domingo, 7 de junho de 2009

Matemática Moderna incita à subversão

Entre os meus “guardados” encontrei um pequeno recorte de jornal de 1980. Creio que quem me enviou não se ateve muito ao conteúdo. A intenção era fazer uma brincadeira, já que o meu pai sempre me chamava de comunista. O título do artigo é o mesmo do “post” e o conteúdo é o que segue:

A idéia de subversão pelo ensino de matemática moderna já havia surgido há alguns anos e volta à baila através de duas revistas argentinas, tendo como origem geográfica sempre a mesma província de Córdoba,
Segundo a revista “Science for the People” (março/abril, 1980), as autoridades provinciais baixaram um novo decreto proibindo o ensino de matemática moderna na província. As razões são as seguintes: seus postulados estão a favor da lógica formal e favorecem a geminação de uma ideologia subversiva cuja linguagem utiliza palavras “matriz” e “vetor”, consideradas pelas autoridades “tipicamente marxistas”. A “pior” das palavras é “conjunto” por evocar a reunião, a coletividade, a massa!
Decididamente a matemática moderna consegue desagradar a gregos e troianos. Na Rússia ela é considerada muito burguesa.

O ensino da Matemática sempre foi uma grande preocupação para os educadores. Antes de 1950, os professores desta disciplina ocupavam-se com os cálculos aritméticos, as identidades trigonométricas, problemas de enunciados grandes e complicados, demonstrações de teoremas de geometria e resolução de problemas sem utilidade prática. No início da década de 60, ocorre uma mudança, influenciada por uma discussão internacional acerca de uma nova abordagem para o ensino de Matemática. Este Movimento internacional torna-se conhecido como Movimento da Matemática Moderna (MMM).
Quando ingressei no antigo ginásio, em 1964, a maioria dos professores de matemática do estado de São Paulo estava comprometida com a mudança de curso do ensino dessa disciplina. Dentro do MMM, a construção do conhecimento matemático era feito a partir dos conceitos básicos da Teoria dos Conjuntos. A crítica que sempre foi feita a este método de ensino é que os conceitos são muito abstratos e que levam a um formalismo matemático desnecessário no ensino básico.
Muitos anos depois, já formada e trabalhando em sala de aula, tornei-me uma defensora feroz da continuidade dos preceitos fundamentais do MMM. A construção da matemática a partir da lógica embutida na Teoria dos Conjuntos, a meu ver, tornava claro muitos dos conceitos que antes eram decorados. O problema não era o que se ensinava, mas como se ensinava. Conceitos abstratos podem ser facilmente absorvidos quando se parte do concreto para a generalização.
Pensando nas experiências que os alunos deveriam ter para sair do concreto para o abstrato, em 1985 tentei criar na escola em que era titular um “laboratório de matemática”. A idéia era que os alunos fizessem experiências ou que participassem de brincadeiras para depois, refletindo sobre a atividade, construíssem definições e conceitos.
Meu experimento durou exatamente dois dias. A diretora da escola, alegando que os alunos faziam muito barulho, proibiu a atividade. Conversando depois com os meus colegas, eles disseram que na sala de aula não se escutava o que estava acontecendo no pátio. Insisti com a diretora dizendo que o barulho não estava incomodando o andamento das outras aulas. Aí ela “disparou”:
- Incomoda a mim... Menina! Aprenda: escola só é boa quando não tem aluno dentro!
O choque foi tão grande que a partir deste dia decidi buscar outros horizontes.
Apenas para encerrar, 1964 foi o ano do golpe militar. Se a matemática moderna era subversiva, obvio que aqui no Brasil, mais cedo ou mais tarde, ela deixaria de ser ensinada ou então, seria ensinada, mas não de forma adequada. Um assunto a se pensar...

4 comentários:

  1. Oi Lilia

    Só hoje pude ver o seu blog: Uma graça!!!
    A aulinha de matemática é bem pitoresca e nos remota a uma época aonde encontrei semelhanças também na minha vida...também ouvi de uma diretora, quase na mesma na época...eu com meus teatros e outras coisas mais envolvendo meus alunos, que já estava atrapalhando demais o andamento da escola...que parasse com isso! Na verdade, o que me dá muita saudade, é de uma época aonde os jovens eram irreverentes, desafiadores, contestadores e principalmente participantes. Longe disso os nossos jovens de hoje dos big brother da vida!!
    Continue nos brindando com seus poemas..
    Bjs
    Eliana

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  2. Oi Eliana!
    Na verdade a aulinha de matemática ficou no post anterior quando eu falo dos paradoxos (tempo e movimento).
    O post de hoje tb é sobre matemática, daí a confusão.
    As semelhanças entre as nossas histórias ficam por conta de que estávamos na mesma escola nesta época. De certa forma compartilhávamos dos mesmos ideais. Não foi por acaso que nos tornamos amigas.
    Um dia ainda vou contar outras histórias daquela época. Lembra da campanha contra a violência que levou a gente a montar a parte cantada de uma missa?
    Acho importante que estas coisas apareçam.
    Quem sabe outras pessoas lendo estas esperiências tenham idéias para melhorar e educação...
    Continue acompanhando...
    Bjs e obrigada pelo comentário.

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  3. Oi Lilia
    Eu não quis arriscar, mas a sua diretora foi a mesma que a minha uma ditadora insensível....ela deixou marcas na minha vida, tanto é que quando li seu texto pensei...acho que deve ser daquela.....
    Lembro muito bem da missa...foi linda; me lembro também do Festival de Música e do aluno Willian que era da TFP e virou roqueiro...UAU!!!!!
    Eliana

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  4. Que maldade... Nem contei quem me mandou o artigo... Foi o Ramon, na época ainda namorado.

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