixando o palco, em uníssono os estudantes começaram a cantar a música tão esperada. Ele parou e esperou quieto. Ele não podia se juntar a nós. Quando chegamos aos versos finais: Como vai abafar, Nosso coro a cantar, Na sua frente. o público todo se deliciou aplaudindo e percebendo que a milícia estava se retirando. Eles não tinham nada a fazer. Tudo isso só para desejar a este meu ídolo Feliz Aniversário. Aliás, tenho que estender este cumprimento a duas outras pessoas: Mauricio Moscatelli e Ramon Ortiz.



2 comentários:

  1. Mikka
    Obrigada pelo seu e-mail sobre esta postagem.
    Confesso que fiquei surpresa com a história dos bastidores que infelizmentenão posso publicar aqui. Eu sabia parte dela mas não quem eram os atores principais.
    Bjs

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