terça-feira, 5 de abril de 2011

Um livro escrito, um filho nascido

Esta não será uma história com princípio, meio e fim. Só o meio já está de bom tamanho. Então não importa agora como eu cheguei à cena ou o que se passou depois dela. Importa, talvez, alguns detalhes.
Um desses detalhes, importante para entender o que se passou, fica por conta de saber que à época não havia computadores pessoais. Para se editar um livro ou se usava a boa e velha máquina de escrever ou se escrevia à mão para depois alguém passar com letras gráficas para os fotolitos que iriam gerar a produção em série. Não sei bem o processo, pois eu era apenas uma parte do grupo de autoria.
Magda, Edson e eu trabalhávamos durante o período da manhã. Chegávamos cedo. Discutíamos a pauta, estudávamos como iríamos abordar o assunto, quais as figuras que iríamos usar, que exercícios iríamos disponibilizar, e quem iria fazer o que. Quando o Prof. Scipione chegava, mostrávamos a ele, recebíamos as críticas, às vezes boas, às vezes más, e assim que ele liberava cada um ia cumprir a sua parte.
Foram quatro volumes do livro “Matemática”, absolutamente manuscritos em folhas de sulfite A4. A letra tinha que ser impecável, redondinha, bonita, legível. Eu usava caneta-tinteiro, pois só assim para escrever devagar e com cuidado.
A cada página escrita, fazíamos a revisão, e se houvesse erro, dificilmente consertávamos, escrevíamos tudo outra vez. Parecia trabalho dos escravos de Jó. Era um exercício de paciência e capricho. Foi um ano maravilhoso. Ganhávamos pouco, mas aprendemos muito mais do que a Universidade pôde nos dar.
Um dia o trabalho chegou ao final. Quando colocamos a última folha do último livro na pilha, um olhou para o outro e tivemos a mesma idéia: jogar tudo para o ar e vê-las cair gostosamente pairando no ar.
Não sei se foi sonho ou se realmente aconteceu, mas tenho certeza que vivi o momento. Tenho certeza que as folhas se espalharam por toda a sala e que recolhemos tudo às gargalhadas.
Se na época não aconteceu, isso acontecerá agora... Assim que imprimir a última folha da minha dissertação de mestrado, vou jogá-la para cima e esperar que cada folha caia junto com as lágrimas de alívio que isso trará.
Um livro é um filho, e este será o 13º, contado com as minhas duas filhas. E será tão querido quanto os outros, mesmo não sendo o primogênito, mesmo eu tendo certeza que não será o caçula. Outros virão e todos me darão um enorme prazer.

Lilia Maria

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