sábado, 11 de junho de 2011

Conto de outono V - final

De volta à casa. Nada hoje me fez lembrar onde eu estava e o que eu fazia quando gravei a imagem do rosto de pedra. Preciso esquecer.
Deito em meu travesseiro, fecho os olhos e relaxo. Lembranças voltam como um sonho. Vejo a mocinha vestida de preto. Ela tenta escapar de quem está no caminho. Um passo em falso, um tropeço e dois braços fortes a seguram antes da queda. Assustada ela levanta os olhos e mal consegue ver quem a abraça. Está trêmula. Tão trêmula quanto os braços que a enlaçam. É pura emoção. Não adianta se debater. Está cativa, entregue. Suas pernas não obedecem ao comando da mente. O coração bate forte. Apenas um segundo, mas parece toda uma vida. O beijo é inevitável. Os lábios se tocam de forma doce e gentil. E se entreabrem para saborear em êxtase o momento de abandono.
Digo a mim mesma:
- Ô louca! Não mude a realidade do passado ao sabor dos seus devaneios. Não aconteceu e nada faz isso mudar...
O sonho se apaga. Deixo o sono me arrebatar. Preciso descansar.
Não quero mais lembrar de quem é o rosto de pedra. Não quero mais decifrar aquela voz. A realidade se impõe mais uma vez. Um último verso paira no ar:



Se mesmo no final da vida
Meu lindo sonho se realizar,
Direi feliz, não foi perdida
Toda esperança que vivi a sonhar.





Lilia Maria

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