quinta-feira, 23 de junho de 2011

O dia em que eu virei torcedora do Santos

Não foi ontem não. Nem foi no dia de alguma vitória espetacular da era Pelé. Faz muito, muito tempo.
Sou descendente de italianos tanto por parte de pai como de mãe. Mas os Faccio’s sempre me pareceram mais italianos que brasileiros. E como bons “italianos” eram fieis torcedores do Palestra. Sim, Palestra Itália, o nome abrasileirado, Palmeiras, não fazia parte do vocabulário da família.
Meu pai sempre se orgulhou de ter sido jogador do time. Dizem que lá no museu do futebol tem algumas fotos dele com o resto do elenco em algumas partidas. Um dia ainda vou lá para conferir.
Meu avô era um torcedor tão fanático que assistia às partidas ao vivo, colado na televisão. E depois, tarde da noite, quando exibiam os VTs, ele continuava torcendo como se a qualquer momento fosse acontecer uma jogada diferente daquela que ele já havia visto.
Lembro-me que aos domingos, depois de nos reunirmos para o almoço de família, à tarde os homens se juntavam para ver futebol, as mulheres conversavam fazendo tricô e nós, as crianças, brincávamos no quintal. Mas, naquele dia estávamos todos na frente da TV. Creio que era algum final de torneio. Santos e Palmeiras disputavam o título. Eu devia ter mais ou menos três ou quatro anos, não mais do que isso. Estava sentada no chão ao lado do meu irmão que era um santista declarado.
O jogo nervoso, disputado, que para alegria dos mais velhos foi vencido pelo Palmeiras. Meu irmão estava choroso, triste pela derrota do seu time. Meu avô, dono de uma sensibilidade de fazer inveja a qualquer elefante despencando em um carrinho de rolimãs solto numa ladeira, bateu na cabeça dele e sentenciou: - Passe a torcer para um time de gente... Ele retrucou prontamente: - A partir de hoje sou corintiano! O Corinthians era o time do coração de toda a família da minha mãe.
Eu, que sempre fui solidária com a causa dos fracos e oprimidos desde a mais tenra idade, não falei nada. Apenas abracei o meu irmão e pensei com os meus botões: - A partir de hoje sou santista.
Nunca escondi isso. Vibrei feliz a cada vitória, me calei diante das derrotas, mas nunca admiti que ninguém, nem de um lado da família nem do outro me falasse absolutamente nada, muito menos que escolhessem por mim o time pelo qual deveria torcer por livre e espontânea pressão.





Lilia Maria

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