segunda-feira, 18 de abril de 2011

Os ombros suportam o mundo

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

Carlos Drummond de Andrade


Quando ainda eu estava no colégio, em um certo dezembro de muitas despedidas tristes, Elba, minha amiga do coração, fez mais uma publicação da Editora Lyma, com esta poesia do Drummond.

Hoje ao receber um e-mail meio triste desta amiga querida, resgatei no meu velho diário as palavras de carinho que ela me enviou em formato de um pequeno livro que guardo até hoje junto com inúmeros bilhetes que contam a história da nossa adolescência feliz.

Elba, o post de hoje é para você. Que as mesmas palavras que à época me serviram de alento, possam inspirá-la na sua caminhada.

Um beijo enorme,


Lilia Maria

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