quinta-feira, 19 de maio de 2011

Conto de outono (II)

- Um tostão pelos seus pensamentos! Diria minha mãe agora se me visse sentada aqui. Eu não os daria nem por alguns milhões. Os segredos que agora guardo em minh’alma estão selados para sempre. São apenas meus e de mais ninguém. Não quero mais dividi-los. Fiquei muito vulnerável na última vez. Espero ter aprendido a lição.
Continuo sentada naquela cadeira da varanda. Há quanto tempo estou aqui? Minutos, horas, dias? Parece que já se passou uma vida, uma eternidade. E eu continuo querendo me lembrar onde eu estava naquele dia.
Uma centelha de luz ilumina meus pensamentos. Ainda escuto aquela voz ecoando em meus ouvidos. As palavras são desencontradas, não consigo juntá-las e formar uma frase que faça sentido. Sempre falta alguma coisa, são como enigmas que tenho que decifrar... Ou adivinhar...
Estou cansada. Preciso dormir. Faz séculos que não deito no meio da minha cama e ocupo todo o seu espaço. Hoje eu quero largueza. Os lençóis brancos têm cheiro de lavanda. Os travesseiros de plumas foram afofados. O cobertor, tão branco quanto os lençóis, dão um toque de leveza e aconchego. Sonhos virão acalentar o meu coração que há muito precisa de paz.
Apago os candeeiros, olho mais uma vez para a cadeira vazia e faço a última oração do dia, relembrando uma velha prece irlandesa.





“Que a estrada se abra à sua frente,
Que o vento sopre levemente em suas costas,
Que o sol brilhe morno e suave em sua face,
Que a chuva caia de mansinho em seus campos,
E, até que nos encontremos, de novo...
Que Deus lhe guarde nas palmas de suas mãos!"





Lilia Maria

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