quinta-feira, 19 de maio de 2011

Conto de outono (III)

Acordo devagar, espreguiço-me languidamente e percebo que estou sozinha. O travesseiro ao meu lado ainda guarda a marca da cabeça que há pouco ainda estava repousada nele, mas está frio. Tão frio quanto o rosto cinzelado em pedra que vejo quando fecho os olhos.
Não, ninguém dormiu aqui. A porta continua fechada, mas a presença foi sentida a noite toda. Eu escutei a respiração macia de quem dorme em paz. Eu senti a mão pousada em meu seio. Eu senti...
Como assim? Quem esteve aqui? Sonhos não deixam marcas nos lençóis. Nem em travesseiros... Enlouqueci?
Abro a janela, respiro o ar frio da manhã, e volto para o quentinho do cobertor. Há de haver uma explicação. Preciso me lembrar onde estava quando gravei aquela imagem. Preciso decifrar aquela voz. Que segredos ela me contou?
A minha cabeça parece vazia. Não há mais recordações. Elas foram banidas ou guardadas em algum lugar do meu subconsciente. Não quero viver assim, sem saber o que fazer de mim.
Vou buscar o rosto de pedra. Vou buscar as palavras que faltam. Alguma coisa há de fazer sentido em toda esta história.








Lilia Maria

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