segunda-feira, 13 de junho de 2011

Vô Antonio

Hoje, dia de Santo Antonio, acordei lembrando-me do Antonio que fez parte de minha vida e que jamais irei esquecer.
Um homem alto, forte, enérgico, com os cabelos brancos já rareando nas têmporas, sua elegância natural, seu bigode cuidado com carinho, seus olhos vivos e brilhantes, sua paciência, sua sabedoria.
Lembro-me bem dele chegando em minha casa, com seu paletó e gravata, como se fosse a uma festa. Sempre acompanhado da fiel companheira de todas as horas, minha avó Maria, realmente era uma festa cada uma das suas visitas. Eu era pequena, tinha mais ou menos 4 ou 5 anos. Mal ele chegava e sentava numa das cadeiras da cozinha, eu me aboletava em suas pernas para brincar de cavalinho. Uma delícia! Não creio que haja entre seus 17 netos, quem nunca tenha feito isso.
Nesta época, enquanto meu pai manteve o primeiro sítio de Cotia, sempre houve uma festa, com muita música, quentão e pipoca, em sua homenagem. Ele preparava o mastro das bandeirolas, trazia na bagagem rojões que soltava a cada convidado que chegava.
Foram anos de férias inesquecíveis, tanto no sítio como em São Carlos. A sua maior alegria era ver a casa cheia, era sentar à mesa reunindo a família com comida farta. Vovó era uma cozinheira de mão cheia, acho que herdei dela o gosto de fazer o prato preferido das pessoas que quero bem.
Quando fui estudar na EESC, ele ficava incomodado ao me ver vestindo calça comprida ou bermudinhas para ir à universidade ou mesmo sair para encontrar os amigos. Ele dizia que daquele jeito eu nunca ia ter um namorado. Um dia ele me disse que quando fosse a São Paulo na próxima vez iria me comprar roupas adequadas. Ri muito imaginando como seria vestir roupas parecidas com as da minha avó. Vovó nunca usou calça ou mesmo maiô na praia. Ele se orgulhava todo ao dizer que as pernas dela só ele havia visto.
Um dia resolvi fazer a tal roupa adequada. Comprei um corte de tecido com flores miúdas e mandei fazer um vestidinho bastante comportado, de mangas compridas, milhões de botõezinhos e no meio dos joelhos. Me vesti assim, e fui jantar. Ele bateu palmas ao me ver. Mas, para sua surpresa (ou tristeza) a alegria durou pouco. Assim que terminei de jantar, coloquei outra roupa e fui passear. Só o vi sentado em sua cadeira que balanço e dizendo com ar de insatisfação: essa não tem jeito não.
Nunca imaginei minha vida sem os dois, e já fazem mais de vinte anos que eles se foram. Vovô morreu de velhice. Vovó nunca se conformou. Seu travesseiro continuou ao seu lado, seu lugar à mesa nunca foi ocupado, ela nunca deixou a sua casa e acabou morrendo de amor alguns anos depois.
Meu Antonio inesquecível viverá para sempre nas lembranças de seus filhos, netos e dos bisnetos que o conheceram. Todos nós temos histórias para contar e certamente nenhuma é triste.
A sua bênção meu avô!





Lilia Maria

2 comentários:

  1. Perfeito...Lindo demais..uma pena ter convivido tão pouco tempo com ele, uma pessoa mto especial...amo demais!
    Barbara Pucci - bisneta
    (colado do FB)

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  2. Saudadesssss de tudo isso. saudades de meus amados avos, da minha infacia no sitio, das ferias que eles tiravam com os netos... Tempos de FELICIDADE e muita alegria que compartilhamos com eles.
    Li fiquei comovida com seu relato. quanta saudades me deu.
    Bjosss

    Regina Alfaro - neta
    (colado do FB)

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