Duas contas no meu conto, contam
A história do meu cantar.
Na noite escura, iluminam
Os sonhos que eu sonhar.
Duas contas, duas pedras preciosas,
... Quem eu insisto em guardar.
Lilia Maria
Gosto de escrever... Poemas, pensamentos, crônicas, histórias, folhas soltas... Folhas Soltas é também o nome de um livro de poemas cujo projeto é reuni-los em folhas avulsas dentro de uma caixa.
O que agora está na página de dedicatória é para esta cidade que eu amo de paixão, apesar de todos os seus problemas, sua vida caótica, alucinada e assustadoramente apaixonante.Eu o chamava de tio, ele me chamava de colega. Dedicar este trabalho ao Professor e Engenheiro Carlos Rodrigues Ladeira (in memoriam) é uma justa homenagem a quem sempre me incentivou a chegar mais longe.
Seja lá onde esteja, sei que hoje ele está vibrando com mais esta vitória.
À minha cidade
São Paulo é uma metrópole imensa, intensa, que se desdobra em muitas “São Paulos” de paisagens diferentes, com problemas e virtudes que ora divergem, ora se aglutinam e fazem cada vez mais com que seus administradores tenham que estratificá-la e dividi-la para poderem planejar, governar e dominar as suas diversidades.
Depois de ficar uma semana estudando Geometria Esférica, mais uma vez volto a dizer: Pitágoras salva!!!! Ai meu velho e bom Pitágoras, que saudades de você...
Que saudades de poder afirmar categoricamente que a soma dos ângulos internos de um triângulo qualquer é SEMPRE 180º... De repente me aparece pela frente um tal de triângulo esférico, que mudou a minha vida... Jamais serei a mesma... E a matemática que eu achava tão certinha, está virando a ciências do mais ou menos... É mais ou menos assim...
E bota seno, e acha cosseno, com sono ou sem sono, lá vou eu calcular a medida do arco dentro do circulo máximo, que de repente nem é círculo... É uma mera circunferência cujo raio é igual ao da esfera-mãe e que pode até ser considerada como reta dependendo da situação.
Não entenderam nada???? Nem eu... Quer dizer... Entender eu entendi, mas de que valeu?
Depois de uma semana, calcula aqui e ali, puxa no Excel e pronto... Pronto???? Nada pronto... Tudo errado... Vamos começar outra vez... Mas vou voltar ao plano original... Pitágoras salva!!!! Quer saber??? Esquecerei os tais ângulos curvos, a superfície do meu triângulo esférico, e vou fazer de conta que vivo na segunda dimensão.
Lilia Maria
--I--
Gosto da umidade do campo
Depois de uma tarde de chuva,
Do frescor que fica no ar,
Do cheiro da terra molhada,
Das gotas que caem das árvores
Como a garoa tardia
Que sobrou do temporal.
--II--
A brisa macia
Que soprou na madrugada,
Contou-me segredos
Que jamais ousei pensar.
E gelou meu coração saber
Que posso não mais encontrar
O elo que eu temia perder.
--III--
Quando eu morrer
Não vou deixar herança
Nem legados.
Deixo apenas uma boa história,
Que se for bem contada
Pode render uns trocados.
Lilia Maria
Quem tece a teia,
Tece a trama.
Dê novelo à aranha
E ela vai o engolir.
Teia tecida
Com finos fios,
Parecem frágeis ao tato,
Mas são fortes o suficiente
Para formar um casulo
Em torno da presa fácil
Que se deixa consumir.
Não adianta se debater
Preso à teia tenaz
De tênues fios de trama forte
Feitos para não deixar escapar.
Lilia Maria
Assim muitas vezes me parece a vida, uma enorme teia, ora somos aranha, ora pequenas presas.
Às vezes a rebeldia
Parecia irreverência,
Às vezes, infantilidade.
Às vezes era de uma pureza angelical,
Outras vezes um sacana sem igual.
Mas eu gostava de cada uma das versões.
Como você pode ir embora,
Sem ao menos se despedir?
Sem me dar o último abraço,
Sem termos aquela conversa
Que me foi muito cobrada?
Como você se foi sem me avisar?
Agora você vai ter que me esperar,
E me explicar o que foi que aconteceu.
Como sempre vou perdoar
Mais esta rebeldia.
Não importa onde você vai estar,
Um dia a gente vai se encontrar.
Reviveremos o imenso carinho
Que sempre esteve em cada gesto.
Mas enquanto isso não acontece,
Para sempre você há de viver,
No meu coração,
Na minha saudade.
Lilia Maria
Inúmeras vezes tropecei em balcões de gás, que saídos das mãos de alguma criança, ganharam as alturas e quando o gás foi se retraindo, perderam a força e voltaram ao chão. Pensei muito nessas ocasiões nessas crianças que perderam o motivo daquela alegria momentânea de tê-los e na tristeza de vê-los voando para longe do alcance de suas mãos.
Acho que é por isso que prefiro as pipas. Elas podem ficar dias e dias flutuando no ar, e para resgatá-las basta recolher o fio que dá a elas a certeza de um dia poder voltar.
Lembro-me bem que na época que estudava na Escola de Engenharia de São Carlos, meu tio Duílio, encantado que era também com as pipas, construiu uma para suas filhas. Linda! Colorida, de rabiola esvoaçante, bem construída.
Linha 24 na carretilha, e lá foi ela aos ares. Não tinha nessa época os malucos do cerol, que se divertem cortando a linha das outras só para vê-las cair.
As meninas se divertiram ao ver aquela belezoca ganhar altura e planar majestosa ao sabor dos ventos. Meu tio amarrou a linha num dos caibros do telhado da varanda e deixou a pipa flutuando no céu. Volta e meia íamos lá para sentir a força que a mantinha indo pra lá e pra cá.
Foram dias e dias sem tirá-la de lá. E nós só acompanhávamos encantadas cada uma das piruetas que fazia quando ele resolvia dar mais linha ou recolhê-la quando o vento não era suficiente para sustentá-la. Mas, ao recolher, sempre uma nova corrente fazia com que ela subisse de novo, e voltasse a planar.
Não me lembro como tudo terminou, mas foi uma experiência que sempre me fez pensar.
Lilia Maria
Envolvida em suaves pensamentos
Que me transportam para longe daqui,
Percorro bosques e campinas
Buscando o que sobrou de mim.
Não há pontos de parada
Nem tempo para se redimir
De decisões que me pareciam desencontradas
E que ao mesmo tempo foram tão acertadas.
Vou chegando ao fim da jornada
Com uma bagagem que não pesa em meus ombros,
Pois o saber não é um fardo
E sim um motivo de orgulho e prazer,
Mas que traz consigo a responsabilidade
De saber usá-lo com retidão.
Já não sou a mesma de ontem,
Meus olhos vêem tudo sob outro prisma,
Com mais critérios, com mais exatidão.
Não sei se gosto deste novo eu.
Lilia Maria
Estou a um passo de acabar de escrever a minha dissertação de mestrado.
E depois? O que virá? Um novo curso, um novo trabalho? O meu livro de memórias? Finalmente coloco "Folhas Soltas" no papel?
Ainda é cedo para pensar, mas já estou sentindo saudades do que ainda não passou....